segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Os tempos que vivemos: Sobre a abundância do petróleo e as novas energias (parte 1)

Hoje fui à uma bomba de gasolina semelhante á da foto. Apesar das circunstâncias excepcionais dela (era uma bomba de supermercado, o preço é onze cêntimos mais baixo do que uma bomba normal) reparei que o preço do gasóleo está muito perto da marca do um euro por litro. Isso já não acontece desde 2009, há seis anos. A diferença para o carro a gasolina ali é grande – agora são 28 cêntimos, mas já foram 32 – mas o que importa dizer é que vivemos um tempo diferente, onde a ideia de que o petróleo está caro poderá desaparecer.

Para quem não anda a ver as noticias da bolsa, devo contar que desde há pouco mais de um ano, a cotação do barril de petróleo anda em queda livre, desde os 110 dólares até aos atuais 48 dólares (no momento em que escrevo estas linhas) Já esteve bem mais baixo, chegou a estar a 38 dólares por barril. Contudo, a meio do mês passado, apareceram noticias que certos analistas afirmaram que o preço poderá baixar ainda mais, para valores a rondar os vinte dólares por barril, algo que seria impensável... há muito tempo. Talvez desde o final do século passado. 

As razões para esta baixa da cotação são várias, mas há duas que saltam à vista: o excesso de produção e a entrada de petróleo vindo de outras fontes, como o “fracking”, que é muito usado nos Estados Unidos. Este excesso de produção vem desde meados do ano passado, quando os países que constituem a OPEP, os países exportadores de petróleo, decidiram manter os seus níveis de produção, apesar de avisos para que cortassem, por causa da inundação dos barris provenientes do “fracking”, uma medida apoiada pelo governo Obama para cortar a dependência petrolífera dos americanos das petromonarquias do Golfo Persico ou de outros lugares como a Nigéria, Angola ou Venezuela, cujos regimes não “musculados” e notoriamente corruptos. Não sou só eu que digo, basta ver os números da Transparency International e outros semelhantes para ver o lugar que esses países ocupam nas listas. Estão bem lá no fundo.

Mas há razões politicas por trás desta abundância: se forem ler revistas como a Foregin Policy e outras, esta “corrida até ao fundo” dos últimos meses tem a ver com a estratégia da Arábia Saudita, a maior produtora mundial, de prejudicar os interesses do seu rival do outro lado do Golfo, o Irão, que também e um enorme exportador de petróleo, mas que sofre com as sanções ocidentais, que afetam também a capacidade de comprar peças de substituição para as suas refinarias. A Arábia Saudita pode aguentar isto por causa das vastas reservas de dinheiro que acumulou durante a década próspera do petróleo alto, e que são as mais altas do mundo. Fala-se de 12 biliões de biliões de dólares, o que é inimaginável.

E é por causa dessa estratégia – que é apoiada por outras petromonarquias como o Bahrein, Qatar e Emirados Árabes – que toda e qualquer tentativa de alterar a produção por parte de outros produtores como Irão, Angola e Venezuela, altamente dependentes do ouro negro nos seus orçamentos é bloqueada nas reuniões da OPEP, em Viena. Contudo, o que se falava no inicio do ano é que isto seria temporário e que o corte na produção seria inevitável, com o regresso do preço do crude aos níveis “normais” dali a seis meses. Contudo, chegamos a setembro… e tudo indica que acontecerá o contrário.

Rumores correm que, quando os Estados Unidos levantarem o embargo ao Irão (por causa do acordo nuclear assinado em julho), este inundará os mercados com petróleo ainda mais barato, fazendo cair o preço do crude para metade do que está atualmente. Se semanas antes, os analistas esperavam um preço que estava na casa dos 60 dólares, agora as coisas parecem caminhar para o seu contrário. Para piorar as coisas, os grandes mercados consumidores – Estados Unidos, Europa e China – não estão a absorver toda esta “inundação”, e não tem a ver com crises: os EUA podem acabar o ano com um crescimento de 4 a 5 por cento, a Europa poderá ter dois por cento de média e a China pode rondar os oito por cento, apesar da crise bolsista que vive.

Nesta corrida para o fundo, muitos esperam quem será o primeiro a quebrar. Há sinais: Venezuela e Angola estão a pedir há meses na OPEP para diminuir a produção, mas os sauditas negaram essas pretensões até agora.

Então, se o mercado não responde como se ensina nos livros de economia, o que será? Uma grande razão é o peso dos impostos no preço final da gasolina. Cito o exemplo português, onde 61 por cento do preço final vem apenas dos impostos. Ou seja, a cada dez euros, damos 6.10 euros para o Estado, e isso é bastante. Podem imaginar quanto custaria um litro de gasóleo (diesel) ou gasolina se fossemos uma petromonarquia, como no Golfo Pérsico… mas não somos. Aliás, estatisticamente, temos o sétimo preço mais caro da União Europeia, e este ano encareceu mais sete cêntimos por causa do “imposto verde”, colocado para sustentar os custos ambientais…

(continua)

2 comentários:

  1. Com isto tudo lá vai a Angola voltar ao que era antes, nada. Assim pode ser que percam um bocado a mania que são melhores que os outros.

    ResponderEliminar
  2. Tambem é para enfraquecer a Russia, na luta EUA/UE pelo controlo da Ukrania, foi assim durante os anos 80, para enfraquecer ainda mais o já decrepito regime comunista...

    ResponderEliminar

Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...