Graças ao livro do David Tremayne, os ingleses que gostam de automobilismo passaram a falar de uma "Geração Perdida", piloitos com potencial para serem campeões do mundo, mas cujas carreiras foram precocemente terminadas devido a acidentes mortais. Roger Williamson, Tony Brise e Tom Pryce são os três pilotos que ele referiu. Há quem coloque outros nessa lista, como por exemplo, o escocês Gerry Birrell.
Uma geração mais tarde, há quem diga que existe outro piloto "perdido", com um apelido famoso: Warwick. Se todos conhecem Derek Warwick, vencedor em Le Mans e que teve passagens por Toleman, Renault, Lotus e Arrows, há quem conheça a história do seu irmão mais novo, Paul Warwick. E há precisamente 25 anos, acontecia o seu acidente mortal.
Paul Warwick era bem mais novo do que Derek. Com uma diferença de idades de 15 anos - nascera a 29 de janeiro de 1969 - metera-se no automobilismo desde tenra idade, numa altura em que o seu irmão já andava na Formula 1, primeiro na Toleman e depois na Renault. Campeão da Formula Ford 1600 em 1986, vice-campeão europeu de Formula Ford 2000 no ano seguinte - batido apenas pelo finlandês J.J. Letho - passou em 1988 para a Formula 3 britânica, sem resultados de relevo, apesar de uma passagem pela Eddie Jordan Racing.
Em 1990, fez algumas corridas na Formula 3000 europeia, também sem resultados de relevo. Por esta altura, a Grã-Bretanha estava "louca" com Nigel Mansell, pensando que com ele, acabaria o jejum de títulos que vivia desde 1976, com James Hunt. Mansell também experimentava a ideia de ter uma equipa, e na nascente Formula 3000 britânica, associou-se à Madgwick Motorsport, que foi buscar Paul Warwick para ser um dos seus pilotos. aos 21 anos de idade, parecia que iria ter a sua chance de superar as frustrações e voltar ao caminho que o levaria à Formula 1.
Ainda por cima, era uma combinação vencedora: em 1990, levara o português Pedro Matos Chaves ao título britânico.
Paul confirmou as suas credenciais logo de cara: pole, volta mais rápida e vitória nas quatro primeiras corridas do campeonato. com 40 pontos conquistados, era o campeão antecipado, e a ideia era de ir para a Formula 3000 internacional em 1992, e depois tentar a sua sorte na Formula 1. Robert Synge, o seu diretor, recorda-o numa entrevista ao site Motorsport: "Ele era uma pessoa com os pés assentes no chão e com uma grande familia à sua volta. "Derek sabia que ele tinha o necessário para chegar à Fórmula 1, e realmente ele era bom o suficiente para fazer esse trabalho bem feito, nos seus próprios termos. Tinha a ética de trabalho típica dos Warwick".
A 19 de julho de 1991, a Formula 3000 estava em Oulton Park para mais uma roda do campeonato, e Warwick tinha feito a pole-position. Phil Andrews, o seu rival nesse ano, ficou siderado quando o viu bater para o primeiro posto por meros... seis milésimos de segundo: "Lembro-me de pensar 'com mil diabos, que treta tenho mais que fazer para o bater?'". Na corrida, Warwick afastou-se da concorrência sem problemas, com Richard Dean em segundo e Phil Andrews em terceiro.
Na sétima volta, porém, acontece o desastre. Chegado à curva Knickerbocker, um braço da suspensão quebra-se e o carro, um Reynard, segue em frente e desintegra-se, num acidente bem semelhante ao que teve meses antes Martin Donnelly, nos treinos para o GP de Espanha do ano anterior. A grande ironia era que o seu conpanheiro de equipa era... Derek Warwick. O acidente aconteceu a 230 km/hora, e Warwick teve morte imediata, aos 22 anos de idade.
A corrida foi interrompida de vez, e Warwick foi declarado como o vencedor, e ainda por cima, tinha feito a volta mais rápida. O campeonato tinha virtualmente acabado, e ele foi declarado como o campeão póstumo, à semelhança de Jochen Rindt, quase 21 anos antes.
Hoje em dia, Derek Warwick fala dele da seguinte maneira: "Paul era o meu herói, ele foi o herói para a minha mãe, herói para a minha irmã, herói dos meus filhos. Ele tinha essa atitude sobre ele que as pessoas só iriam amá-lo e segui-lo, como se fosse um flautista. As pessoas queriam apenas ficar ao pé dele, porque achavam que era uma pessoa especial, que estava à beira de algo grande na sua carreira e na sua vida".
Contudo, Warwick não acha que Paul era predestinado: "Eu honestamente não me vejo num falso mundo quando digo que Paul poderia ter vencido corridas e ser um potencial campeão do mundo de Formula 1. Vejo-o mais como um Damon [Hill] porque ele floresceu quando ele entrou na Formula 1 depois de uma carreira modesta nas formulas de acesso". Teria lógica, se Warwick tivesse sido piloto de testes da Williams em 1993, por exemplo, um lugar que acabou por ser ocupado por David Coulthard...
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