Talvez seja a última entrevista de um orgão de comunicação social a Joan Garriga, dado que foi publicada há pouco mais de dois meses no jornal espanhol Marca. Fala da sombra de um homem caído, arruinado, que tenta reerguer-se, mas sabe que será dificil, e provavelmente não acontecerá. Há amargura e algum ressentimento, mas também já tem a ideia de que não irá aguentar muito mais tempo, dado que tinha sofrido dois ataques cardíacos dois anos antes.
A entrevista, feita por Jaime Martin, é honesta, amargurada - e talvez chocante para quem desconhecia - está aqui no seu original.
ISTO NÃO IRÁ ACABAR BEM
Declara-se inocente do tráfico de drogas, mas confessa-se um consumidor nesta entrevista de MARCA. Garriga faz uma dramática prenominação sobre a sua vida.
Joan Garriga dá a cara. Não se esconde. Admite as dificuldades que está passando e vê poucas soluções. Não se corta e critica muita gente. Admite o consumo, mas nega que esteja envolvido no tráfico de estupfacientes. Da mesma forma, nega também que tenha sido detido na semana passada. Em Jerez, na World GP Bike Legends, pode esquecer de tudo isso ao andar com a Ducati que fez a sua última corrida, as 24 Horas de Montmeló. Os fãs rodeiam-no e adoram-no.
P. Como está de saude? Superados os enfartes de há dois anos?
R. Sim, melhor. Estou bem, por agora.
P. Os exames te dizem que andas bem?
R. Para te ser honesto, não fiz nenhum. Se tenho algo claro é que todos morrermos um dia. Mias tarde ou mais cedo, morreremos. Da mesma forma que nascemos, um dia acaba. Então... sofrer? Para quê? Encontro-me bem. De inicio, nem tanto. Medicaram-me e eu não estava nada bem. Disse a mim mesmo: 'Não tomo mais nada'. E não tomei mais. Mexia muito com o metabolismo do meu corpo. Nunca gostei dos medicamentos, sempre fui assim.
P. Ultimamente andamos a ler coisas que não gostamos de ler (publicou-se que estava acusado de tráfico de droga)
R. Isso é mentira. Fui buscar um fato de competição (o Ducados de 92), que te tinha sido oferecido por um fã meu. E não o encontrava. Fui ter a um bairro problemático de Barcelona, de onde se trafica. Andei por lá por vários dias e reperei que estava a ser seguido. Viram-me por ali e pronto. Apanharam-me pela fama que tinha. Falei com ele por umas horas e eles vieram que não tinha nada a ver com aquilo.
Mas ali não vão os mais finos. No domingo saiu um documentário em Telecinco ("A Última Volta", onde se narrava a sua rivalidade com Sito Pons em 1988 e sua vida posterior) e foram lá só por minha causa.
P. E só foram lá por ti?
R. Os catalães são asquerosos. E olha que sou catalão, hein? Digo-te isso claramente.
P. De que vives agora? No documentário dizia que vivias da venda de t-shirts...
R. Isso já acabou. Nem isso rendeu.
P. De algum evento como o World GP Bike Legends?
R. Faço o que posso. Em casa tinha uma oficina, mas agora há nada.
P. Nem se dedica a reparar nada?
R. Não. Lixaram-me. Metem o tema da droga sempre que podem. Não me escondo. Com esta idade... se fazem uma festa... consumo e pronto. De traficar e essas coisas... por favor. Chegaram a dizer-me em Barcelona que fazia de correio. As pessoas podem ser muito cruéis. E o que se passa é que lixa uma pessoa. E muito duro, fecham-te as portas. Diz lá se não conheces ninguém que tenha na sua familia alguém com problemas de drogas? Eu sei que há em todas, e sou um santo. Vivi na época da heroína. Ainda há meninos-bem, que aos 45 anos acordam na casa dos seus pais a perguntar que querem fazer quando forem grandes. Aí está o problema.
P. Ao menos, com os fãs, está tudo bem.
R. Sim, mas incomoda. E os políticos não ajudam. Quando tive o enfarte, sairam os politicos dizendo 'tem calma, vamos resolver o problema'. E nada. Não fizeram nada. O secretário de Mas, que é um imbecil - e te digo logo que é um imprestável - prometeu logo um apartamento e um trabalho em Vic. Tanta independência e tanta treta. É penoso. Que se deixem esta coisas mesquinhas e resolvam os problemas do país. E no mundo.
(Interrompem a entrevista para perguntar se iria conduzir a furgoneta com a sua moto até casa)
A mim tiraram todos os pontos da carta num só golpe. E ainda me disseram 'A carta também te tiraremos'. Então 'andava' com o 250 pelo interior da Catalunha. Foram os Mossos. Gostaria muito que isto acabasse. Não sei como, mas que não vai acabar bem, não vai.
P. Vai ser aos poucos.
R. Vai ser pior.
P. Ao menos as pessoas se recordam de si. Chamam-no para eventos, está com os fãs.
R. Mas sabe mal por causa da minha filha. Ela tem de aguentar tudo isto, ainda mais sabendo como é o seu pai.
P. E o Sito Pons, ao menos ajuda?
R. Sito? Nada! Ofereceu-me um fato do seu filho Axel. Um dia destes meto-os num leilão. Essa é a ajuda do Sito.
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