Uma semana depois do feito de Romain Grosjean em Melbourne, muitos se lembraram daquilo que fez Jenson Button no mesmo local, sete anos antes, quando pegou no seu Brawn e o levou até à vitória, acompanhado do seu companheiro de equipa, Rubens Barrichello. Os mais velhos lembraram-se de Jody Scheckter e do seu Wolf, que fez o mesmo em Buenos Aires, quase 40 anos antes. Mas isso era bem mais frequente, especialmente nos primórdios da Formula 1. Basta recordar que a Alfa Romeo e Mercedes ganharam a sua primeira corrida na categoria, com duplas e triplas, e a Ferrari subiu ao pódio na sua primeira corrida em que participou.
Então, como fazer disto algo memorável? Simples, colocamos o critério na sua raridade, ou seja, reduzimos as coisas para os últimos 45 anos, ou seja a partir de 1970, para mostrar estes cinco exemplos que colocaremos mais abaixo. A ordem é cronológica.
1 - Jackie Stewart, March, GP da África do Sul de 1970
A March surgiu no inverno de 1970, graças aos esforços de quatro britânicos: Alan Rees, Graham Coaker, Robin Herd e Max Mosley. A marca não era mais do que a junção das iniciais dos seus apelidos, e a ideia era de construir chassis para a Formula 1, Formula 2 e Formula 3. Nesse primeiro ano, havia uma equipa oficial, para Chris Amon e Jo Siffert (pago pela Porsche para que ele não fosse para a Ferrari), mas vendeu chassis para outros, como Ken Tyrrell, que não queria abdicar do seu contrato com a Cosworth e largou a Matra.
Jackie Stewart andou bem nos testes de inverno e a 1 de março, em Kyalami, conseguiu a pole-position, numa primeira linha onde ainda tinha Amon no segundo posto e Siffert no nono lugar da grelha. Na corrida, apenas Stewart chegou ao fim, sendo terceiro classificado, atrás de Jack Brabham e do McLaren de Denny Hulme. Siffert foi apenas décimo, enquanto que Amon acabou por desistir.
2 - Jackie Stewart, Tyrrell, GP do Canadá de 1970
Não é todos os dias que vemos um piloto envolvido na história de duas equipas, ao dar nas vistas nas primeiras corridas. Durante a temporada de 1970, Stewart, apesar de ter conseguido uma vitória em Espanha, estava insatisfeito com o carro e achou que era altura de Ken Tyrrell fazer o seu próprio chassis, algo do qual sempre se mostrou relutante. Com um engenheiro a bordo, Derek Gardner, este andou ao longo do verão desse ano a construir na garagem da sua casa, aquilo que viria ser o 001, o primeiro projeto da Tyrrell.
Baseado num 701, o 001 tornou-se num carro veloz nas mãos do escocês, e a sua estreia foi marcada para o final da temporada, quando Stewart já não podia alcançar o campeonato. Estreando-se em Mont-Tremblant, palco do GP do Canadá nesse ano, apanhou todos desprevenidos quando faz a pole-position, na frente do Ferrari de Jacky Ickx.
A corrida de Stewart não foi longe: uma quebra de eixo, na volta 31, terminou as coisas por ali, mas o potencial do carro tinha sido mostrado. No ano seguinte, ele ganharia seis corridas e seria campeão do mundo pela segunda vez.
3 - George Follmer, Shadow, GP da África do Sul de 1973
A Shadow era a aventura do americano Don Nichols, que tinha feito a equipa em 1968 (como Advanced Vehicule Systems) para competir na Can-Am. Nos dois anos seguintes, concentrou a sua atenção nessa modalidade, e apesar de serem dominados pela McLaren e pela Porsche, Nichols tinha personagens como o britânico Jackie Oliver, que o fez pensar na ideia de correr na Europa, mais concretamente na Formula 1.
