Há meio século, o mundo olhava para cima. Tinha visto partir o gigantesco Saturno V, rumo à Lua, cumprindo o sonho de toda uma Humanidade, e torcia para ver Neil Armstrong e Edwin "Buzz" Aldrin a tocar o satélite da Terra e voltar são e salvo, cumprindo a promessa do presidente John F. Kennedy de o fazer antes do final dessa década, e do qual 400 mil americanos se tinham empenhado.
Mas na Terra havia coisas para ver. E num canto do Reino Unido, melhor ainda, com o GP britânico, que naqueles tempos reservava os anos pares a Brands Hatch e os impares a Silverstone. E viu aquilo que provavelmente foi um dos melhores duelos da história do automobilismo, e do qual poucos se lembram porque na altura, a televisão não tinha tanto impacto como tem agora. E a BBC já transmitia a cores... mas não nesse ano. Só em 1970 é que o fez.
Jackie Stewart dominava a temporada com o seu Matra MS80, com o motor Cosworth que Ken Tyrrell tinha arranjado, e do qual entraram em acordo com a marca francesa para poder usar no carro do escocês, no seu compaheiro de equipa, Jean-Pierre Beltoise, e Johnny Servoz-Gavin ficava com o horrível MS84 de quatro rodas motrizes, a obsessão da engenharia de há meio século.
O rival de Stewart era Jochen Rindt, que queria ser campeão do mundo com a Lotus e estava disposto a apostar a sua própria vida para fazê-lo. Sofreu bastante com o acidente em Montjuch, e por causa disso a sua relação com Colin Chapman era tensa, e nunca deixava de mostrar isso, sempre que tinha uma oportunidade. Felizmente para ele, o modelo 49 era bom, mas quando chegou a Silverstone, ele tinha... zero pontos. Contra os 36 do escocês, e quatro vitórias, três consecutivas.
Mas a corrida foi fantástica. Ambos trocaram constantemente de posições, como se estivessem a zero. Stewart poderia ter sido pragmático e deixado ir embora o austríaco e acumulando pontos para um campeonato que já era seu. Mas não quis. Poderia não ter dito nada quando viu o Lotus do seu adversário com problemas no seu fundo e deixado que quebrasse, mas fez o contrário, ao assinalar que ele tinha problemas e ir às boxes. O problema foi resolvido, mas depois perdeu uma volta e acabou em quarto lugar, conseguindo assim os seus primeiros pontos do campeonato. Eram tempos diferentes, simplesmente.
No final, Stewart ganhou pela quarta vez seguida, quinta vitória da temporada em sete corridas e uma temporada que era cada vez mais sua. Os espectadores ficaram felizes com o espectáculo que tinham visto, e se calhar alguns tinham consciência de que era um aperitivo para aquilo que iriam ver no dia seguinte, a algumas centenas de milhares de quilómetros dali. O tal pequeno passo para uma pessoa, e o grande salto na Humanidade.
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