sexta-feira, 22 de março de 2019

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Fotos tiradas por Bernard Cahier de Peter Revson no GP do Brasil de 1974, a derradeira corrida do piloto americano na Formula 1. Dali a mês e meio, a 22 de março daquele ano, Revson perdia a vida em testes para o GP da África do Sul, em Kyalami.

A carreira de Revson, nascido a 27 de Fevereiro de 1939 e herdeiro da fortuna dos cosméticos Revlon, foi longa e variada. Começou quando estudava em Cornell, e conheceu os irmãos Mayer, Timmy e Teddy, bem como Tyler Alexander. Os quatro foram para a Europa em 1962, para correr na Formula Junior, e depois na Formula 1, onde foram ajudar e reunir esforços com o neozelandês Bruce McLaren.

A primeira passagem pela Europa foi frustrante, e ao regressar a paragens americanas, McLaren não o esqueceu. Foi o piloto da marca na Can-Am e na USAC, o primeiro piloto em Indianápolis, e aquele que substituiu quando o patrão morreu a 2 de junho de 1970. Na Can-Am, ele foi campeão em 1971, e no mesmo ano, conseguiu o melhor resultado até então nas 500 Milhas de Imndianápolis: um segundo lugar.

Em 1972, Revson volta à Formula 1, num calendário de loucos, pois acumulou com Can-Am e algumas corridas na USAC, Indianápolis incluído. A temporada correu bem para ele, que conseguiu quatro pódios e uma pole-position. Numa temporada em que falhou quatro corridas devido a conflitos com as corridas na América. E no ano seguinte, graças ao chassis M23, correu bem melhor, vencendo duas corridas e mais dois pódios.

Mas Teddy Mayer viu a chance de ter Emerson Fittipaldi, e apesar da amizade com Mayer, preferiu o piloto brasileiro, vindo da Lotus. Revson seguiu para outra equipa americana, a Shadow, que estava na Can-Am no inicio da década, mas no ano anterior, tinha-se estreado na Formula 1, conseguindo dois pódios. 

A equipa tinha construído o DN3, desenhado por Tony Southgate, e esperava que fosse melhor que o chassis anterior, o DN1. Revson conseguiu boas classificações nos treinos - quarto em Buenos Aires, sexto em Interlagos - mas não chegou ao fim quer na Argentina, quer no Brasil. Uma semana antes de testar o carro em Kyalami, tinha estado em Brands Hatch para a Race of Champions, onde, debaixo de chuva, chegou ao sexto lugar, numa prova vencida pelo Lotus de Jacky Ickx, depois de ter passado... por fora, o Ferrari de Niki Lauda no Paddock Hill Bend.

Em 2012, numa entrevista à Motorsport britânica, Southgate falou sobre Revson e das circunstâncias do seu acidente fatal. 

“‘Revvie’ era um tipo fabuloso, fácil de lidar e um excelente piloto. Mas, tragicamente, não ficou connosco por muito tempo. Classificou-se na segunda linha na Argentina e para o Brasil na terceira fila da grelha. Então, ele, eu, o nosso mecânico-chefe Pete Kerr e mais outros dois mecânicos fomos para Kyalami, para testes antes do GP sul africano."

Revvie estava muito bem, muito contente com o carro, e então, depois de ter iniciado uma volta, ele não apareceu. Corremos para a parte de trás do circuito e encontramos o carro enterrado sob as barreiras de proteção, do lado de fora de uma curva rápida [Barbecue Bend]. Peter já estava na ambulância quando chegamos. Liguei para o hospital, e eles me disseram que eu tinha que ir para a morgue e identificá-lo. Quando a notícia saiu, foi um inferno, com todos os jornalistas a bater na porta do meu hotel, até que o advogado da família Revson chegou e assumiu o controle."

"Estávamos a usar bastante titânio no DN3, que era então um novo material. Titanio é delicado, tem que ser trabalhado de forma suave e a sua superfície bem polida, e descobrimos que tinha havido uma junta esférica que tinha sido feita de forma grosseira sobre ele, e foi aí que quebrou. Ali [no local do impacto] havia apenas uma camada de Armco e o carro, em vez de ser desviado ou parado, o carro conseguiu entrar até à zona do cockpit.”

Senti-me pessoalmente responsável. Foi uma época muito difícil. Desapareceu o glamour da Fórmula 1, e foi substituído por uma espécie de solidão. Você não tinha outra hipótese que não trabalhar. Claro, na corrida seguinte, substitui todos os componentes de titânio por aço.", concluiu.

Revson tinha perdido um irmão, Charles, num acidente de Formula 3 num circuito dinamarquês. Entre os que tentaram salvá-lo de forma inútil, estavam Dennis Hulme e Graham Hill. O neozelandês, seu amigo e antigo companheiro de equipa na McLaren, na Can-Am e Formula 1, decidiu que iria retirar-se no final da temporada. E pouco mais de seis meses depois de Francois Cevért, a Formula 1 sofria nova perda no seu pelotão.

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