A corrida ao fundo do poço no preço do petróleo do qual assistimos está a acontecer desde julho de 2014, quando este chegou ao pico dos 114 dólares por barril. Se muitos achavam que era algo temporário, do qual voltaria ao normal em um ano, a realidade é que estamos em janeiro de 2016 e o preço está a chegar abaixo dos 30 dólares, chegando a niveis de 2003. Se muitos acharam que a era do petróleo barato era algo que tinha ficado nos livros de história, parece que a realidade está contrariar essa frase... e parece não parar por aqui.
Analistas estão a desenhar um cenário pessimista, referindo que a chance de este chegar a preços abaixo dos vinte dólares antes do final deste inverno. Os grandes países produtores, como a Arábia Saudita, não pretendem abrir mão de quotas de marcado, e a OPEP, que nos seus tempos áureos atuava como um cartel eficaz, não está mais unida, e para piorar as coisas, o conflito entre os sauditas e o Irão faz com que as coisas tendem a piorar, especialmente quando os iranianos irão colocar mais três milhões de barris no mercado, fazendo baixar ainda mais os preços.
E o que isto tem com a Formula 1? Muita coisa, e não só por causa da gasolina que colocam para alimentar os motores. A politica de Bernie Ecclestone foi de levar o calendário às petro-monarquias do Golfo Persico e outras petro-repúblicas, e agora, parece que as coisas poderão sair pela culatra. Se os russos ainda aguentam as coisas, e os barenitas e Abu Dhabi aparentam ainda aguentar o impacto, e haver rumores de que o primeiro piloto indonésio da Formula 1 vai ser abastecido com dinheiro da Petramina, a gasolineira do país, por outro lado, há quem esteja a rebentar. É sabido dos rumores sobre a PDVSA e Pastor Maldonado, num país que vive agitação social de todo o tipo, ainda mais quando a oposição conquistou uma maioria de dois terços na Assembléia Nacional, algo que o seu presidente faz de tudo para tirar esse poder, numa escalada de tensão do qual poucos prevêm onde acabará.
Mas outro foco de tensão apareceu de um lugar do qual poucos ouviram falar, mas está no calendário da Formula 1 este ano: Azerbeijão. Outra petro-republica (ex-republica soviética) com um regime duvidoso, organizou no ano passado os Jogos Europeus e apostou na Formula 1 construindo um circuito urbano no centro de Baku, a capital, depois de pedir a Hermann Tilke que o desenhasse.A corrida vai acontecer a 19 de junho, precisamente no fim de semana das 24 Horas de Le Mans...
Mas também não saberemos como estará o Azerbeijão por essa altura. É que desde o inicio do ano que os mercados estão a pressionar o manat, a moeda local, e o Banco Central azeri decidiu deixar cair a moeda, desvalorizando-a em cerca de 30 por cento, encarecendo o nível de vida para os locais, e estes começaram a sair à rua em protesto. O governo está a reprimir esses protestos e não há noticias sobre o assunto a passar na imprensa internacional, e pessoalmente nem saberia isso se não lesse o que o Joe Saward escreve sobre o assunto.
É certo que do lado da organização, a corrida está paga e à partida, eles irão lá correr, mas desconhece-se em que medida esta agitação social não poderá crescer e se tornar em algo gigantesco. É que o preço do barril de crude não subirá velozmente até junho para acalmar os ânimos, e para piorar as coisas, ainda não vimos os planos futuros das petrolíferas no campo dos patrocínios, pois provavelmente vão ter de ser repensados...
Uma coisa é certa: a década áurea da petrolândia poderá ter terminado. Resta saber quem se safará melhor desta decadência.
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