Ao mesmo tempo que Ayrton Senna via cair por terra (quase) todas as suas esperanças de renovar o título mundial, no Estoril, no outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, na pista de Laguna Seca, Emerson Fittipaldi completava a sua estrada rumo à redenção, ao se tornar no primeiro estrangeiro a vencer o campeonato CART. Então com 42 anos de idade, e nove depois de ter pendurado o capacete na Formula 1, depois da aventura da Copersucar, Fittipaldi voltava a conquistar um espaço no coração dos brasileiros.
Foi um caminho duro, este regresso. Em 1982, os irmãos tinham fechado as portas da equipa na Formula 1, com dívidas de milhões, praticamente falidos e com o prestígio em baixo. Emerson esteve um tempo em reflexão, para ver que caminho seguiria. Um dia, viu Mário Andretti a bordo de um carro da Newman-Haas e perguntou o que fazia mover. ele respondeu que ainda tinha prazer no que fazia. E de uma certa maneira, foi o que fez. Foi para os Estados Unidos em 1984, e de uma certa forma, o Brasil tinha-se esquecido dele. O que até foi bom, porque com o tempo, começou a voltar a entrar nos eixos.
A sua primeira vitória foi em 1985, pela Patrick Racing, a equipa que o iria acolher nas quatro temporadas seguintes, até 1989, quando corria com chassis Penske, que era o melhor do pelotão. Com um "clone" do carro da equipa oficial - o que fez confundir muita gente - Enerson partiu para essa temporada com aspirações ao título, e já com seis vitórias no bolso.
E de repente, em maio, aconteceu as 500 Milhas de Indianápolis, e o seu duelo com Al Unser Jr. Um duelo que acabou a duas curvas do fim, favorável ao piloto brasileiro. A sua vitória colocou-o de novo no mapa, pois era o primeiro estrangeiro desde Graham Hill a colocar a sua cara no troféu Borg-Warner e a levar para casa mais de um milhão de dólares, naquela fotografia agora icónica, dele com o seu carro coberto de maços de notinhas verdes...
Ali, Enerson partia para a primeira de cinco vitórias, três delas seguidas, em Detroit, Portland e Cleveland, mais uma em Nazareth, para além de pódios em Meadowlands e Toronto, acabando a temporada com 196 pontos, mais dez que Rick Mears, e tornando-se no primeiro estrangeiro campeão desde a criação da CART, em 1979. E tornava-se dos poucos que vencia o campeonato num ano em que também vencia a Indy 500.
Para uma nação que vivia Senna e Piquet, ver de novo Fittipaldi nas primeiras páginas dos jornais, depois de tudo o que tinha passado com a sua equipa era um feito. Emerson merecia, especialmente por causa do seu arrasamento de carácter por causa do projeto Copersucar, demonstrativo da má face de um Brasil que só quer vencedores para idolatrar, talvez por causa da sua própria insegurança.
Emerson continuou a correr até aos 49 anos, ainda venceu outras 500 Milhas, mas não mais chegou perto de outro campeonato. Mas como na Formula 1, pavimentou o caminho para mais brasileiros, e também mais estrangeiros na categoria americana.
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