Nos primeiros tempos do Rali de Portugal, antes do salto da Pedra Sentada, em Fafe, havia o Salto de Quiaios, menos espectacular, mas suficiente para umas belas fotografias. E quando se vê um Citroen DS21 a voar, fica-se espantado com a sua leveza, contrastando com o aparente peso do "Boca de Sapo".
A Citroen tem uma tradição de ralis, mas não é de agora. O DS foi o primeiro grande carro de rali, e em 1966, Pauli Toivonen foi o triunfador, mas as circunstâncias foram tão controversas que o finlandês nunca o comemorou, praticamente o repudiou. Vinte anos mais tarde, quando o seu filho Henri Toivonen triunfou na estrada, afirmou que "a honra da familia tinha sido resposta".
Mas houve vários pilotos que ajudaram no desenvolvimento e na reputação do DS. Um deles, aqui em Portugal, era o Francisco Romãozinho. Um piloto que ganhou o gosto pelas corridas quando a sua avó lhe deu um Mini Cooper como prenda de passagem de ano no Liceu, Romãozinho foi ajudar a Citroen pouco depois de ter vencido o seu primeiro rali de Portugal, em 1967, a bordo de um Renault 8 Gordini. Por esta altura tinha congelado o seu curso de Arquitectura e andava a fundo nas estradas portuguesas e da Europa, em 1973, aproveitou o facto do rali fazer parte do campeonato do mundo recém criado para mostrar o que valia.
As coisas deram certo, com o terceiro lugar final, que poderia ter sido melhor, caso a sorte estivesse mais do seu lado. Contudo, o resultado colocava-o no pódio, o primeiro de um português naquilo que viria a ser mais tarde o WRC.
Romãozinho, falecido na quinta-feira aos 77 anos, depois de um longo declínio com a doença de Parkinson, teve uma longa carreira no automobilismo, e nos anos 70, era essencialmente piloto do Citroen, usando o DS, CX e o Visa. Mas afirma ter adorado os DS modificados para meter o motor Maserati que o SM tinham com eles, e que lhes valiam 260 cavalos, pelo menos. Mas fez muito mais pelos automóveis, quer como dirigente - trabalhou para a Volksawagen, Fiat e Audi, para além da Citroen - trouxe a Skoda para Portugal, ainda a marca não estava incluida no grupo VAG, que iria acontecer pouco tempo depois.
Piloto respeitado por outros como Estanislao Reverter - o homem por trás do Alpinche, o Alpine com motor Porsche que encantou os espanhóis nos anos 70 - Romãozinho faz parte de um tempo que, inevitavelmente, vai acabando. Ars lunga, vita brevis.
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