domingo, 25 de abril de 2021

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O triste final de Michele Alboreto, há precisamente vinte anos, na oval de Lausitz, quando testava o seu Audi para as 24 horas de Le Mans. 

De Alboreto, todos falavam que era uma pessoa simpática, não partia um prato, dizendo assim. Até era demasiado simpático. Certo dia, Stefan Johansson, seu amigo e companheiro de equipa na Ferrari e mais tarde na Arrows, para além de terem corrido juntos no carro vencedor das 24 Horas de Le Mans de 1997, disse que, em 1986, depois de terem testado o carro daquele ano, tinha falado muito mal dele - de facto, foi um chassis horrível, não conseguiram qualquer vitória - mas Alboreto, delicado e simpático, não foi capaz de levantar a voz e dizer mal do trabalho dos engenheiros. Não era furioso, antipático ou indelicado, e todos o recordam dessa forma.

Mas ser calmo e simpático não significava ser lento na pista. Era veloz, correndo pela Tyrrell, Ferrari, Larrousse, Footwork/Arrows, Lola e Minardi, indo quer na frente, quer na parte de trás do pelotão, em 14 temporadas. Venceu cinco corridas, deu à Tyrrell as suas últimas duas vitórias, ambas em pistas citadinas nos Estados Unidos, e muitos acharam que a sua parte final da carreira, correndo no final do pelotão - sofreu com o monstruoso motor Porsche em 1991 - era também o final melancólico de um piloto simpático.

Mas não foi.

Apesar de passagens discretas pelo ITC e a IRL, a Endurance acabou por ser a sua redenção. Já tinha lá estado no inicio da sua carreira, sendo um dos pilotos da Lancia em 1980-81, ao lado de Alessandro Nannini, Riccardo Patrese, Piercarlo Ghinzani e Eddie Cheever, entre outros, ganhara três corridas em 1982 no Mundial de Endurance, entre eles os 1000 km de Nurburgring, voltou em 1996 para ela, através da Joest Racing. No ano seguinte, com o seu velho amigo Johansson e um jovem dinamarquês, de seu nome Tom Kristensen, correram juntos para a vitória em Le Mans, num chassis TWR, com motor Porsche, uma vitória bem popular entre os fãs. Dois anos depois, foi para a Audi e se tornou num dos pilotos que ajudou a levantar a equipa para os pincaros, onde dominou a Endurance na década que começava.

A sua última grande vitória tinha sido em março de 2001, nas 12 Horas de Sebring, ao lado de Rinaldo Capello e Laurent Aiello, numa prova que tinha ficado marcado pela morte de Bob Wollek, uma lenda da Endurance, que sofrera um atropelamento mortal quando passeava de bicicleta numa estrada lateral ao circuito e fora atingido por um jipe. Todos se lembraram de Wollek naquela semana, ignorando que um os vencedores iria não durar por muito mais tempo. E ainda por cima, um dos mais simpáticos. 

O final foi brutal, mas hoje em dia, mais do que lembrar dos seus feitos, e de ter vencido a sua última corrida, lembra-se sobretudo o tipo de pessoa que ele era. É por isso que todos se lembram com carinho a figura deste italiano. 

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