quarta-feira, 17 de março de 2021

A imagem do dia

 


Nascida em Adenau e filha dos proprietários do restaurante "Pistenklause", o Nordschleife basicamente se tornou a sua vida. Estudou para a hotelaria, mas na realidade, o que gostaria era de guiar à volta do circuito o mais rapidamente possivel. Contudo, sendo garota, ser piloto seria visto como algo "contranatura", mas ela não se importou. Começou cedo a andar em carros, e para andar bem, nada como ter a melhor pista de ensaios do mundo no seu quintal. Tem "apenas" 20,8 quilómetros e para cima de 120 curvas, mas nada que a prática alcance a perfeição. E quando ela se tornou num dos melhores, começaram a conhecer o seu nome: Sabine Schimtz. E começaram a dar-lhe títulos como a de "rainha". Porque era um título merecido. 

Competiu e mostrou que tinha estofo de campeão. Venceu as 24 Horas de Nurburgring em 1996 e 97, foi campeã da VLN Series em 1998, e competiu até bem tarde - fora terceira nas 24 Horas de 2008, a bordo de um Porsche 997, e segunda na edição de 2014 - durante uns tempos decidiu pegar num BMW M3 e o converter num taxi, para mostrar às pessoas como é guiar naquele circuito no meio da floresta, e claro, pregar um susto de vez em quando. E com o tempo, as pessoas viam que tinha jeito para guiar e para comunicar. 

As coisas andaram assim até ao dia em que ela conheceu Jeremy Clarkson, no inicio do século. Já era "das kaiserin von Nurburgring" (a raínha do Nurburgring), e o apresentador britânico decidiu apanhar boleia no seu taxi. A maneira como comunicava o seu entusiasmo interessou ao pessoal do Top Gear, e certo dia em 2003, depois de ele ter feito um tempo de 9:59 minutos a bordo de um Jaguar, desafiou-o afirmando que faria esse tempo... numa carrinha. Desafio aceite, foram buscar uma Ford Transit, tiraram todos os seus acessórios e ela deu o seu melhor, usando todo o seu conhecimento da pista para fazer cumprir o seu repto. Não conseguiu... por muito pouco. Mas foi melhor que ele nesse Jaguar, ao fazer 9:12 minutos, 47 segundos mais veloz.

Quando os três foram embora, o Top Gear lembrou-se dela para o novo alinhamento, com Rory Reid, Chris Harris, Chris Evans, Matt LeBlanc e Eddie Jordan. Foi uma confusão, mas Sabine foi das coisas mais interessantes naquela cacofonia que aconteceu no primeiro ano pós-Clarkson/Hammond/May. Sobreviveu ao primeiro corte nos apresentadores, e ficou até ao atual trio com Harris, Paddy McGuiness e Andrew Flintoff. Mas por esta altura, já sofria o cancro que a viria derrubar, do qual só revelou ao mundo no verão passado, em plena pandemia.

Hoje acordamos com a noticia do seu triste desfecho, apenas com 51 anos de idade. Ficou o sorriso de uma piloto carismática, que conhecia como ninguém um dos maiores templos do automobilismo. Ars lunga, vita brevis. 

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