domingo, 29 de dezembro de 2019

Considerações sobre um 2019 automobilístico (4)

4 - E AGORA, O QUE VEM AÍ?


Parecendo que não, mas 2019 se tornou numa encruzilhada. O automobilismo está num tempo de transição, que será tão revolucionária como foi há cerca de um século, quando começou a massificação do automóvel. As alterações climáticas estão aí a bater à porta, e são quase inevitáveis, e a industria do transporte está a fazer a mudança tecnológica do motor a combustão para outras formas como a electricidade. Elon Musk é o Henry Ford do século XXI, e o resto do mundo começa a reconhecer que a industria automóvel tem de mudar, porque o mercado e os seus consumidores assim o exigem. E se não seguir, será uma sentença de morte.

O automobilismo não escapa, por muito que os detratores gritem o contrário. A Formula E está a ter um ascendente do qual não se pode negar a sua importância. Na temporada 2019-20, todas as equipas, menos duas, são de construtoras. Mercedes e Porsche são as mais recentes adições a uma competição que está a ganhar o futuro. E mesmo que a Formula 1 não vire elétrica por mais algum tempo - não na próxima década - outras competições estão a pensar nisso. E também se pensa noutras formas de energia.

A Formula 1 pensa em 2022, para mudar os seus regulamentos. Mantêm-se o motor V6 Turbo, mantêm-se a hibridização, graças aos sistemas de recuperação de energia, mas tornam-se em carros mais aerodinâmicos, e começam a cortar nos custos, para evitar que a piscina cheia de piranhas seja ainda mais mortal. Agora, há um limite de 175 milhões de euros em gastos, e há mais dinheiro para as equipas darem dinheiro.

Mas isso poderá fazer repensar a existência de algumas equipas na categoria máxima do automobilismo. Falou-se que a Mercedes poderá retirar-se como construtor e manter-se como mera fornecedora de motores, porque já cumpriu os seus objectivos. E a Renault, que a partir de 2020 será fornecedora única, estará a pensar se todo esse dinheiro na Formula 1 compensa, especialmente quando boa parte dos construtores estão a apostar na Formula E.

Nos Ralis, todos sabem que a Citroen se retirou de cena em 2019, enquanto se colocam dúvidas sobre a continuidade da M-Sport, pois ainda não foram anunciados os seus pilotos, e o apoio da Ford é não-oficial. Mas mesmo que o apoio esteja reduzido a dois, o WRC sobreviveria, pois foi assim que os ralis andaram durante boa parte da década passada e o inicio desta década, quando apenas Citroen e Ford andavam oficialmente a correr no Mundial.

Contudo, a FIA já anunciou que quer a hibridização dos carros em 2022, e algumas equipas colocaram dúvidas sobre a sua participação nesse novo campeonato. Aliás, a Citroen, antes de sair, tinha dito que não iria participar nessa fase, preferindo concentrar-se na Formula E, com a DS, e na Endurance, com os hipercarros da Peugeot, outra das marcas do grupo PSA.

Mas numa era onde, por fim, Ott Tanak quebrou quinze anos de domínio dos "Sebastiões" como campeões do mundo, a hipótese de um duelo entre Tanak e Ogier, ambos em equipas diferentes - o estónio foi para a Hyundai e Ogier substituiu-o! - poderemos ter um 2020 inesquecível nos ralis. Que será o último, porque o francês já anunciou a sua retirada.

A Endurance talvez seja, por estes dias, a competição mais falada. Os novos regulamentos fizeram criar a classe dos Hypercars, que a partir de 2022 serão feitos a partir de carros de estrada. De uma certa forma, serão os velhos GT's do final de década de 90 do século passado, e do qual algumas marcas já anunciaram o seu regresso, como a Peugeot. Haverá hibridização, mas a ACO está a apostar num protótipo de hidrogénio que pretende correr em 2024.

Contudo, pelo meio, a ACO e a FIA querem juntar a maior quantidade de carros no pelotão. Uma das chances são os DPi americanos, que correm na IMSA, e os pretendem juntar em Le Mans para ter a maior quantidade e variedade de carros a correr a clássica das 24 Horas, que como sabem, em 1923 fará o seu centenário. De uma certa forma, esta constante reformulação dos regulamentos poderá estar a "dinamitar" toda esta história dos Hypercars, apesar de algum entusiasmo das marcas que já andam a construir os seus modelos - Aston Martin. Toyota e Peugeot, mais a Kolles e a Glikenhaus, para começar.

Em suma, a nova década traz desafios em termos de regulamentos, num mundo em acelerada mudança. O automobilismo não está imune ao que se passa, à mudança de gostos, a uma nova geração que não quer mais os gostos da antiga, e do qual não se pode forçar, e avisa: se mantiver tudo na mesma, os seus dias podem estar contados.

Amanhã, para finalizar, falarei sobre a velha e nova geração de pilotos.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...