Esses árabes iam jantar no restaurante mais conhecido da cidade, o Tavares Rico, onde a elite lá ia, a bordo de um Rolls Royce Silver Cloud, com motorista e tudo, e os jornais queriam cobrir isto, especialmente "O Século", um dos mais prestigiados da altura - extinguiu-se algum tempo depois, em 1977 - queria um exclusivo desses árabes que alegavam estar ali em negociações com o governo de então.
O jornal colocou em destaque na edição do dia seguinte, só que... ninguém sabia quem eles são, especialmente o "sheik Ibn Saddek", e o governo, bem como a policia secreta, queria saber que coisa era esta. Depois de uma inquirição, descobriu-se que... era tudo uma brincadeira do qual alguns caíram, bem caídinhos, especialmente o diretor do jornal, José Mensurado, que pouco tempo antes tinha alcançado o prestigio por ter feito a cobertura da chegada do homem à Lua pela RTP, o então canal monopolizador de televisão por essa altura.
Passado poucos dias, soube-se do logro: não tinha sido mais do que um brincadeira tirada por um grupo de rapazes da elite. Eles se chamavam Michel Costa, Frederico Abecassis, Eduardo Rocha, Manuel Correia e o Jorge Correia de Campos, dono do Rolls Royce negro que os levou ao restaurante. O organizador era Manecas Mocelek e quem também estava era o Nicha Cabral, o piloto. Para ele, que morreu na semana passada aos 86 anos, sabia que a vida tinha de ser vivida de pedal a fundo, porque no dia seguinte poderiam estar todos mortos, especialmente ele, que por esta altura tinha ficado um ano a recuperar de ferimentos sofridos num acidente em Rouen- Les Essarts, uma pista que outros como Jo Schlesser e Gerry Birrell, para falar de alguns, não tiveram a mesma sorte.
Este episódio vivido por ele, e descrito na sua autobiografia, mostrava também a sua face de bonacheirão entre corridas, e esta em particular causou sensação numa Lisboa que era muito pouco cosmopolita, e que tipos vestidos de forma estranha e a andar num carro vistoso era o suficiente para estar na primeira página de um jornal...
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