Bernie Ecclestone não tem amigos... e também não tem inimigos. E os seus aliados ao longo da história são os que eram mais convenientes para conseguir aquilo que sempre queria. Essa sua habilidade de "fuínha" foi o que lhe permitiu ter toda esta longevidade na Formula 1, aos 85 anos de idade. Portanto, a noticia desta noite vinda de Paris, após a reunião do Conselho Mundial da FIA, só surpreende quem não entende muito dele ou da Formula 1, mas que pode ser explicada da seguinte maneira: para cortar o poder do Grupo de Estratégia, Ecclestone aliou-se a Jean Todt e à FIA para fazer um conjunto de leis que permitem ultrapassar as competências do Grupo de Estratégia, que acolhe as seis principais construtoras da Formula 1.
E o anuncio foi feito esta noite, calmamente, num comunicado à imprensa. A essa, deixo-vos com o que diz o Luiz Fernando Ramos, o Ico:
"Após uma decisão quase unânime do Conselho Mundial da FIA, os dois receberam poderes para 'fazer recomendações e decisões em relação a uma série de assuntos urgentes da F-1, como a governança, as unidades de potência e a redução de custos'.
Na prática, a decisão tomada dentro dos domínios de Todt acaba com os poderes do chamado 'Grupo Estratégico da Fórmula 1', que tinha também a representação das principais equipes do grid, além de representantes dos promotores de corridas e dos patrocinadores envolvidos com a categoria. Agora as decisões poderão ser tomadas unilateralmente pela dupla, sem passar pela aprovação da 'Comissão da F-1', quase uma extensão do Grupo Estratégico. (...)
A FIA deu poderes a ambos e até ao final do mês de janeiro, eles terão de apresentar um plano relacionado com os assuntos acima referidos, num ano que vai ter o maior calendário de sempre: 21 corridas. Vamos a ver que planos mirabolantes eles tem para "reformar" a Formula 1 atual a partir de 2017...
Já agora, um contexto histórico: o tal Grupo de Estratégia tinha sido criado em 2011, na nova encarnação do Acordo de Concórdia, com a bênção de... Bernie Ecclestone, com o objetivo de impedir as decisões da FIA, que já era liderada por... Jean Todt. As voltas que isto dá. E digo isso porque em 2014, Todt queria que os custos de desenvolvimento dos motores fossem cortados, mas o Grupo de Estratégia vetou tal ideia, com a "benção" do anãozinho britânico.
Agora, os anões voltaram a ter poder absoluto. Todas as decisões referentes a regulamentos passam para eles, e isso aconteceu por causa de coisa casos, um atrás do outro: primeiro, os problemas que a Red Bull teve em arranjar motor (depois de ter cortado com a Renault, Mercedes e Ferrari não lhe deram motores, quase como uma espécie de solidariedade), e depois, o veto de uma proposta conjunta entre Todt e Ecclestone para que existisse motores "versão cliente" para que pudessem ser usados caso as equipas necessitassem, e também para cortar nos custos de construir um motor, que neste momento andam num nível proibitivo porque as equipas assim o querem.
Claro que isto ainda é novo e fresco. Não só a temporada terminou agora, como as coisas para a próxima temporada estão mais ou menos definidas. Até a Red Bull já tem o seu motor (isto, caso a Renault decida continuar na Formula 1), mas toda a gente sabe que eles decidiram gastar mais algumas dezenas de milhões de libras para construir o seu próprio motor, com a ajuda de Mario Illien... e da TAG. Não se surpreendam se virem em 2017 num Red Bull- TAG Ilmor...
Mas voltando ao assunto do momento, é certo que as equipas não vão ficar quietas e caladas em relação a este acordo. Afinal de contas, estão a ver desaparecer a sua chance de controlo desta competição a favor de dois velhos fuinhas, numa aliança que tem tanta solidez como um castelo de areia seca. Nada os impede de voltarem a fazer uma coisa parecida com a FOTA, em 2009, e guerrearem até ao ponto de eles se separarem e tentar fazer uma competição paralela, prejudicando fortemente a Formula 1. Já aconteceu antes, pode acontecer agora.
E às vezes me questiono sobre, se isto pode acontecer, o Acordo de Concórdia ainda existe? Bom, só sei é que no Hemisfério Norte, já chegou o inverno...
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