segunda-feira, 20 de junho de 2016

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A história foi recordada ontem pelo Paul-Henri Cahier, e as circunstâncias não foram exatamente iguais, mas andam lá perto. Há precisamente 50 anos, em Le Mans, a Ford batia por fim a Ferrari na sua demanda pela vitoria em La Sarthe. A história - contada magnificamente por A.J Baime no seu livro "Go Like Hell" - mostra as personagens que ajudaram a marca de Detroit bater a marca de Maranello. Personagens como Carrol Shelby, Henry Ford II, Lee Iaccoca, e sobretudo, pilotos como Dan Gurney e Ken Miles.

Contei sobre Miles no inicio deste blog, há nove anos, mas volto a contar: nascido a 1 de novembro de 1918 na Grã-Bretanha, combateu na II Guerra Mundial como comandante de tanques e depois apostou no automobilismo, antes de ir em 1953 para a California. Para além dos seus talentos de piloto, também tinha talentos de engenheiro, o que era conveniente para modificar carros de forma a torná-los mais potentes, fiáveis e vencedores.

No inicio dos anos 60, Miles conheceu Shelby e este o convidou para guiar e trabalhar com os Cobra. A evolução desses carros, especialmente depois de Henry Ford II ter visto Shelby e o contratado, contou muito com a ajuda deste inglês que só bebia chá e falava com a boa de lado. Era ele que pilotava os carros nos testes que faziam em Riverside e noutros circuitos.

Em 1966, Miles, então com 47 anos, estava a ter a temporada da sua vida. Com Lloyd Ruby, tinha ganho as 24 Horas de Daytona e as 12 Horas de Sebring, duas das mais importantes provas de Endurance na América, e ele foi na armada da Ford para vencer em Le Mans. Iria alinhar ao lado do neozelandês Dennis Hulme, que nessa altura já era piloto da Brabham na Formula 1, enquanto que noutros carros, iriam alinhar pilotos como os compatriotas de Hulme, Bruce McLaren e Chris Amon, que iriam guiar o carro numero 2, pintado de negro e branco, as cores dos "All Blacks".

Quando os Ferrari ficaram fora de combate, naquela edição chuvosa, e a Ford parecia que iria monopolizar o pódio, o diretor comercial da Ford, Leo Beebe, propôs a Henry Ford II que se fizesse uma chegada em formação, para mostrar ao mundo que os americanos tinham dominado. Miles e Hulme eram os primeiros, mas quando recebeu as ordens para que abrandasse "para a fotografia", protestou, deixando que o carro numero 2 atravessasse a meta em primeiro, porque as regras desse tempo contavam a distância percorrida desde o lugar que largaram, em vez de uma grelha de partida convencional.

E por causa disso, Miles e Hulme não ganharam a corrida. E essa injustiça pelo resultado ficou marcada de forma ainda mais cruel a 17 de agosto desse ano, em Riverside, quando Miles testava a versão J do GT40, perdendo o controle do seu carro e batendo num banco de areia, matando-o. Tinha 47 anos.

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