O automobilismo não são só os pilotos, os carros e os lugares. É muito mais do que isso. A paisagem automobilistica tem muitas outras pessoas que contribuiem para a completar, desde os engenheiros e mecânicos, do qual sem eles os carros pouco ou nada funcionarão, passando pelos jornalistas e fotógrafos, que dão cor e vida às provas, e mostrarão a alguém que esteja longe quem são as pessoas e os carros que batem recordes de velocidade e vencem provas épicas. Não é raro lembrar de profissionais da comunicação que marcaram uma era do automobilismo, especialmente na Europa, que vão desde fotógrafos como Bernard e Paul-Hanri Cahier, franceses pai e filho, fotógrafos de renome, ou Harald Schlegelmilch, alemão, e também fotógrafo, bem como jornalistas escritos, como o suíço Gerald Crombac, e televisivos, como o britânico Murray Walker, o austriaco Heinz Pruller, o italiano Mário Poltronieri e claro, no Brasil, Galvão Bueno e Reginaldo Leme.
Mas houve em tempos algo distantes, pelo menos para a nossa geração, alguem que definiu muito do que é o profissional da comunicação e ótimo divulgador do automobilismo. Mas o que poucos sabem é que era um apaixonado, e a uma certa altura na vida, ajudou a inventar a profissão de navegador em corridas automobilisticas de longa distância. E neste mês, comemora-se o seu centenário. Eu hoje falo de Denis Jenkinson.
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Nos quarenta anos seguintes, "Jenks" ou "DSJ" passava os seus verões viajando pela Europa e seus invernos em uma sucessão de "casotas" no "countryside" britânico, acabando por se estabelecer perto de Crondall, em Hampshire, numa casinha decadente, sem eletricidade ou água, em grande parte cheia de seus arquivos e peças de veículos que ele estava "mexendo". Ele era lendário pela falta de amenidades domésticas básicas na sua casa. Para ele, nada importava a não ser correr. E a sua proximidade com as equipas e pilotos, bem como seu estilo de escrita coloquial e sua paixão óbvia e duradoura pelo automobilismo é que o fez consolidar a sua eputação e respeito entre todos.
E os seus carros favoritos tanto poderiam ser um Jaguar E-Type como um Citroen 2CV.
Mas nos anos 50, ainda não queria largar tão facilmente o automobilismo. Amigo pessoal de Stirling Moss, participa em três edições das Mille Miglia, a corrida de mil milhas entre Brescia e Roma, ida e volta pelas dificeis estradas do centro de Itália. E a edição de 1955 entra na lenda porque Jenkinson é o navegador de Moss no seu Mercedes numero 722, que contrasta com Juan Manuel Fangio, que guia sozinho o outro carro da marca. "Jenks" tem uma pequena caixa no qual dita o percurso, através de um rolo que ia se mostrando à medida que se seguiam na estrada, para evitar perder tempo nos cruzamentos. A maneira como ambos venceram, e depois o livro que ele escreveu, "The Racing Driver", detalhando a maneira como foi aquela corrida, entrou na lenda do automobilismo, em todos os aspectos. (...)
Dennis Jenkinson era uma personagem colorida, mais uma das que polvilhavam o pelotão da Formula 1 na segunda metade do século XX. Antigo piloto de motos, campeão do mundo de sidecar em 1949, acabou por se tornar correspondente da revista Motorsport por mais de duas décadas, cobrindo as corridas europeias. Seu estilo era algo seco, mas vivia de modo excêntrico, com os seus carros, num lugar onde tinha comodidades bem frugais. Amigo de diversos pilotos, tinha amizades mais especiais com Stirling Moss, onde partilhou a condução nas Mille Miglia de 1955, acabando como vitorioso, e nos tempos finais, com o brasileiro Ayrton Senna, do qual ele ouvia de forma reverente.
Nascido a 20 de dezembro de 1920, Jenkinson morreu em novembro de 1996, aos 75 anos de idade. É sobre ele que falo este mês no Nobres do Grid.
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