John Paul Jr., membro da familia de pilotos que marcaram presença na Endurance dos anos 70 e 80 quer nos Estados Unidos, quer na Europa, morreu ontem aos 60 anos de idade, vitima de complicações causadas pela doença de Huntington, do qual foi diagnosticado há mais de duas décadas. Vencedor das 24 Horas de Daytona por duas vezes e 12 Horas de Sebring em 1982, bem como tendo sido campeão da IMSA nesse mesmo ano e vencedor de uma prova na CART, em Michigan, para além disso, John Paul Jr era filho de John Paul, cuja carreira na IMSA ficou manchada pelo seu envolvimento no contrabando de droga e que atingiu o seu filho, ao ponto de passar três anos atrás das grades.
“A família IMSA está triste quando soubemos hoje do falecimento de John Paul Jr.”, disse o presidente da IMSA, John Doonan, no comunicado oficial da categoria. “John era um talento incrível e geralmente era visto, habitualmente, em drift nas quatro rodas, bem na frente do pelotão, especialmente em sua temporada de 1982 [em que foi campeão]. Pessoalmente, sempre o associarei com a condução daquele icônico Porsche 935 JLP-3 azul e amarelo numero 18. Mas o que mais me marcou naquela temporada do campeonato em 1982 foi a corrida de Road America, quando ele trocou para o vermelho e branco nº 18 JLP-4. Eu fui capaz de assistir aquela corrida com meu pai sentado em Fireman’s Hill fora da curva 5.", prosseguiu.
Nascido a 19 de fevereiro de 1960 em Muncie, no Indiana, começou a entrar no automobilismo quando terminou o liceu, ao serviço da equipa familiar. Depois de um inicio complicado, na Skip Barber Racing School, o seu pai comprou-lhe um chassis de Formula Ford, onde se seu bem nas provas da SCCA (Sports Car Club of America). A partir de 1980, na equipa do seu pai, a sua carreira descolou, mas foi também nessa altura em que teve os seus problemas com a justiça. Desde os 15 anos que ajudava o seu pai no negócio do contabando de marijuana, e aos 19 anos, tinha já levado uma sentença suspensa de três anos.
Contudo, nesse ano de 1980, acabou em quarto lugar na IMSA, a bordo de um Porsche 935, o que fez olhar para mais altos voos. Segundo em 1981, tornou-se campeão no ano seguinte, numa temporada de sonho. Primeiro, venceu as 24 Horas de Daytona ao lado do seu pai e de do alemão Rolf Stommelen, num Porsche 935, e seis semanas depois, as 12 Horas de Sebring, também com o seu pai. E com o Lola T600 cliente, acabou sendo campeão, o mais jovem de sempre da IMSA, porque ele tinha apenas 22 anos.
No ano seguinte, John Paul Jr. alargou os seus horizontes para a CART, onde triunfou no Michigan, após uma manobra nas últimas voltas sobre Rick Mears. Conseguiu mais três pódios e uma pole-position em Ceasars Palace, onde acabou em segundo, em cima de Mário Andretti. No final dessa temporada, foi oitavo no campeonato. Mas por essa altura, voltava a ester em sarilhos com a justiça: o seu pai tinha atirado sobre uma testemunha federal e... sobreviveu, indo logo em fuga. Sem isso, a equipa familiar desaparecera e a sua temporada na IMSA fora modesta.
Em 1984, ao lado de Jean Rondeau, foi segundo classificado num Porsche 956 nas 24 Horas de Le Mans, repetindo o mesmo posto nas Seis Horas de Watkins Glen. A sua temporada de CART foi irregular, correndo por quatro equipas, mas conseguindo um terceiro posto em Ceasar's Palace, em Las Vegas. Mas por esta altura, a justiça carregou sobre ele, sendo acusado pela mesma testemunha que o seu pai tentou matar e acabando em julgamento. Acusado de contrabando e evasão fiscal, foi condenado a 15 anos de cadeia, porque sobretudo, não queria testemunhar contra o pai.
Parecia que a sua carreira tinha acabado ali, mas ao fim de dois anos numa prisão de minima segurança e com a ajuda de muita da gente do meio automobilistico, que testemunharam o seu comportamento em prova, acabou por ser libertado e começou uma segunda vida a partir de 1989. Continuou a competir, mas em equipas de segunda linha, até que em 1996, aproveitou a separação entre a CART e a IRL para ter uma oportunidade de andar entre os da frente. Mas não na IMSA, onde voltou a vencer as 24 Horas de Daytona em 1997, ao lado de... sete pilotos, entre eles os britânicos Andy Wallace e James Weaver, e os americanos Butch Letzinger, Elliot Forbes-Robinson, James Dyson e John Schneider. A razão de toda esta multidão era simples: o primeiro carro tinha avariado e eles emparcaram no segundo para os ajudar a chegar à vitória.
Em 1998, aos 38 anos, venceu na oval do Texas, e também o seu melhor resultado de sempre nas 500 Milhas de Indianápolis, acabando na sétima posição e vencendo o Scott Brayton Trophy. A sua última corrida foi em 2001, quando notou que tinha problemas de coordenação quando guiava o seu Corvette GT-1 e lhe foi diagnosticado a Doença de Huntington, uma doença neurológica degenrativa, que é hereditária e que tinha reclamado as vidas da sua avó, mãe, tia e irmã. Em 2018, a jornalista Silvia Wilkinson escreveu uma biografia dele, sobre a sua carreira e a sua batalha com a doença.
“Pude por fim encontrar John em pessoa pela primeira vez em Long Beach durante a última década. Ele me pareceu um homem muito gentil. John lutou muito contra a Doença de Huntington nos últimos anos... francamente, com o mesmo esforço e energia que demonstrou na pista. Sentiremos sua falta, John Paul.”, concluiu Doohan no comunicado oficial.
Ars lunga, vita brevis, John Paul Jr.
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