Quando tinha 18 anos, o meu desejo era de tirar a carta de condução o mais depressa possível. E fiz isso: juntei dinheiro, trabalhei nas horas vagas... e até tive aulas extra, quer com o meu pai, no carro que ele tinha na altura, quer depois quando paguei aulas extra na escola de condução. Ao fim de alguns meses, tinha a licença de condução na minha mão. Consegui-o dois dias depois de fazer o meu 19º aniversário e estava radiante. Tudo isto foi em 1995, já lá vão 21 anos e meio.
Poucos anos depois, vivi o que posso considerar como "o meu auge". O meu pai tinha comprado um carro novo e oferecera-me o antigo, eu tinha um emprego numa rádio na minha cidade - não ganhava muito, mas o suficiente para ter no bolso no final do mês - e tinha liberdade para andar. Pensava que não havia limites, mas não sabia que estava a alcançar uma espécie de oásis para o deserto que se aproximava.
Porque conto este episódio da minha vida? Por causa de uma coisa que ouvi por estes dias no "The Grand Tour". Eles falaram que os exames de condução na Grã-Bretanha alcançaram em 2016 um mínimo histórico. Comparado com 1995, os exames que são feitos hoje em dia são menos de 40 por cento. É muito. As pessoas não querem mais aprender a conduzir. As razões são imensas, e creio que vão piorar com o tempo.
Primeiro que tudo, existe mais oferta: transportes públicos, meios alternativos como a bicicleta - embora isso seja limitado. Outra razão é a "demonização" do automóvel. É um brinquedo caro para se manter, é poluidor e nos últimos tempos, tem sido o "mau da fita" por causa dos escândalos como por exemplo, o "Dieselgate". E hoje em dia - embora isso deva ser algo do qual as pessoas por aqui deveriam pesquisar - os jovens não querem tirar a carta, ou isso não está nas suas prioridades.
As escolas de condução definham, quando não encerram. Volto aos meus tempos de juventude: na minha cidade, havia pelo menos quatro escolas de condução. Dois já fecharam - embora num deles, o dono pegou no dinheiro e fugiu para o Brasil... - e um luta para sobreviver. No meu tempo, eu aprendia a dirigir num mero Opel Corsa ou num Renault Clio. Hoje em dia, os garotos (e garotas) aprendem a guiar num Mini, num BMW Série 1 ou até... num Porsche Cayenne. Não estou a brincar! Claro, os carros não são deles, eles fazem um acordo com os concessionários locais, e eles fornecem os carros numa espécie de "empréstimo" por algum tempo. É como os carros de aluguer.
Hoje em dia, os jovens mais rapidamente juntam dinheiro para fazer uma tatuagem ou meter um brinco no umbigo do que investir na condução. Acham que os transportes públicos irão satisfazer as suas necessidades, ou então a bicicleta pode ser uma actividade saudável. Acredito, sei que as prioridades estão trocadas, mas então porquê?
Bom, em muitos aspectos, é simples: ter um carro implica enorme investimento. Meter gasolina, pagar seguros, ir à inspecção uma vez por ano... e se a gasolina ficar cara, os vinte euros, que há meses dava para meio depósito, hoje, nem daria para fazer cem quilómetros. No final do mês, começas a ver que não compensa. E se tirar o passe poderá custar o mesmo do que manter um carro, e tens viagens ilimitadas, começas a pensar duas vezes sobre se vale a pena ter um carro.
E provavelmente, a tendência vai ser pior. Mais do que investir em automóveis elétricos, por exemplo, é o investimento em carros automáticos. Algumas empresas falam disso e aos poucos e poucos, os carros mostram-nos sistemas de parqueamento automático. Em 1995, as nossas aulas de condução - e os nossos exames - tinham como ponto crucial a nossa habilidade em estacionar. Hoje em dia, com os carros a dar isso nos seus equipamentos, para quê aprender? E a mesma coisa acontecerá quando aparecer um carro autónomo: para quê gastar dinheiro a aprender a guiar, quando terei um Tesla (por exemplo) a levar-me da casa para o trabalho a fazer todo o serviço? E nem falo dos taxistas, provavelmente uma futura profissão em extinção com toda esta tecnologia...
Em suma, a ideia do automóvel como "libertador" está na gaveta. A ideia de passear estrada fora, sem destino, como fazia no final do século passado quando chegava o fim de semana, está acabada. Poderá ser que volte no futuro, mas hoje em dia, tornou-se num brinquedo caro. E cada vez mais, as pessoas perdem o interesse ao automóvel. É um fardo, e um fardo cada vez mais caro para o alimentar. E deve ser por isso que os jovens já não querem mais juntar dinheiro ou trabalhar nas horas vagas para tirar a carta. Há outras prioridades.
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