Primeiro foi Barcelona, pelo meio Montreal, e agora Spielberg. Pela terceira vez nesta temporada, os pilotos da Mercedes andaram em polémicas entre eles, elevando bastante a tensão entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg, pela hegemonia na equipa, e em consequência, na discussão do título mundial. O incidente de ontem, em que o piloto alemão fez uma defesa musculada ao ataque de Lewis Hamilton na última volta do GP da Áustria, com prejuízo do piloto alemão, atual líder do campeonato, causou polémica no meio, com acusações de parte a parte, e chamadas para que Toto Wolff e Niki Lauda impunham uma hierarquia de ordens de equipa, para acalmar as hostes.
É preciso dizer que Hamilton e Rosberg estão juntos desde 2013, altura em que o britânico veio para a marca de Brackley, vindo da McLaren. Desde então, Hamilton venceu dois títulos mundiais, sempre à custa de Rosberg, que ficou com o segundo lugar. Se na primeira ocasião, as coisas resolveram-se na última corrida, em Abu Dhabi, com prejuízo do alemão, na segunda, as coisas resolveram-se bem antes, em Austin. Quando ele ergueu o troféu pela segunda vez consecutiva, não se imaginaria que a seguir iriamos ter seis vitórias seguidas do filho de Keke Rosberg, incluindo as quatro primeiras corridas do ano, enquanto que Hamilton tinha uma “falsa partida”. Quando o inglês tentou reagir, em Barcelona, acabou na primeira volta, no final da curva 4, com ambos os carros na gravilha, abrindo caminho para a surpreendente vitória de Max Verstappen.
Há que dizer algumas coisas sobre ambos os pilotos, que se conhecem desde os tempos de karting. Ambos são ultra-competitivos, aprenderam a sê-lo desde crianças. Ambos tem a Formula 1 no sangue, ou no caso de Nico, nos genes. Afinal de contas, é filho de Keke Rosberg, campeão do mundo em 1982. E ambos estão convencidos que são os melhores e desejam ser campeões do mundo. No caso de Nico, se conseguisse este ano, seria o segundo a alcança-lo, vinte anos depois de Damon Hill.
Mas há também outras coisas que dizer, sobre eles. Na Mercedes, Nico está em casa. Está ali desde 2010, quando lidou com um Michael Schumacher, que regressado à ativa, queria mostrar-se perante a nova geração. Rosberg, que tinha chegado à Williams em 2006 e nunca teve mais do que alguns pódios em carros pouco competitivos, tinha de mostrar ser superior a alguém dezasseis anos mais velho do que ele para mostrar que tinha material para ganhar. Não era muito complicado, mas o nome Schumacher ainda impunha respeito.
Pode-se dizer que Hamilton foi o seu grande opositor na sua carreira, e este ano sabe que é a sua oportunidade para alcançar o título. Ele é trabalhador e discreto, vivendo no Mónaco com a sua mulher e filha, o absoluto oposto de Hamilton, também da mesma idade (ambos nasceram em 1985, o inglês em janeiro, o alemão em junho) e que é mais conhecido pelas suas atividades fora de pista do que dentro dela. O esforçado Rosberg sabe que agora é a chance de ganhar, pois Hamilton tem demasiadas distrações. O incidente de Baku, onde aparentemente, ambos tiveram o mesmo problema, mas Rosberg soube resolver melhor, sem reclamar aos engenheiros, demonstrou um pouco como andam as coisas.
A sensação que se fica é que Rosberg vigia Hamilton e tenta impedi-lo de voltar à sua fora. E há razão nisso: ele tem consciência de que o inglês é superior, e enquanto ele estiver por ali, as suas chances de título são baixas. E sabe que não pode desperdiçar qualquer chance, porque se ele tiver problemas, Hamilton aproveitará. O incidente do Red Bull Ring foi uma estratégia que não resultou – a escolha dos pneus, não o “encosto” – por uma volta, pois caso contrário, hoje falaríamos que Rosberg tem as coisas a seu favor, num campeonato que ainda não chegou a meio.
Só que tudo isto voltou a colocar Wolff e Lauda numa posição difícil: colocar ou não ordens de equipa? Uma hierarquia nos Flechas de Prata, onde apesar das polémicas e dos domínios, havia uma máscara de competividade? É que caso hajam ordens de equipa, acabaria a temporada, pois passaria a ser uma caravana, afugentando ainda mais os cada vez menos espectadores de uma competição cada vez mais elitista, que cada vez mais exige que pegue para vermos estas corridas?
E a acontecer, quem ficaria em primeiro lugar? Qualquer uma das decisões seria polémica. Se desse o primeiro lugar a Rosberg, acusariam a Mercedes de ser alemã, mesmo com a sede da sua equipa de Formula 1 na muito britânica Brackley… poderia-se dizer que seria dada uma chance a Nico, pois Hamilton já têm três títulos. Mas se fosse o contrário, dando a primazia a Hamilton, muitos diriam que Nico, o filho de Keke, não teria estofo de campeão, e seria um simples escudeiro, um Rubens Barrichello alemão. E para ter outra era como a que a Ferrari nos deu na década passada, não se crê que a Formula 1 deseje passar.
Muitos querem a hierarquia, as ordens de equipa., para evitar os embaraços que foi da guerra entre Alain Prost e Ayrton Senna, em 1989. Quase 27 anos depois de Suzuka, quase uma geração depois, ainda ecoam fortemente esses ecos, do qual muitos desejam não ver repetir. O problema é que não há males menores: são todos males, pois qualquer que seja a decisão, haverá sempre perdedores. E ninguém quer ficar do lado errado da história.
Caro Paulo,
ResponderEliminarEles dividem a Mercedes-Benz desde 2013.
Abraço!