Há precisamente 35 anos, Colin Chapman estava encurralado. Não porque tinha tido uma temporada modesta, apesar de ter ganho uma corrida na Austria, com uma decisão quase de "photo-finish", onde Elio de Angelis foi o vencedor, contra o Williams de Keke Rosberg; ou então que a partir da temporada de 1983 iria ter motores Renault V6 Turbo. Ou mesmo que naquela manhã tinha começado a tentar uma ideia nova em relação ao piloto não sofrer com os altos na estrada, algo que o iria levar à suspensão ativa. Não, não era a equipa que o tinha encurralado, ou que estava nas suas maiores preocupações.
Era outra coisa. Maior e mais grave.
No final de 1978, Chapman deveria estar a gozar os frutos de mais um título mundial com uma máquina que somente aquela mente teria concebido. Um carro como o Lotus 79, atrtavés do americano Mário Andretti e do sueco Ronnie Peterson tinha-lha dado ambos os títulos de pilotos e Construtores. Mas a morte do sueco, em Monza, e os problemas que tinha na sua fábrica fizeram com que tomasse as decisões que viria a sofrer dali a quatro anos. De uma certa maneira, semeou os ventos das tempestades que iriam aparecer mais adiante.
Chapman necessitava de dinheiro, e algumas pessoas apareceram com a palavra mágica: desbloquear todos os seus problemas. Os seus carros não eram vendidos nos Estados Unidos por causa de apertados regulamentos em relação a emissões poluentes e de ruído, e tinha de fazer algo em relação a isso. Precisava de dinheiro, senão falia. Quase ao mesmo tempo surgiram duas personagens: David Thiemme e John DeLorean. O primeiro tinha especulado no petróleo e ganhou uma imensa fortuna, o segundo queria construir o seu superdesportivo, à revelia da Big Three americana: Ford, Chrysler e General Motors. Ambos prometiam-lhe mundos e fundos, e Chapman ficou encantado com isso. Quase hipnotizado.
Nos quatro anos seguintes: David Thiemme e a sua Essex eram presença assídua nas boxes. Thiemme tinha dinheiro e queria exibir-se, e a Formula 1 era o sitio ideal. Só o lançamento do modelo 81, em 1980, no Royal Albert Hall, custou um milhão de libras, um terço do orçamento de uma Fittipaldi, por exemplo. Contudo, a meio de 1981, ele é preso pelas autoridades suíças, que, não encontrando evidências de fraude e "inside trading", deixam-no solto. Contudo, a sua reputação sai danificada e a Essex acaba por desaparecer em meados de 1981.
Por esta altura, Chapman colabora no projeto DMC-12 da DeLorean. Havia uma fábrica na Irlanda do Norte e o governo de Margaret Thatcher estava a injetar dinheiro para uma região afetada pela pobreza e violência sectária. Enquanto que os operários trabalhavam para montar os seus carros, no The Maze, a prisão mais sinistra da Grã-Bretanha, ativistas do IRA decidiram efetuar uma greve de fome até à morte.
Só que Chapman tinha outro defeito: não queria pagar ao estado os seus impostos. Houve uma altura em que os impostos aos ricos eram opressivamente altos, chegando a quase 90 por cento. E ele, em conjunto com seu contabilista, Fred Bushell, tinha arranjado uma conta no paraíso fiscal do Panamá (como vêem, isso não é um problema recente...) onde por exemplo, os salários dos pilotos eram pagos. E eram desde os tempos de Graham Hill e Jim Clark, por exemplo. E os dinheiros que DeLorean pagava a Chapman para redesenhar o DMC-12 (que ficou parecido com um Esprit) iam para essa conta no Panamá.
Só que boa parte desse dinheiro vinha dos cofres de Sua Majestade. E quando em outubro de 1982, a DeLorean entrava em falência, depois do FBI ter prendido o seu presidente quando estava numa operação de tráfico de cocaína, filmada e organizada... pelo FBI. Os ingleses tinham investido 40 milhões de libras e viram de 10 milhões tinham ido para a Lotus, no qual prederam o seu rastro. E eles, nessa altura, estavam com um atraso na apresentação das contas. Chapman sentia o longo braço da lei a tocá-lo, a ele e a Bushell, e já tinha sido chamado a depor.
No final desse dia 16 de dezembro de 1982, Chapman sentia que estava encurralado. Adormeceu e não mais acordou. Um ataque cardíaco fatal, por volta das 4 da manhã, acabou com a sua existência, aos 54 anos de idade. A teia no qual ele estava enredado foi forte demais para o seu coração.
A Lotus Cars ainda existe, agora controlada por chineses. A Team Lotus, que tinha as operações da Formula 1, acabou em 1994, apesar de uma reavivação no inicio desta década. Fred Bushell acabou por ser julgado, quase dez anos depois, e foi condenado a três anos de prisão. Na sentença, o juíz disse que se Chapman estivesse ali sentado no banco dos réus, teria levado "pelo menos dez anos de prisão".
Contudo, apesar de tudo isto, Chapman é uma personagem do qual Hollywood lhe deve um filme. Eventualmente, espero que um dia tal coisa aconteça.
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