segunda-feira, 5 de outubro de 2015

No Nobres do Grid deste mês...

Imaginem um tipo muito veloz num carro sem patrocínios. Imaginem uma pessoa com a ambição de vencer as 500 Milhas de Indianápolis, batendo um recorde que pertencia a Michael Andretti e ser o "Rookie do Ano". E no final, acabar fugitivo e na prisão por quase 30 anos porque tinha levado para os Estados Unidos barcos cheios de... marijuana. E levar prisão perpétua porque o governo queria que fosse um exemplo de uma guerra que, nos dias de hoje, reconhece que não pode ganhar. A história de Randy Lanier merece um filme, tipicamente de uma década de 80 que hoje em dia, muitos gostariam de ter vivido. E só falta Hollywood fazer um filme sobre isso.

Randy Lanier, tal como John Paul Sr. e John Paul Jr, bem como Billy Whittington, são um grupo de pilotos e donos de equipa que para financiar as suas carreiras na velocidade, recorreram ao tráfico ilegal de marijuana e a barcos potentes para o fazer. Aliás, em meados dessa década, os entendidos costumavam chamar à popular IMSA - tinha Paul Newman como piloto, lembre-se - de "International Marijuana Smugglers Association". E é sobre toda esta gente que começo a falar hoje por aqui, pois por exemplo, no caso de Lanier, foi a história de um "underdog" que acabou terrivelmente mal.

(...)

Foi em 1984 que Lanier realmente explodiu como piloto. Bill Whittington e o seu irmão Dale, ambos de Fort Lauderdale, na Florida, decidiram fazer a sua propria equipa, a Blue Thunder Racing Team, com dois March e a ajuda do engenheiro Keith Leyton, decidiram fazer os carros os melhores do pelotão, independentemente dos custos. Os carros eram preparados por Ryan Falconer, que reconstruia os motores no final de cada corrida, mas havia mais um detalhe: os carros não tinham qualquer patrocinio e não eram apoiados pela fábrica. E a temporada foi impressionante: seis vitórias, onze pódios e o campeonato, com 189 pontos. Era a história da Cinderella, o "underdog" que os americanos tanto adoram.

Mas havia um lado obscuro. Lembram-se da acusação de posse de droga aos 16 anos? Pois bem, Lanier não parou por ali. Enquanto trabalhava na construção civil, também fazia negócios nessa área, ao ponto de aos 20 anos de idade, poder ter um barco veloz de 18 mil dólares para uso pessoal. Contudo, um amigo seu sugeriu que poderia aproveitar para montar um negócio de aluguer de barcos e aproveitar para ir às Bahamas e trazer carregamentos de cannabis para território americano. Para isso se juntou a Ben Kramer, piloto de barcos "offshore", e juntos já levavam carregamentos de cannabis em barcos de 21 metros não só das Bahamas, mas também da Colombia. O que não se sabia era que Kramer era sobrinho-neto de Meyer Lansky, um dos patrões da Máfia, que tinha lucrado com o jogo e a prostituição na Cuba pré-castrista e na Florida.

Para piorar as coisas, as pessoas começaram a desconfiar da Blue Thunder, uma equipa sem patrocinio, numa categoria onde, para seres campeão, tinhas de gastar pelo menos 750 mil dólares em dois carros, mecânicos, engenheiros e preparadores, entre outros. Lanier afirmava que a sua fonte de rendimento era a tal firma de aluguer de barcos, mas já nessa altura, fazia as viagens até às Bahamas e na viagem de regresso trazia nos seus porões aquele tabaco que ri...

Em 1985, decide mudar de ares e ir atrás do sonho: vencer as 500 Milhas de Indianápolis. Consegue uma vaga na Arciero Racing, que corria com um Lola T900, e começa a fazer a adaptação aos monolugares. "Queria vencer as 500 Milhas de Indianápolis. Aquele era o meu objetivo. Não existe nada comparável naquela competição no mundo".

Contudo, em 1985, os comissários da Indy vetaram a participação de Lanier citando a sua "falta de experiência em monolugares", o que seria algo irónico para alguém que tinha sido o campeão da IMSA no ano anterior... O resto da temporada não foi fácil, com vários abandonos e sem pontuar. No ano seguinte, a Arciero arranjou um March 86C, projetado por um jovem Adrian Newey, e os resultados de Lanier melhoraram bastante, especialmente nas 500 Milhas de Indianápolis. Ali, mostrou toda a sua velocidade e colocou o seu carro num impressionante décimo lugar, batendo o recorde de média para um "rookie", de 209,964 milhas por hora, batendo um recorde obtido dois anos antes por Michael Andretti. A corrida foi sem surpresas, acabando no nono posto final. (...)

Correr no automobilismo não é fácil, por ser um desporto caro e dependente de patrocinios para sobreviver. Só quem for muito rico ou quem tiver uma boa carteira da patrocinadores é que pode alcançar os seus objetivos, sejam eles correr na Formula 1 ou noutras categorias. Para Randy Lanier, o seu objetivo era ganhar as 500 Milhas de Indianápolis e juntar a sua cara aos outros existentes no Troféu Borg-Warner. A sua carreira foi veloz, sendo campeão da IMSA em 1984, juntamente com os irmãos Whittington. Mas havia um senão: tudo isso isso era sustentado com o tráfico de droga, especialmente marijuana, vindo da Colombia, para os Estados Unidos.

Quando a DEA descobriu o esquema, causando um escândalo dentro da comunidade automobilistica - e nos próprios Estados Unidos - Lanier fugiu do país durante ano e meio até ser apanhado pela autoridades federais em Antigua, sendo depois extraditado para os Estados Unidos, onde foi condenado a prisão perpétua, uma pena especialmente dura para tráfico, em 1988. Lanier esteve em prisões federais durante 25 anos até que em outubro de 2014, sem explicação aparente, teve liberdade condicional, tendo ficado o seu processo secreto por parte das autoridades federais. Agora vive na Florida, trabalhando num museu automóvel de um dos seus parceiros nas 24 Horas de Le Mans em 1982.

O resto desta incrível história pode ler este mês no site Nobres do Grid.

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