Já se sabia que poderia chover este domingo, em Interlagos. Em tempos idos, os pilotos largariam para a pista, com a organização a marimbar-se pelas condições de pista e desejavam aos pilotos boa sorte e que não batessem duro... ou não morressem. Foi assim em 1976, em Fuji, quando os pilotos queriam cancelar a corrida, mas a organização não acedeu, porque tinham comprado tempo de satélite e tinham de o usar a correr e não os ver parados na pista.
E para piorar as coisas em termos de corrida, o Haas de Romain Grosjean bateu forte no muro quando ia para o seu lugar na grelha de partida, mostrando a periculosidade daquela pista naquele momento. A parte chata disto é que o piloto francês não iria gozar o sétimo posto da grelha que tinha conseguido no dia anterior. Quando chegou a hora da corrida, contaram que chovia há doze horas seguidas em São Paulo, e a organização começou a tomar medidas: primeiro, adiou por dez minutos, depois, fez largar atrás do Safety Car, numa procissão esperando por tempo melhor em termos de meteorologia.
Os pilotos andaram sete voltas atrás do carro de Bernd Mylander, até que este carro entrou nas boxes, sempre alerta para qualquer situação, enquanto que os pilotos arrancaram forte e feito perante a pista muito molhada. E nas voltas seguintes, todos passaram a trocar para pneus intermédios, pois eram mais indicados. Max Verstappen conseguiu passar Kimi Raikkonen e ficou com o terceiro posto, enquanto que na volta 11, começou o primeiro acidente, com Sebastian Vettel a fazer um pião e depois foi trocar de pneus para intermédios.
As coisas até andavam sem problemas até que na volta 14, o Sauber de Marcus Ericsson bateu forte e bloqueou a entrada das boxes, obrigando nova entrada do Safety Car. Na frente, tudo na mesma: Hamilton liderava com Rosberg logo atrás e Verstappen era o terceiro. E entre os lugares pontuáveis, Felipe Nasr, o outro piloto da Sauber, era o oitavo, e o Manor de Esteban Ocon era o décimo.
Na volta 20, a corrida regressa, com a chuva a manter-se. Os carros aceleraram... mas apenas na reta. Kimi Raikkonen despista-se e a corrida parecia que iria voltar para o Safety Car, mas a FIA decidiu ser mais radical e mostrou a bandeira vermelha. Isto, numa altura em que a chuva iria piorar nos próximos minutos.
Os pilotos esperaram nos minutos seguintes nas boxes, trocando de pneus e limpando os destroços nos outros carros, como os que estava no Force India de Nico Hulkenberg. Com cerca de uma hora de corrida, entre avanços e recuos, calculava-se que os pilotos estavam a 33 voltas de conseguir todos os pontos... isto, se o tempo deixar. O Safety Car lá foi para a pista ver se as condições estavam melhor ou pior, e quando os carros voltaram à pista, uma hora e vinte minutos depois de iniciar, todos os pilotos voltaram a ter pneus de chuva extrema.
De novo, Bernd Mylander liderava a procissão dos pilotos por algumas voltas, com os pilotos a queixarem-se da falta de visibilidade, e no final da volta 29, as bandeiras vermelhas estavam a ser mostradas. Lewis Hamilton queixava-se da decisão, afirmando que a pista tinha as condições mínimas, mas ele dizia isso porque precisava de vencer com todos os pontos, para ter uma chance de lutar pelo título em Abu Dhabi.
Mais alguns minutos à espera da chuva nas boxes, e perto das quatro da tarde, duas horas depois do começo, máquinas e pilotos voltaram à pista... atrás do Safety Car, atrás de uma chuva que não cessava de cair. Na volta 32, a corrida recomeçou, com Max Verstappen a passar Nico Rosberg e ser o segundo classificado. Sergio Perez também tentou passar Rosberg, mas ele defendia-se bem.
O holandês perseguia o piloto da Mercedes, tentando apanhá-lo e mostrando que ele era bom na chuva. Tinha alturas em que era meio segundo mais veloz, mas Hamilton conseguia responder. Ambos os pilotos abriram para o resto do pelotão, mas na volta 39, o holandês faz um pião na curva do Café e consegue evitar bater no muro "in extremis"... e ainda consegue manter o segundo posto!
Com o passar das voltas, começava a haver uma linha mais seca, e os pilotos começavam a trocar para pneus intermédios. Pilotos como Max Verstappen começavam a melhorar a sua performance, mas havia previsão de mais chuva para adiante. E na volta 49, nova batida, com o Williams de Felipe Massa, faz com que o Safety Car entrasse pela quarta vez na pista, sem bandeiras vermelhas. Foi assim até à volta 54, mas enquanto os carros andavam atrás do Safety Car, as pessoas que estavam na bancadas aplaudiam de pé por Felipe Massa, que, levando a bandeira brasileira pelos ombros, fazia uma emocionada despedida.
Pensava-se que os pilotos andaram um bocado até que a direção de corrida mostrasse a bandeira vermelha, mas por algum motivo, a chuva parou um pouco e os pilotos, mesmo com os extremos, conseguiam manter os carros na pista, sem bater. O tempo contava também, mas tudo aguentava-se. Os Mercedes iam-se embora do resto do pelotão, enquanto que Max Verstappen, que tinha trocado de intermédios para extremos e caira para 11º, começava a fazer uma corrida de recuperação, passando quase toda a gente a cada duas voltas. Livrou-se do seu companheiro de equipa - que perdeu mais duas voltas para passar Daniil Kvyat - e foi subindo na classificação até que, a duas voltas do fim, apanhou Sergio Perez e ficou com o terceiro posto.
No final, Hamilton conseguiu vencer em Interlagos, mas Nico Rosberg tinha tudo controlado e ficou com o segundo posto, na frente do homem deste dia complicado, Max Verstappen. E atrás, havia sortes diferentes: Felipe Nasr fez uma portenta corrida à chuva, sem erros, e ficou no nono posto, dando à Sauber os seus primeiros pontos nesta temporada. Esteban Ocon estava a caminho de dar à Manor o seu segundo ponto da temporada, mas na última volta, caiu dois lugares e ficou de fora, dando o último ponto a Fernando Alonso.
E assim terminou uma corrida inesquecível, por tudo o que se passou por lá. E de uma certa maneira, tememos o pior, mas acabamos por ver o melhor. Vamos a ver se eles ficam por aqui em 2017. Agora, é Abu Dhabi para fechar a temporada.
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