Desenhado por Tony Southgate (ex-BRM), o Shadow DN1 era um carro simples, com motor Cosworth, e estes só estariam prontos na terceira prova da temporada de 1973, o GP da África do Sul. Jackie Oliver seria um dos pilotos, com o outro a ser o veterano americano George Follmer (um dos mais velhos de sempre, aos 39 anos!), ambos pilotos da marca na Can-Am. Com o apoio da petrolífera UOP, os carros negros tiveram desempenhos modestos nos treinos, mas na corrida, o resultado foi melhor, com Follmer usando a sua veterania para acabar na sexta posição, recolhendo um ponto.
Follmer faria melhor na corrida seguinte, em Espanha, conseguindo um terceiro lugar e o primeiro pódio da marca, enquanto que Oliver ainda daria outro terceiro posto no Canadá.
4 - Jody Scheckter, Wolf, GP da Argentina de 1977
Walter Wolf (n.1939) era um canadiano de origem austríaca que tinha enriquecido a construir e vender brocas para a industria petrolifera. Apaixonado pelo automobilismo, meteu-se na Formula 1 a partir de 1975, comprando metade das ações da Williams. Pouco depois, despachou Frank Williams e contratou algumas pessoas, como Peter Warr (ex-Lotus) e o projetista Harvey Postlethwaithe (ex-Hesketh), para ajudar a construir o que seria o Wolf WR1.
O carro era convencional, e tinha o sempre fiável Cosworth V8, a na sua primeira corrida do ano, em Buenos Aires, eram dos poucos no pelotão que tinha um carro novo. Scheckter colocou o carro no décimo posto da grelha e pensava-se que poderia fazer uma corrida decente até aos pontos.
Contudo, não foi assim: o sul-africano conseguiu ser veloz e aproveitou o cansaço de alguns e os problemas mecânicos dos outros e acabou a corrida na primeira posição, espantando o mundo da Formula 1, que não esperava nada disso. Na realidade, aproveitou bem o cansaço de José Carlo Pace, no seu Brabham, para o apanhar, a 15 voltas do fim, e também aproveitou as seis quebras mecânicas que houve na sua frente para subir na classificação.
Scheckter venceria mais duas corridas nessa temporada (Mónaco e Canadá) e acabaria vice-campeão do mundo, com 55 pontos. E aquela corrida ficaria nos livros de história para sempre.
5 - Jenson Button, Brawn GP, GP da Austrália de 2009
No final de 2008, a Honda decidiu abandonar precipitadamente a Formula 1, devido aos maus resultados na pista e os prejuízos em termos de vendas nos carros de estrada. Parecia que tudo estaria acabado, mas um grupo de pessoas, liderados pelo projetista Ross Brawn, contratado no inicio desse ano, queriam provar que a decisão da marca em ir-se embora tinha sido errada.
Numa altura em que iriam entrar novos regulamentos, Brawn decidiu desenhar um chassis que fosse capaz de bater a concorrência, com os motores que tinha consigo. O chassis estava a ficar pronto quando os japoneses anunciaram a decisão, e parecia que seria um projeto nado-morto, e aos pilotos Jenson Button e Rubens Barrichello estariam condenados ao desemprego. Mas ao longo do inverno europeu, conseguiu-se arranjar uma solução de emergência: Brawn ficaria com a equipa, teria o seu nome, arranjaria motores Mercedes - verificou-se depois que havia um acordo para ficar com a equipa no final da temporada - e a Honda cumpriria com os seus compromissos, pelo menos para 2009.
Max Mosley até "fechou os olhos" quando descobriu que o difusor traseiro não seria tão "conforme os regulamentos" como esperavam. O carro estreou-se na última ronda de testes em Barcelona, em fevereiro de 2009, e começou a espantar os entendidos, que não queriam acreditar no que aquele carro seria capaz. E ambos os pilotos mostraram isso em Melbourne, quando Button e Barrichello monopolizaram a primeira fila da grelha de partida, e o britânico venceu a corrida, com dobradinha e tudo.
Button venceria mais seis corridas e seria campeão, com Barrichello a subir por mais duas vezes sao lugar mais alto do podio. Ross Brawn seria campeão de Construtores e no ano seguinte, seria rebatizado de Mercedes.
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