Esta altura do ano é bem agradável para todos os que acompanham a Formula 1. O verão ainda está no seu auge, as pessoas gozam-no em todo o seu esplendor, apesar dos primeiros sinais de que o fim está iminente. A visita da Formula 1 a um velho conhecido é sempre ótimo, e como Monza aparece uma semana depois de Sopa-Francochamps, assistir a tudo isto é como fazer a visita anual a um velho amigo, a um lugar familiar, a algo que nunca desiludiu.
Este ano, Bernie Ecclestone quis sacar mais algum dinheiro de Monza, dizendo que havia outros lugares e que o seu estatuto não era intocável, mas se foi porque o outro lado cedeu à chantagem ou foi porque o dinheiro que queria lá apareceu, a Formula 1 andará por lá por mais três temporadas, até ao final da década. Naquela casa que a Ferrari fez sua, já não há mais os "tiffosi" que subiam as placas publicitárias para se sentar nelas e ver a corrida do algo, ou os "portoghesi" que furavam as redes de proteção e iam assistir à corrida sem pagar. Mas ainda há os que invadem a pista no final da corrida para aplaudir os vencedores, mesmo se os seus pilotos tem andado distante do pódio nos últimos tempos... parece um regresso aos anos 90, onde as vitórias andavam fugidas à Scuderia.
Mas independentemente do lugar, os Mercedes levam sempre a melhor. E aqui, o melhor foi Lewis Hamilton, que conseguiu bater Nico Rosberg e ambos conseguiram distanciar-se da concorrência, onde o "melhor dos outros" foram os Ferrari, que conseguiram bater os Red Bull. Mas numa das pistas mais velozes do calendário, a diferença assustou: quase um segundo. Parece que amanhã será um passeio, caso ambos não se autoeliminem na travagem para a primeira chicane...
A qualificação, que decorreu debaixo de um esplendoroso sol italiano, começou com a noticia de que Romain Grosjean tinha trocado a sua caixa de velocidades, que o fez perder cinco posições na grelha. Depois disso, viu Kevin Magnussen entrar dentro do carro e tentar marcar um bom tempo para evitar ficar na Q1, mas também para dizer ao mundo que não tinha sequelas do acidente de há seis dias, em Spa. Os Mercedes davam uma volta, para assustar a concorrência, enquanto que o resto lutava para entrar na Q2, especialmente os que estavam no fundo da grelha.
A primeira baixa foi o novato Esteban Ocon, que sem marcar tempo, ficava de fora, e no final dessa primeira parte, mostrava que - com uma notaval excepção - os carros mais lentos foram os eliminados: os Renault de Magnusen e de Joylon Palmer, os Sauber de Felipe Nasr e Marcus Ericsson, e o Toro Rosso de Daniil Kvyat, que pode ter o consolo de saber que não está tão distante de Carlos Sainz Jr, e que ambos sofrem com a falta de desenvolvimento do Toro Rosso. E quem passou para a Q2 foi o outro Manor de Pascal Wehrlein, que demonstra que o carro até pode ser mais competitivo do que se pensa.
Quando se deu a luz verde para a Q2, os Mercedes saltaram logo para a pista, com pneus moles, determinados a marcar um tempo para que a concorrência não os alcançasse. Primeiro, Rosberg, com 1.21,809, e depois Hamilton, com 1.21,498, praticamente deixaram a concorrência a ver navios, sem chance de competir.
Mas mesmo assim, tentou-se. Primeiro, os Williams conseguiram ficar atrás dos Mercedes, mas os Ferrari cedo impuseram o seu ritmo, com Vettel a fazer o terceiro melhor tempo. Atrás, Esteban Gutierrez fazia de tudo para entrar na Q3, e os seus tempos correspondiam a isso, conseguindo no final uma inédita entrada da equipa americana na última fase do treino. E logo com o piloto que ainda não pontuou...
No final, os Mercedes foram de novo fazer uma volta, para marcar os seus lugares na grelha, e quando a bandeira de xadrez foi mostrada, viu-se que para além deles, passaram os Ferrari, os Red Bull, os Force India, o Haas de Gutierrez e o Williams de Valtteri Bottas. Quem ficava pelo caminho eram os McLaren, que tiveram o Manor de Pascal Wehrlein entre eles - o que é um feito! - o Williams de Felipe Massa, o segundo Haas de Romain Grosjean e o Toro Rosso de Carlos Sainz Jr.
A parte final não teve muita história: os Mercedes fizeram o que tinham de fazer, primeiro Nico Rosberg, que conseguiu 1.21,646, com Hamilton logo depois marcar 1.21,135, pulverizando a concorrência e marcando mais uma pole-position para o seu palmarés. Valtteri Bottas tentou marcar um bom tempo, andou momentâneamente na terceira posição, mas os Ferrari fizeram melhor e salvaram a honra do convento, mesmo com Vettel a ir um pouco longe demais quando fez a Parabólica com as quatro rodas fora da linha branca... a mesma coisa fez depois Gutierrez, que o impediu de ter melhor do que o décimo tempo.
No final, foi a hierarquia esperada. Os Ferrari não tinham motivo algum de vergonha, mas é provável que tenham ficado assustados com o desempenho "teutónicamente" avassalador dos Flechas de Prata. Isso poderia dizer que, caso não acontecesse uma hecatombe, amanhã está tudo definido, e que as 53 voltas ao circuito serão uma formalidade burocrática.
Contudo, na longa história deste circuito, muitos dos vencedores antecipados acabaram na gravilha ou nas redes de proteção, celebrando as vitórias dos outros, muitas delas, os populares triunfos da Scuderia... o vencedor só é coroado depois de atravessar a linha de chegada.
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