Todos conhecem a história de Francois Cevért: piloto francês com beleza e charme, mas com muito talento, estava prestes a ter a sua maior chance da sua carreira quando sofreu o seu acidente fatal, a 6 de outubro de 1973, aos 29 anos de idade. É também conhecido que a sua família teve muitas ligações ao automobilismo, apesar de ser filho de um joalheiro e de uma dona de casa. Jacqueline foi casada com Jean-Pierre Beltoise, que dava uma ligação familiar como cunhados, mas o que não sabia - e creio que poucos em França sabem - é que ainda houve um irmão automobilista, de seu nome Charles.
Seis anos mais novo que Francois, a carreira dele foi curta e algo atribulada, mas teve bons "padrinhos" que o ajudaram por algum tempo, antes de decidir pendurar o capacete e fazer outra coisa na vida. Há uns tempos, tropecei num artigo do "Echappement Claasic" francês, de 2014, onde ele fala sobre a sua carreira, com passagens pela Formula 3 francesa e de como um criador famoso o ajudou a comprar um chassis decente para poder continua a sua carreira. É uma história que vale a pena ser contada por aqui, agora que passa mais um aniversário da morte do seu irmão.
"Eu estava completamente sob a influência. Pensa nista: quando eu andava de bicicleta, ele tinha uma Norton. Era um verdadeiro aventureiro! François também foi um Panhard Dyna-conversível... só para atrair as meninas. Eu muitas vezes acompanhava-o nos circuitos. Como eu não era muito bom aluno, consegui participar numa corrida graças a um amigo ".
Em 1973, com o seu irmão na Tyrrell, ao lado de Jackie Stewart, Charles decidiu inscrever-se no Volant Elf com o objetivo de vencer, para ter um chassis só para ele e uma temporada para ele, no sentido de aprender os segredos do automobilismo e claro, seguir os passos do irmão. Mas o dinheiro tinha de sair do seu próprio bolso, e para isso, Charles aprendeu o oficio do pai, para poder juntar dinheiro.
"Foi em 1973 que eu me matriculei na escola de pilotos em Paul Ricard, onde tinha Didier Pironi como colega. Um dia nós destruímos os nossos carros nas estradas do Var (região do sul de França) Corri a qualificação em setembro, mas logo após isso, o Francois morreu. Passei a esponja sobre o assunto, antes de tentar o Motul Nogaro, em 1974. Na final, com a pista a transicionar entre o molhado e o seco, com Gerard Bacle, por sua vez, foi duro, mas perto. Perto da hora do almoço, o júri seleccionou Bacle. Eu terminei em segundo no volante, muito apertado para mim... na época, o nome de Cevert 'não era recomendável', a cicatriz ainda estava em carne viva."
Mesmo assim, Chatles continuou a tentar a sua sorte como piloto, que conseguiu, graças a bons amigos, alguns deles bem famosos...
"Eu tinha um vizinho bastante charmoso chamado Albert Uderzo e era um apaixonado pelos automóveis. Ele me convidou para almoçar com ele na companhia extraordinária de pessoas como René Goscinny e Pierre Tchernia. Um dia ele me perguntou: 'Quanto custa um carro?' É assim que em maio de 1975, eu me tornei no orgulhoso proprietário de um Martini MK14, um DS e um trailer. Minha família não me ajudava em nada, mas o Jean-Claude Lhoro, que liderava a escola de corridas de Nogaro, acolheu-me sob a sua asa. Cheguei no meio da temporada sem qualquer experiência. Nós ainda não tinhamos qualquer pilotos de kart e eu não tinha o hábito dos monolugares. Meu primeiro carro foi um Fiat 500 que Francis tinha-me fiado!"
A sua primeira temporada foi complicada, especialmente por causa de um acidente em Albi, debaixo de chuva, onde sofreu um forte embate na traseira de outro piloto, Jean-Louis Bousquet. Mas isso não o impediu de competir em 1976, com bons patrocínios. Contudo, apesar de um pódio em Magny-Cours, ele foi superado por um rapaz de vinte anos com nariz torto...
"Estava chovendo, havia um nevoeiro no pelotão, e não vi a bandeira quadriculada. Na reta principal, o Jean-Louis Bousquet rolava suavemente e eu colidi com força. Nós acabamos juntos no hospital. Quando Tico Martini descobriu como ficou o chassis, ele me dizia: 'Mas Charles... não tiveste nada nas pernas?' Ele não entendeu que eu tinha tido um pequeno entorse."
"[Na temporada de 1976] com a Duplicolor [uma firma de tintas], eu estava mais confortável, mas este ano, havia um rapaz chamado Alain Prost, creio eu. Chorei muito..."
Contudo, Charles tinha o mesmo defeito que o seu irmão mais velho: era muito alto. E como os monolugares nem sempre não eram feitos para pilotos altos como ele, e dadas as circunstâncias do seu acidente mortal, Charles pensava se valia a pena continuar por ali, com a segurança a ser como era no meio da década de 70...
"Sentia que tinha talento para guiar, mas eu não estava confortável dentro de um carro. Francois tinha sido decapitado e com o meu tamanho, inconscientemente, sentia isso como um chumbo. Durante a minha última corrida em Imola, eu realmente fiz perguntas sérias sobre se deveria continuar. Eu estava aterrorizado pela falta de segurança nesse circuito".
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