quinta-feira, 24 de março de 2016

A imagem do dia

Lembro-me de ter visto a corrida, mas não sabia que ele estava com dificuldades em engatar marchas. Lembro-vos que em 1991, só a Ferrari e a Williams é que tinham as caixas de velocidades semi-automáticas. Vi que tudo aquilo tinha sido uma espécie de alivio de que "a longa espera tinha acabado", especialmente depois do acidente do ano anterior, em que foi impaciente e enfiou o carro na traseira do Tyrrell de Satoru Nakajima, partindo o aileron dianteiro e entregou a corrida para Alain Prost.

Só depois é que se soube da verdade: caixa engatada na sexta velocidade, a habilidade com os pés para evitar que o carro ficasse parado na pista, e a exigência física tal que ele acabou com caimbrãs no seu corpo, nas suas pernas. Claro, os céticos desconfiaram, mas quando três anos depois, em Barcelona, Michael Schumacher passou por dificuldade semelhante em Barcelona, quando o seu carro ficou eternamente engatado em quinta marcha, e continuou - perdendo o comando para Damon Hill, mas acabando no segundo lugar - sabia que tal coisa era possível. Foi uma espécie de "vingança póstuma", pois como sabem, Senna tinha morrido duas corridas antes, em Imola.

Não sei dizer se é a vitória mais épica dele. É certamente uma das suas vitórias épicas, como a primeira, no Estoril, ou a de Donington Park. Mas estas vitórias épicas tapam algumas coisas que também deveriam ter tido destaque, mas não aconteceu. Senna só ganhou porque o Williams de Ricciardo Patrese desenvolveu problemas, pois estava a ganhar um ritmo de quatro segundos por volta, e a duas do fim, esse ritmo abrandou, levando ao veterano italiano a abdicar da vitória. Ou seja, aquilo que Hill fez porque o seu carro estava mais saudável, Patrese não. De uma certa forma, essa é uma parte esquecida, como é o facto de Rubens Barrichello ter passado nove carros na primeira volta no circuito inglês, menos cinco do que Senna, só porque as câmaras estavam focadas em ver o piloto da McLaren-Cosworth passar os "invenciveis" Williams-Renault. Acontece.

Mas sabendo ou não da história no seu todo não elimina, nem diminui aquilo que ele fez. Porque é disso que são feitos os geniais. Vencer contra todas as probabilidades é um feito ainda maior do que vencer naturalmente, com o melhor carro. É isso que faz entrar na história. Juan Manuel Fangio venceu 24 corridas, mas todos se lembram da sua última, em Nurburgring, aos 46 anos de idade, porque foi além dos limites. Ou Jackie Stewart, homem de 27 vitórias, fazer a msma coisa no mesmo local, onze anos depois, porque tinha tudo para morrer e não aconteceu. Venceu com grande avanço para a concorrência, debaixo de nevoeiro e chuva intensa.

E esta vitória épica aconteceu, faz hoje 25 anos. Na sua casa, em Interlagos. 

2 comentários:

  1. A Williams em 1991 tambem ja tinha a caixa semi-automatica, foi por isso que o mansel perdeu a corrida do canadá, ganha pelo Piquet...

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  2. Patrese diminui o ritmo por causa da pista molhada e não porque tinha problemas no carro

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Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...