quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A bomba atómica da Red Bull?

Todos acompanham com maior ou menor grau a novela da Red Bull com os seus motores. Depois de ter rasgado o seu acordo com a Renault, e da Ferrari ter dito que não daria motores para eles em 2016 (daria, em vez disso, à Toro Rosso) e da Mercedes ter preferido dar à Manor em vez deles, há duas chances em cima da mesa: pura e simplesmente ir embora - e arriscam a quebrar um acordo para ficar até 2020 e pagar mais de 500 milhões de libras de indemnização - ou então, vender uma das suas equipas e aguentar por melhores dias.

Contudo, o jornalista Jonathan Noble avança hoje por outra solução mais atrevida: a Red Bull criar a sua própria categoria, uma rival à Formula 1. Escrevendo no site Motorsport, Noble afirma que a ideia não é tão descabida assim, e até é mais barata do que parece.

Eis um excerto do artigo:

"Você não pode simplesmente modificar o foco da Formula 1 para outro projeto completamente diferente.  Mas e se Mateschitz não estiver pensando em uma mudança tão radical assim, mas ao invés disse alocar os seus engenheiros em uma nova experiência automobilística?

Os chefes da Formula 1 não podem fazer nada para salvar a Red Bull, então por que não a empresa não tomar a iniciativa e criar uma série de automobilismo exatamente como quer? O Campeonato Mundial da Red Bull.

O envolvimento da Red Bull na Formula 1 não permite que a companhia siga o seu protocolo de marketing usual. A empresa sempre atua em eventos desportivos sendo dona da atividade, para maximizar os lucros.

Tem se falado durante muitos anos que a Red Bull pode mudar a sua situação de dona de equipa para dona da categoria - mas nunca nenhum movimento aconteceu neste sentido. Mas e se Mateschitz virar as costas para a Formula 1, o que o impedirá de tentar criar uma categoria grandiosa no automobilismo?

O dinheiro certamente não é um problema, já que a Red Bull acumula lucros enormes em suas atividades. A categoria poderia ter apoio da FIA, desde que siga o código desportivo e demandas de segurança exigidas pela entidade.

Os motores poderiam vir da Cosworth. Barulhentos V8 e V10 levariam ao delírio os fãs que continuam lamentando a adoção dos silenciosos motores turbo V6 da atual Formula 1.

Os carros, muito mais rápidos do que os atuais da Formula 1, além de visualmente mais agressivos, seriam desenhados pelo mago Adrian Newey e construídos em Milton Keynes.

A primeira leva de pilotos: Daniel Ricciardo, Daniil Kvyat, Max Verstappen e Carlos Sainz Jr. - teriam prioridade e um bom recrutamento levaria a ótimos nomes que já tiveram ligação com a empresa, como Mark Webber e Sébastien Buemi [aqui também incluiria António Félix da Costa]

Em termos de pistas, enquanto os chefes da Formula 1 podem dificultar a entrada da nova categoria nos atuais circuitos do calendário, por outro lado há um grande número de pistas órfãs: Adelaide, Hockenheim, Magny-Cours, Brands Hatch, Estoril, Turquia, Zandvoort, Indianápolis e talvez até Monza e Silverstone, que estão em situação delicada na F1.


E a promoção será fácil. A atual estrutura de marketing da Red Bull espalharia a categoria por todo o mundo, permitindo baratos contratos com TVs e promovendo a série amplamente na internet, meio que atualmente, a Formula 1 vira as costas."

A ideia não seria má de todo, mas o problema é que o cínico dentro de ti te diz que isto não é mais do que uma jogada de uma equipa - importante, é certo, mas uma equipa - para conseguir as coisas da maneira como quer. E a Red Bull é poderosa na Formula 1, pois tem quatro dos vinte lugares na grelha, vinte por cento do pelotão atual. E quem está a acompanhar esta novela desde o inicio sabe que a marca está a forçar a barra para que as coisas sejam feitas à maneira deles, como fez a Ferrari nos tempos de Luca de Montezemolo, que sempre conseguiu o que queria, ao ameaçar Bernie Ecclestone que se iria embora do campeonato caso não conseguisse que dessem o dinheiro que queria. E conseguiu: todos os anos, ainda antes de fazerem o primeiro parafuso do carro, eles têm cem milhões de euros disponibilizados pela FOM, graças a Bernie.

A fortuna de Dietrich Mateschitz é enorme, é certo, a a Formula 1 merece uma espécie de rivalidade em termos de competição, que nos últimos 40 anos cresceu bastante à conta do octogenário Ecclestone (vai fazer 85 anos no próximo dia 28), mas há perigos à vista. Fazer uma categoria por "vingança" nunca é boa, para começar.

