Antes de Niki Lauda, antes de Michael Schumacher, antes de qualquer outro piloto, campeão ou não, que voltou à Formula 1 para uma segunda vida, este piloto que vou falar teve uma carreira longa e sólida, que tragicamente foi interrompida de maneira brusca. Foi um "all rounder" que se deu bem nos dois lados do Atlântico, tinha fortuna, ganhou fama e alguma tragédia, antes de ele mesmo se incinerar no altar dos sacrificados pela febre da velocidade.
A história de Peter Revson mistura fortuna, um pouco de elitismo, a busca do seu próprio caminho e a consagração antes do seu trágico final. E de uma certa maneira, foi o primeiro regressado à Formula 1, e a sua segunda passagem foi muito mais próspera que a primeira. De origem judaica, nasceu a 27 de fevereiro de 1939, em Nova Iorque, era o filho dos fundadores da Revlon, uma das maiores marcas de cosméticos a nível mundial. Ainda iria ter um irmão mais novo, Douglas, e duas irmãs, Jennifer e Julie Ann. O pai de Peter, Martin, iria viver mais 42 anos que seu filho, morrendo em 2016, aos 106 anos.
Peter, como seria de esperar, nascera em berço de ouro e viveu a vida sem problemas. Foi por isso que criou um "espírito livre" que quis viver a vida que sempre quis. Estudou engenharia em Cornell, mas não acabou o curso. Mas foi ali que conheceu algumas das personagens que iriam mudar a sua vida, como Teddy Mayer e o seu irmão Timmy, bem como Tyler Alexander.
Em 1962, abraçou o automobilismo, e com isso, perdeu a mesada dos pais, que como seria de esperar, reprovaram o seu estilo de vida. Revson não se importou e com 12 mil dólares que tinha juntado, foi para a Europa, arranjou um chassis Cooper e uma carrinha, e foi competir em tudo que era corrida. E foi assim que em 1964 chegou à Formula 1, graças a Reg Parnell. Até lá, dormia muitas vezes na carrinha e recolhia dinheiro dos "prize money" para sobreviver. E claro, pelo caminho conheceu pessoal das corridas, como Denny Hulme e Jochen Rindt, dois futuros campeões do mundo.
Mas a sua temporada na Formula 1, a bordo de um Lotus 25, nunca foi fácil. O melhor que conseguiu foi um 13º posto no GP de Itália. No final do ano, voltou a América, onde estavam prestes a aparecer duas competições bem interessantes, a Trans-Am e a Can-Am. E os seus amigos de Cornell estavam a ajudar a construir uma equipa à volta de um neozelandês interessante chamado Bruce McLaren.
Com o tempo, ganhou experiência, e no final da década começou a dar nas vistas. Em 1969, num Brabham-Repco construído para o efeito, chegou em quinto nas 500 Milhas de Indianápolis, e na Endurance, a bordo de um Porsche 908, chegou em segundo lugar nas 12 Horas de Sebring de 1970, ao lado de... imaginem só, Steve McQueen, que na altura preparava-se para o filme "Le Mans".
Quando Bruce McLaren morreu, a 2 de junho desse ano, Revson foi a escolha natural para a Can-Am. Triunfou e foi campeão em 1971, e nesse mesmo ano, fez a pole-position nas 500 Milhas de Indianápolis com o seu McLaren, e na corrida foi consistente, acabando no segundo lugar.
E ali começava uma era dourada para a sua carreira. E quando voltou à Formula 1, no terceiro carro da Tyrrell, no GP dos Estados Unidos, em Watkins Glen, ninguém sabia que o seu regresso, sete anos depois da sua última corrida, iriam encontrar um piloto bem maduro e bem mais consistente, com uma máquina vencedora.
Em 1972, torna-se piloto a tempo inteiro na equipa de Formula 1. Mas como mantinha os compromissos quer com a USAC, quer com a Can-Am, em três corridas foi substituído pelo britânico Brian Henton, um "super-sub" nesses anos 70. Mesmo assim, ele teve quatro pódios e uma pole-position no GP do Canadá, em Mosport, onde conseguiu o seu melhor resultado do ano, um segundo lugar, atrás de Jackie Stewart, o vencedor.
No ano a seguir, a McLaren estreava o seu novo modelo, o M23, e Revson aproveitou bem as capacidades do carro desenhado por Gordon Coppuck. Tinha conseguido um segundo lugar em Kyalami, ainda com o M19, mas com ele conseguiu a sua primeira vitória em Silverstone, depois da carambola da primeira volta, onde onze carros foram eliminados. E foi uma luta à distância com Ronnie Peterson e o seu companheiro de equipa, Denny Hulme.
E se pensavam que aquilo tinha sido sorte, no Canadá, aproveitou bem as condições do tempo para triunfar uma segunda vez. Mas até acontecer, esperou duas horas ao frio por causa da confusão causada pelo "pace car" guiado por Eppie Witzes, que cortou o carro que não devia e obrigou os comissários a fazerem cálculos manuais para saber quem ganhou. É que no final dessa corrida, todos estavam convencidos que tinha sido Emerson Fittipaldi.
No final da temporada, Revson igualou o quinto posto na geral, conseguido no ano anterior. Ao todo, tinha conseguido duas vitórias, oito pódios, uma pole-position e 61 pontos. Nada mau para um regressado que oito anos antes, tinha entrado e saído pela porta pequena. A maturidade tinha dado efeito. E ele gozava a vida: tinha casamento marcado com uma Miss Mundo, Majorie Wallace, que tinha conhecido em Indianápolis.
Mas apesar das amizades com Mayer e McLaren, ele não ficou. Teddy Mayer queria Emerson Fittipaldi e relegá-lo para o lugar de terceiro piloto era algo do qual ele não aceitava. Assim sendo, foi para a Shadow, onde nas duas primeiras corridas do ano, na Argentina e no Brasil, conseguira boas prestações na qualificação, mas não terminou qualquer corrida.
E pouco antes do GP da África do Sul, a 22 de março de 1974, menos de um mês depois de ter feito 35 anos, perdeu o controlo do seu Shadow e o carro entrou por baixo das barreiras de proteção na curva Crowthorne. A sua suspensão de titânio, um material duro, mas maleável sob stresse, quebrara-se e ele perdeu o controlo do carro. Teve morte imediata. Sem comissários de pista por perto, tiveram de ser outros pilotos como Graham Hill e Dennis Hulme a ajudar a apagar o fogo. Fala-se que foi essa visão que levou o neozelandês, campeão de 1967 e seu amigo, que o levou a pendurar o capacete no final dessa temporada.
No final, Revson teve uma segunda chance na vida, e aproveitou para corrigir a injustiça de não ter tido sucesso na Formula 1. Apesar do pouco tempo que teve, foi o suficiente para ajustar contas e ter o seu lugar na história. Foi um vencedor.
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