No papel, esta deveria ter sido uma corrida onde os Mercedes não iriam ter a vida facilitada, mas quem viu os eventos de sábado, parecia que iria ser um passeio para Lewis Hamilton, Valtteri Bottas e os Flechas de Prata no geral, e os outros iriam vê-los só no pódio, com os melhores lugares. E iria ser uma corrida no seco. Contudo, um dia bastou para alterar tudo: a chuva, que poderia acontecer, mas em quantidade menor, decidiu trocar as voltas - pois era para acontecer no sábado - decidiu fazer a sua aparição no domingo. Primeiro, a chover copiosamente durante a noite e a manhã, e depois, na hora da corrida, e pista estava de tal forma molhada que na hora da partida, duas coisas tiveram de acontecer: todos trocaram por pneus de chuva, e a corrida iria acontecer por trás do Safety Car. Um mal necessário, de uma certa forma.
A volta de formação durou... três voltas, para ver se a pista secava, ou se a chuva parava. Esta iria aparecer de forma intermitente na hora seguinte, mas iria influenciar a corrida. Provavelmente muitos iriam perguntar em que volta Sebastian Vettel se iria despistar, se os Ferrari ficariam pelo caminho, para poder xingar em Mattia Binotto e já o despedir, como se fosse treinador de futebol do Brasileirão, e com quantos segundos os Mercedes iriam vencer sobre a concorrência. Em suma, com quantos paus a Mercedes iria ensinar a fazer uma canoa.
A realidade foi absolutamente diferente. Hamilton largou muito bem, com Max Verstappen a ser engolido por boa parte do pelotão, caindo para sétimo, mas depois recuperou e estabilizou, tentando recuperar o tempo perdido. Atrás, Vettel passou oito carros e já se aproximava dos dez primeiros quando Sergio Perez perdeu a traseira do seu Racing Point e bateu no muro, fazendo com que o Safety Car entrasse em pista pela segunda vez. Uma excelente oportunidade para que boa parte do pelotão trocasse de pneus, para os intermédios, o jogo verde que iria ser o padrão, enquanto a pista estivesse molhada.
Quando recomeçou a corrida, na volta seis, Magnussen, que era segundo por causa dos outros terem trocado de pneus, acabou por ser engolido por Bottas e Verstappen, enquanto Vettel já estava nos pontos, atrás de Raikkonen. Leclerc já era quarto, depois de passar o dinamarquês da Haas. Mas pouco depois, era assediado por Hulkenberg, no seu Renault. Já Vettel aproximavam-se de Magnussen e pouco depois, passaram-o.
Na frente, os Mercedes estavam a afastar-se de Verstappen, e pareciam dominar ainda mais que o normal, na pista seca. Pela volta 10, havia já um trilho, mas já se previa mais chuva para dali a dez minutos, logo, o dilema de ficar com os pneus intermédios até voltar a pista a ficar molhada.
Na volta 15, algo raro: um motor a explodir. O infeliz foi Daniel Ricciardo, que viu o seu motor ir ter com o seu Criador, e por causa disso iria ser o segundo piloto a ver o resto desta corrida nas bancadas. Leclerc foi às boxes voltando a ter intermédios, mas não houve grandes alterações. Mas com o passar das voltas - e as ameaças de chuva - na volta 22, Kevin Magnussen decidiu colocar... pneus para seco. Ousado! porque ainda chovia. Pouco, mas com chuva.
Duas voltas depois, a Ferrari chamava Vettel para ir às boxes e colocar secos, ainda não sabendo se compensaria ou não. Mas como ele estava a fazer uma corrida de recuperação, eles tinham de ser ousados. Na frente, Verstappen aproximava-se de Bottas para ser segundo, enquanto Leclerc aproximava-se e ambos. E na volta 26, o holandês ia para as boxes para colocar médios. E com isso, veio o resto do pelotão para trocar de pneus. Mas não estava fácil: Verstappen fez um pião na zona de Estádio.