Vamos supor que acontece a "bomba atómica". OK, eles dizem que saem da Formula 1 no final de 2016 e fazem um calendário paralelo para começar em 2017, o mais cedo possível. Quantos carros queriam fazer? Vamos colocar em 20, para ser pequeno e móvel. Todos com motor Cosworth V8, e se calhar com chassis da marca, feitos em Milton Keynes. Os pilotos da "cantera" entrariam, com mais alguns pelo caminho. Far-se-ia uma calendário de, vamos supor, dez corridas duplas, metade na Europa, mais dois nos Estados Unidos, Brasil, Austrália e Japão. Nada de China, por agora. As regras seriam parecidas com a Formula 1, mas haveria maior liberdade em termos de regulamentos aerodinâmicos. Lembram-se dos carros desenhados pelo Adrian Newey para o Gran Turismo 6?

Ter uma coisa destas é bem tentador, mas a história já nos disse que isso não é bom. Pelo contrário, é suficientemente prejudicial aos dois lados e poderá permitir a ascensão de outras categorias. Foi o que aconteceu com a CART em 1994, quando Tony George se zangou com a categoria e decidiu criar a IRL. Durou 14 anos, até que em 2008, George comprou a falida ChampCar e os unificou. Mas por essa altura, os estragos tinham sido feitos: ambas as categorias perderam espaço a favor da NASCAR e não recuperaram totalmente desde então.

No caso de haver uma cisão Formula 1/Red Bull Racing, há várias categorias que poderiam sair beneficiadas, duas delas à partida: o Mundial de Endurance (WEC) e a Formula E. Apesar de serem categorias diferentes - a primeira tem corridas de seis horas, ou seja, três Grandes Prémios, enquanto que a segunda tem um calendário e uma motorização diferente - estão rapidamente a ganhar adeptos, seguindo os seus próprios caminhos e evitando os erros que a Formula 1 cometeu. E falamos de duas categorias que nem sequer existiam... há menos de três anos.

No entanto, sobre este assunto, aconselho a ler outro jornalista que entende bem do riscado, como o Joe Saward. Ontem, ele escrevia no seu blog sobre esse assunto e referiu o seguinte: 

"No entanto, a Red Bull poderia simplesmente manter as aparências por mais cinco anos. Poderia permanecer da mesma forma como é agora, mas a empresa poderia reduzir a praticamente nada, enquanto a propriedade da equipa poderia ser entregue a Christian Horner. Assim, a Red Bull Racing cumpriria os termos do acordo [assinado com a FOM]. Alternativamente, poderia reduzir seus gastos e procurar um comprador, de modo a obter algum dinheiro com isto (não que o dinheiro seja algo que a Red Bull precise).

Lembro-vos que em 2001, a Sauber e a Red Bull entraram em desacordo por causa de Enrique Bernoldi e Kimi Raikkonen. Red Bull detinha a equipa e era o principal patrocinador, mas Peter Sauber tinha direito de veto. Nesse caso, a Red Bull manteve-se nos carros até o final de 2004, embora a relação tenha ficado quebrada. Dietrich Mateschitz decidiu comprar uma nova equipa (adquirindo a Jaguar Racing), enquanto que as suas acções foram passadas ​​para o banco Credit Suisse. A minha ideia é que a Red Bull precisa de Formula 1 tanto quanto a Formula 1 precisa da Red Bull e assim tudo isto é simplesmente uma tentativa de obter um melhor negócio no curto prazo.

Como a Red Bull e Renault não vão ter um casamento de longa duração, este precisa encontrar uma alternativa adequada a longo prazo. A escolha óbvia a este respeito ainda é o Grupo Volkswagen, mesmo que a empresa ainda esteja a recuperar do escândalo de emissões de diesel nos Estados Unidos. O grupo Volkswagen precisa agora é de uma maneira rápida para reconstruir suas credenciais como uma empresa amiga do ambiente e pode-se imaginar que os estrategistas estejam a dizer que a resposta é provavelmente ser vista como o líder de mercado algo diferente do diesel. Super-híbridos eficientes são uma boa alternativa e Formula 1 é o lugar perfeito para passar essa mensagem. 

No entanto, isso não pode ser feito da noite para o dia e que para a Audi assuma o papel, seria necessário um par de anos para ter todo o equipamento e as pessoas necessárias para assumir tudo. No entanto, tal seria possível em 2018 e assim por Red Bull realmente só precisa de alguns motores cliente nos próximos dois anos num nível tão sensível quanto possível. A equipe pode perder algumas pessoas, mas se há um objetivo a longo prazo e ambição e dinheiro, então a maior parte das pessoas ficará".

Quero acreditar que no fim de tudo, o bom senso prevalecerá, e não aconteçam soluções extremas.

2 comentários:

  1. Ta ai uma coisa que eu queria realmente ver.

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  2. A Red Bull pode tanto salvar como destruir a F1, e isso é mais interessante do que o próprio campeonato.
    Somebody please bring my popcorn!

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...