Uma equipa de Formula 1, para fazer funcionar, precisa de motores. E se não é a Ferrari, Mercedes, Renault ou a McLaren, que tem os seus próprios motores ou tem um outro fornecedor que dá os seus motores e ainda recebe dinheiro (Honda), tem de pagar para os ter, como cliente. Em 2013, por alturas em que todos andavam com os V8 de 2,4 litros, em média, pagava-se cerca de cinco milhões de dólares por cada unidade de potência. Quando se mudou para os V6 Turbo, os custos subiram para entre 15 milhões - no caso da Mercedes - e os 25 milhões, no caso da Renault. A diferença é explicada pelos custos com a mão de obra, entre os ingleses (os motores Mercedes são feitos na Grã-Bretanha) e os franceses. E claro, os italianos ficam mais ou menos a meio, por serem feitos em Itália.
Esses custos baixaram um pouco até 2017, mas por causa da sua complexidade - os sistemas de recuperação de energia, os KERS e os MGU-K - fazem com que sejam ainda mais caros do que os mais simples e mais barulhentos V8. Essa percentagem é uma fatia grande do orçamento de uma equipa de Formula 1. Poderemos imaginar que uma equipa compre dez conjuntos de motor e caixa de velocidades a dez milhões de dólares cada um, e isso valeria, só por si, cem milhões de dólares. Isso é, segundo se sabe, todo o orçamento de uma Sauber ou de uma Force India, e isso faz com que os dirigentes façam ginásticas orçamentais para fazer toda uma temporada sem prejuízos de monta. Daí que, sem os dinheiros distribuídos pela FOM, algumas dessas equipas já teriam falido.
Mas para as equipas maiores, principalmente as que fazem todo o conjunto, esse valor está eliminado. Aliás, até ganham uma boa fatia dos seus orçamentos, graças aos acordos que fazem com essas equipas. Imaginem uma Williams que pague cem milhões à Mercedes pelos seus motores. Acham que iria ficar guardado nos cofres das contas da marca alemã, como se fosse um "saving for a rainy day"? Não creio.
E isso aí faz com que o fosse se cave bastante. Reparem nisto: a Ferrari tem um orçamento de 300 milhões, faz os seus próprios motores e fornece a duas equipas, Haas e Sauber. Dali, poderá receber até duzentos milhões de dólares (ou euros, ou libras) vindos deles. Ainda por cima, graças a um acordo costurado por Bernie Ecclestone no último Acordo da Concórdia, recebe mais cem milhões só pela sua "antiguidade". Ou seja, ainda antes de construir o primeiro parafuso da primeira peça do novo carro. E nem falamos da parte que recebe da FOM ou dos patrocinadores, não é? Esta equipa, tal como a Mercedes, a Red Bull e a McLaren, ganham sempre.
Contudo, há um problema: a Formula 1 é um "Club Piraña", ou seja, o objetivo deles é querer livrar da competição. Hoje em dia, para sobreviver na categoria máxima do automobilismo, precisas de cem milhões de dólares, mais coisa, menos coisa. Com os patrocinadores a escassearem, é a FOM que os segura, graças à tal distribuição de dinheiro. E como sabem, as construtoras estão a fugir dali, porque é insustentável. Especialmente, quando a Formula E acena às construtoras que podem montar as suas equipas com um décimo desses orçamentos e dão-lhes chassis e tudo!
É isso que a Liberty Media tem de lidar agora. Não podem fazer nada de imediato, mas sim no futuro. O Acordo atual vai até ao final de 2020, e eles querem arranjar maneira de reduzir os gastos com o orçamento. Pedir diretamente às equipas não vale a pena, porque elas, reunidas dentro do Grupo de Estratégia, estão contra cortar nos gastos. Não querem saber, e até deverão sorrir, se os gastos levarem a que alguma das equipas atuais se retire de cena. O problema é que já está no limite que eles impuseram há algum tempo: dez equipas, vinte carros. Há dinheiro para todos, desta forma.
Mas os custos estão cada vez mais a aumentar, e uma das maneiras que eles já vieram para cortar tem a ver com os motores. Querem continuar com os V6 Turbo, em acordo com a FIA, mas querem se sejam mais simples, apenas com um sistema de recuperação de energia. Fazê-los mais simples poderiam fazer com que fossem (um pouco) mais barulhentos, mas também poderiam fazer com que a Honda, por exemplo, não seja o estrago que é agora, muito por culpa de não conseguir fazer um motor potente e equilibrado com os atuais sistemas de recuperação de energia.
Ter motores mais baratos em 2021 - vamos supor que caiam para os valores usados pelos V8 em 2013: cinco milhões por unidade - poderiam fazer entrar novos construtores na baila. A Porsche já disse que pensa seriamente na ideia, e a Cosworth também já disse que pensa no assunto. Ter mais fornecedores de motores daria mais opções às equipas presentes, quer como clientes, quer até numa situação entre a Honda e a McLaren. Um Red Bull-Porsche seria uma opção interessante, por exemplo... se não forem clientes, mas sim um parceiro.
E mais do que falar de motores, é sobretudo tentar parar com essa "corrida ao armamento" que inflaciona as coisas ao ponto de, qualquer dia, só haver duas equipas que gastem mil milhões cada um, e arriscam a ver afastar o rival, em caso de derrota. Lembro-me sempre da Toyota, que gastou 1500 milhões de euros na sua aventura na Formula 1... e não ganhou qualquer corrida! Contudo, a Liberty Media, para fazer as coisas bem feitas, tem de ser inteligente. E podem ver o histórico, as tentativas anteriores (aquilo que Max Mosley tentou fazer em 2009, com o resultado que todos nós conhecemos), para saber o que falhou.
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