Na volta 29, Lando Norris tornava-se no terceiro abandono, e não sabíamos, nas era o inicio de uma cadeia de eventos que iria afetar o resto da corrida. O Safery Car Virtual entrou e por causa de mais uns pingos de chuva, alguns dos que estavam em secos iriam ficar... inúteis. Primeiro Leclerc, que ficou sem tração na última curva e bateu no muro das boxes, e depois... Hamilton, que na mesma curva, apenas deu cabo da asa dianteira, mas teve sorte, porque ele poderia continuar. Contudo, ao entrar nas boxes, ele fez fora dos regulamentos e ele, óbviamente, foi investigado. Para piorar as coisas, perdeu quase um minuto por causa da asa nova e dos pneus intermédios... que não estavam ali. E com isto tudo, o Safety Car estava na pista pela terceira vez, e Max Verstappen, que se tinha despistado (!) liderava a prova, com Huklenberg em segundo (!!), no seu Renault.
Na volta 34, a corrida regressava, com mais pista molhada e Max estava na frente, com Hulkenberg no segundo posto, e os Mercedes a pressionarem. Mas para Hamilton, teria mais dificuldades: os comissários deram cinco segundos de punição.
Verstappen afastava-se de Hulkenberg, que aguentava Bottas para ser segundo. Quando o finlandês o passou, o holandês já tinha uma vantagem de oito segundos na liderança. Pouco depois, Hamilton fez a mesma coisa. A pista secava mais um pouco até que na volta 41, Hulkenberg era o terceiro piloto a bater na última curva, com mais uma paragem do Safety Car. Com a vantagem a acabar, Verstappen e Vettel decidiram trocar para novo jogo de intermédios para ter melhores chances.
Na volta 44, a corrida recomeçou, mas os pilotos já tinham aviso de que não iria chover mais. Logo, pouco depois, por causa da pista, os pilotos trocaram para meter secos. Verstappen estava na liderança, mas pouco depois foi Hamilton... que ainda tinha uma punição para cumprir. Nas voltas seguintes, não só foram os Red Bull a darem nas vistas, como também os Toro Rosso, graças a Alex Albon e Daniil Kvyat. Atrás, com a punição a cumprir, Hamilton estava fora dos pontos... e Lance Stroll em segundo lugar, porque trocou para secos na volta antes da saída do Safety Car.
Stroll perdeu o segundo posto a favor do Toro Rosso do russo, enquanto atrás, Vettel era sétimo e ia a caminho dos melhores lugares, tentando apanhar Alexander Albon, que ia na sua frente. E no meio disto, Hamilton, que já estava mal, ficou ainda pior. Depois de novo despiste, era... último, atrás até dos Williams! E faltavam dez voltas para o final!
Mas pior, pior, foi Bottas, que não só não conseguia passar Lance Stroll na terceira posição, na primeira curva, ele pisa a zona húmida e a traseira escapou, acabando por bater na barreira de pneus. E claro, mais uma vez, o Safety Car na pista.
Quando tiraram o carro do finlandês, a corrida retomou na volta 59, Vettel partiu ao ataque, primeiro, passando Sainz, e depois, atacou Stroll e Kvyat para chegar ao pódio. O segundo posto era uma verdadeira recompensa, porque na frente, Max Verstappen seguia, sem problemas e fazendo a sua corrida à parte para vencer pela segunda vez na temporada. E a sua segunda vitória em três corridas possíveis, com Sebastian Vettel a ser segundo, o melhor lugar possivel, mas a escapar de todas as armadilhas, e Daniil Kvyat, a dar à Toro Rosso o seu primeiro pódio em quase onze anos, e de novo, à chuva. E com mais uma revelação: ele tinha sido pai na véspera. E os Mercedes, pela primeira vez desde o GP de Espanha de 2016, não pontuavam, porque Hamilton era... 11º, apenas na frente dos Williams de Robert Kubica e George Russell.
E assim, pela terceira corrida consecutiva, a Formula 1 tornava-se imprevisível. E pior ainda, desta vez, eram os Mercedes a ficar com a fava, numa corrida onde eles tinham tudo para vencer: numero redondo, a pole e tudo o mais. E o monopólio era de pilotos que tinham passado pela Academia da Red Bull. Sim a Formula 1, quando quer, tem as suas ironias... mas a chuva também ajuda.
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