A "Santissima Trindade", no fim de semana do GP de Itália de 1973, nesta foto irada por Bernard Cahier: Ken Tyrrell, o lenhador que sabia dirigir uma equipa, Derek Gardner, o homem que desenhou chassis vencedores e inovadores, e Jackie Stewart, o piloto que os levou a vitórias e campeonatos.
Tyrrell, ou o "tio Ken", morreu faz hoje 18 anos, a 25 de agosto de 2001, aos 77 anos. Tinha vendido a sua equipa quatro anos antes, depois de 27 anos de bons serviços ao automobilismo. É certo que a sua equipa era uma pálida sombra do que tinha sido a partir de 1983, altura da sua última vitória, mas entre 1970 e 1978, era uma marca a ter em conta, graças aos motores Cosworth e aos chassis desenhados por Gardner, como o 003, de 1971, e os 005/006, de 1973, bem como P34 de seis rodas, guiado por Jody Scheckter e Patrick Depailler.
Nascido a 3 de maio de 1924, no Surrey britânico, serviu na II Guerra Mundial, foi comerciante de madeira e piloto de Formula 3 e Formula 2, antes de em 1959, decidido ser diretor desportivo de uma equipa de Formula Junior. E foi ali que, em 1963, descobriu Jackie Stewart e viu o talento que ele tinha para guiar um carro de corridas, desconhecendo que era... disléxico.
Em 1968, arranjou um contrato para ter os motores Cosworth DFV (Double Four Valve) e aproxiou-se da Matra no sentido de ficar com o seu chassis e dirigir a sua equipa de Formula 1. Em troca, teriam também um bom piloto, Stewart, que tinha saído da BRM no final da temporada anterior. A parceria deu frutos em 1969, com o MS80 e o primeiro título mundial do piloto escocês, mas a Matra queria que ficassem com o V12 francês. Tyrrell resolveu encomendar chassis March para 1970, como medida provisória, antes de fabricar o seu, que estreou no GP do Canadá daquele ano... com uma pole-position.
Até 1973, Tyrrell e Stewart foram uma parceria vencedora. Mas quando a 6 de outubro de 1973, o francês Francois Cevért sofreu o seu acidente fatal e Stewart aproveitou para pendurar de vez o capacete, com o terceiro título mundial no bolso e 27 vitórias no currículo, foi o separar de águas em relação ao resto da carreira.
Um bom exemplo é a "lenda" que se conta em relação a Ronnie Peterson. Quando ele apareceu para dar as suas primeiras voltas no P34 de seis rodas, ele afirmou: "nunca vencerei ao volante deste carro". Verdade ou não, venderam-se camisetas com essa frase, e o sueco só conseguiu um pódio em 1977.
De tão agarrado a uma formula vencedora, Tyrrell não viu o futuro: desprezou os Turbos até ser bem tarde, em meados da década de 80, que para diminuir os 220 cavalos de diferença, recorreu à trapaça. Como resultado, a então FISA excluiu-os do Mundial de 1984. Meteu um Renault Turbo no ano seguinte, mas só voltou a um pódio em 1990, com Jean Alesi e o 019, o primeiro carro com frente levantada, obra do génio Harvey Postlethwaite.
Com o aumento de custos, e sem ninguém a querer continuar onde deixou, Tyrrell venceu a equipa em 1997 para a British American Tobacco, que virou BAR em 1999. Antes de morrer, ainda foi presidente do prestigiado British Racing Drivers Club, com sede em Silverstone. A grande ironia é que o seu descendente direto virou Brawn GP em 2009 e a partir do ano seguinte, Mercedes GP, que desde 2014... domina a Formula 1.
É... o mundo dá voltas, Tio Ken.
É... o mundo dá voltas, Tio Ken.
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