Ron Tauranac, o australiano que ajudou a fundar e a construir a Brabham, bem como mais tarde também ajudou a fundar a Ralt, fabricante de chassis nos anos 80 e 90 na Formula 3 e Formula 3000, morreu esta sexta-feira na sua casa em Gold Coast, no leste da Austrália. Tinha 95 anos e deixa duas filhas.
"A família Tauranac anuncia com pesar a perda de Ron Tauranac aos 95 anos.", começa por dizer a familia no comunicado oficial.
"Ron faleceu em paz durante o sono durante as primeiras horas da manhã de sexta-feira em sua casa na costa do sol em Queensland, na Austrália. Ativo, saudável e independente até o fim, ele sentiu a necessidade de conseguir algo constantemente e sempre teve o próximo objetivo em mente.
"Ele nunca descansou sobre os louros, com sua mente afiada de engenharia sempre envolvida. Quando perguntado recentemente qual era o melhor carro que ele projetou, ele respondeu simplesmente 'o próximo'. Ele levou uma vida extraordinária. Nós dois estamos incrivelmente orgulhosos do que ele alcançou e profundamente entristecidos por sua perda".
Nascido na Grã-Bretanha, a 13 de janeiro de 1925, emigrou em criança para a Austrália com a familia, e cedo mergulhou na mecânica, com o seu irmão Austin. Chegou a correr em subidas de montanha, batizando o seu carro de Ralt - as iniciais de ambos - quando conheceu Jack Brabham, que também participava em subidas de montanha antes de rumar para a Grã-Bretanha e tentar a sua sorte no automobilismo. A amizade entre ambos iria ser para toda a vida, apesar dos feitios diferentes que ambos tinham.
Em 1959, depois de se ter sagrado campeão mundial com a Cooper, Brabham ofereceu um emprego a Tauranac, e dois anos mais tarde, decidiram fazer chassis sob a firma Motor Racing Developments (MRD). O primeiro chassis ficou pronto em 1962, o BT7, e a sua nomenculatura juntava os iniciais de ambas: Brabham e Tauranac. Relutantemente, Brabham deu à MRD o seu apelido depois de Rob Walker ter dito o que essa sigla significava em francês...
Na biografia "The Jack Brabham Story", escrita por Doug Nye, ele fala sobre a relação com Tauranac: "Ele foi a única pessoa com quem eu teria uma parceria. Ele tinha consciência das falhas e era inigualável."
No resto da década, a Brabham conseguiu dois títulos mundiais, o primeiro em 1966 com Jack Brabham, e o segundo no ano seguinte, com o neozelandês Dennis Hulme ao volante. Para além disso, e com o motor Repco, conseguiram dois títulos de Construtores em 1966 e 1967, os únicos conquistados pela equipa.
Em 1970, aos 44 anos, Brabham largou o volante e vendeu a sua parte para Tauranac, que continuou em 1971 com Graham Hill ao volante e o BT34 "Lagosta". Contudo, a meio do ano, concordou em vender a equipa por 130 mil libras a Bernie Ecclestone. Em 1994, numa entrevista à Motorsport britânica, disse simplesmente que "tinha desistido". Depois de ajudar a desenhar o chassis Trojan de Formula 1, em 1974, decidiu voltar à ação, fundando a Ralt.
Ao longo dos anos 70 e 80, especialmente na Formula 3 britânica, a Ralt tornou-se vencedora. Primeiro com Larry Perkins, outro australiano, e depois com Nelson Piquet e Derek Warwick, o sucesso continuou por mais de uma década, já com Mika Hakkinen e Rubens Barrichello, em 1990 e 91. Ao mesmo tempo, na Formula 2, com motores Honda, foram tricampeões europeus em 1981, 83 e 84, guiados por pilotos como Geoff Lees, Mike Thackwell, Jonathan Palmer, Kenny Acheson e Roberto Moreno.
"A Ralt teve muito mais sucesso do que a Brabham como empresa", disse Tauranac, anos depois. "Mas como não subimos à Formula 1, não recebemos publicidade".
Em 1988, vendeu a sua empresa para a March e ficou como consultor. Regressou à Austrália em 2002, com a morte da sua mulher, mas nunca ficou longe das oficinas e das pranchas. Ativo até ao fim, como sempre gostou. Ars lunga, vita brevis.
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