Nos anos 70, a Formula 1 começava mesmo após o Ano Novo, com o pelotão a ir para paragens sul-americanas porque ali fazia um calor tórrido. Apanhar sol em Janeiro poderia parecer estranho para muitos, mas no calor austral, faz todo o sentido. E em 1974, a meio do primeiro choque petrolífero, com alguns eventos a serem cancelados, a Formula 1 conseguia resistir, em Buenos Aires, perante um autódromo cheio.
E hoje, trago uma história deliciosa. De como os anfitriões prepararam tudo para acolher uma vitória caseira, mas o piloto ficou sem gasolina a caminho.
Em 1974, Carlos Reutemann estava na Brabham, e apesar de duas temporadas relativamente modestas, era visto como uma esperança para suceder a Juan Manuel Fangio no coração dos petrolheads argentinos.
Pequeno aparte: a Argentina, em termos automobilísticos, é uma jóia para o estrangeiro. Tem as melhores competições dos quais nunca ouviu falar, e a melhor multidão que o mundo não sabe. E quarenta autódromos, alguns deles dignos do Gran Turismo, como Potrero de los Funes, provavelmente o melhor autódromo que Formula 1 nunca visitará.
Mas voltemos 45 anos no tempo. No Autódromo Oscar Galvez, Carlos "Lole" Reutemann é o ídolo da torcida, e quando ele está na frente do Grande Prémio, com a chance de dar à Brabham - já gerido por Bernie Ecclestone e os seus carros eram desenhados por Gordon Murray - a multidão entrou em delírio, incluindo o seu convidado VIP: Juan Domingo Peron.
Peron gostava de automobilismo. Apoiou os seus pilotos nas suas aventuras na Europa, nos anos 50. Juan Manuel Fangio era o garoto-propaganda, mas outros como Onofre Marimon ou Froilan Gonzalez também foram à Europa, espalhar o seu perfume. E quando em 1974, viu que Reutemann estava na frente, tratou de ir até ao pódio entregar o prémio em pessoa. As coisas foram tratadas entre a segurança e a organização, e ele já ia a caminho quando... o Brabham começou as dar problemas. Estava a ficar sem gasolina e se queria ter uma chance, tinha de se abastecer, mas perdia a vitória. Reutemann jogou os dados e arriscou. Perdeu: o carro ficou parado a meio da última volta e ficou classificado na sétima posição, o primeiro dos não pontuáveis naquela altura.
Aparentemente, "Lole" Reutemann chorou ao saber o que tinha acontecido. Quem não choraria, ao ver a vitória tão perto e esta escapar?
Quem herdou aquela vitória foi Dennis Hulme, no primeiro triunfo da McLaren com as cores da Marlboro. A última do velho urso, e acompanhado no pódio pelos Ferrari de Niki Lauda - no seu primeiro pódio - e de Clay Regazzoni. Peron saiu dali pela "esquerda baixa", mas o primeiro triunfo de um argentino depois de Fangio não demorou muito: foi em março, em Kyalami.
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