Dez anos depois da última vez, e 28 anos depois de terem andado em Le Castelet, a Formula 1 estava de volta ao mesmo lugar. Quando a pista foi construída, quase 50 anos antes, foi o sonho de um milionário local que ganhou fortuna com um licor da zona de Marselha - o pastis - e vendeu-o França e Europa fora. Quando a Formula 1 foi para lá pela primeira vez, em 1971, todos adoraram, afirmando que era a primeira pista do século XXI, um sonho para os pilotos em termos de segurança. Depois, as motos e a Endurance foram também para lá, enriquecendo o portfólio da pista, sedo das melhores do mundo.
Contudo, vinte anos depois, a Formula 1 foi para Magny Cours e a pista foi deixada para os testes, cada vez mais privados, quase esquecida da memória das pessoas. A falta de acessos à pista ajudou muito nisso, por exemplo.
Quando foi anunciado o seu regresso, viu-se que iriam usar toda a pista, a versão anterior a 1986, antes do acidente mortal de Elio de Angelis, durante uma sessão de testes. Mas os tempos tinham mudado: com tantas versões da pista, enormes áreas de escape, a mítica reta Mistral tinha sido cortada em dois por recomendações da FIA. E de uma certa forma, o passado poderia estar de volta, haveria algumas amputações. Ou condições para o regresso. E de uma certa forma, é um pouco triste. E algo confuso.
Debaixo de céu nublado - chegou a chover no terceiro treino livre - a qualificação começou tarde da tarde, porque estamos em pleno campeonato do mundo, e havia um jogo que iria terminar 15 minutos antes da qualificação. Quando o jogo acabou, os carros foram para a pista. Mercedes e Ferrari fizeram os seus tempos com Lewis Hamilton e Kimi Raikkonen a terem a sua vez de liderar a tabela de tempos todos na casa do 1.31,5.
No final, os McLaren - incluindo Fernando Alonso, o vencedor das 24 Horas de Le Mans, há seis dias - os Williams e o Toro Rosso de Brendon Hartley acabaram por não se qualificar para a Q2.
Na Q2, havia as ameaças de chuva na pista, e os carros foram todos para a pista para marcar um tempo antes que algo pudesse acontecer. Hamilton fez 1.30,645 e dá cabo da concorrência. Bottas estava a meio segundo dele, mas a concorrência estava... a um segundo e meio. Parecia que os Flechas de Prata queriam reagir a uma concorrência que parecia os ter apanhado. Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen melhoraram os seus tempos, mas estavam a quatro centésimos de Hamilton, no caso de Vettel.
Na parte final da Q2, Vettel conseguiu melhorar o seu tempo, sem destronar Hamilton, mas atrás é que aconteciam as surpresas. Charles Leclerc conseguiu um bom tempo, o suficiente para o colocar na Q3, a primeira vez em muito tempo que a Sauber - 56 corridas depois de Nico Hulkenberg, no GP de Itália de 2015 - estava nessa posição. E isso foi à custa dos Force India, do Renault de Nico Huklenberg, do Sauber de Marcus Ericsson e do Toro Rosso de Pierre Gasly.
Do outro lado, para além dos habituais e do carro do piloto monegasco, os Haas de Romain Grosjean e Kevin Magnussen também passaram para a Q3, e em posições bem interessantes: sexto e sétimo. Carlos Sainz Jr. fez o nono tempo e salvou a honra da marca do losango em casa.
Na Q3, as coisas até pareciam ser semelhantes ao que se tinha visto na Q2, até que Romain Grosjean perdeu o controlo do seu carro e bateu forte na terceira curva. A sessão foi interrompida e parecia - pelo menos é o que diriam os detratores... - que Charles Leclerc iria largar no nono posto...
Quando recomeçou, faltavam sete minutos para o final da qualificação. Tempo mais do que suficiente para calçar o seu jogo de pneus ultramacios e voar na Mistral e fazer a curva Signes a fundo. E ali, Hamilton melhorou o seu tempo, fazendo 1.30,029, e complementando com Valtteri Bottas, que deu uma primeira fila toda da Mercedes, a segunda da temporada. Vettel foi o terceiro, e a Red Bull, que decidiu colocar supermoles nos seus carros, foram penalizados por isso agora, para ver se ganharam mais tarde, na corrida, com uma permanência mais longa da pista. Veremos se isso valerá a pena.
E Charles Leclerc não fez o pior tempo na parte final da qualificação. Sairá de oitavo, a sua melhor posição de sempre na sua (ainda) curta carreira.
Uma coisa é certa: o facto dos Mercedes partirem na frente amanhã mostra que a luta no campeonato não terá um só sentido. Responderam aos Ferrari e estão na pisa para lhes dizer que a luta será dura e dificil, sem vencedor definido.
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