Dois dias antes, Reutemann foi a o envolvido involuntário num atropelamento mortal. Gianni Amadeo, um mecânico de 21 anos a trabalhar na Osella, tropeçou e caiu precisamente no momento em que o Williams do argentino passava nas boxes, ferindo-o mortalmente. O acidente foi a gota de água para os mecânicos, que se queixavam nas más condições de muitas das boxes, e Zolder não era a excepção.
“Zolder era péssimo para os mecânicos trabalharem, muito difícil”, recordou Siegfried Stohr, piloto da Arrows em 1981, numa entrevista divulgada esta segunda-feira no site the-race.com. “No paddock havia uma casa de banho para mais de mil pessoas ou algo assim, e o design das boxes não era tão funcional. Sempre foi caótico lá.”
O incidente de Amadeo exacerbou as tensões entre todos: pilotos, mecânicos, dirigentes, promotores. E o GP da Bélgica de 1981 era uma das provas que era transmitida em direto para o resto do mundo, ao vivo e a cores. E no dia da corrida, as coisas estavam ao rubro: primeiro, os mecânico ensaiaram um protesto, e depois, alguns pilotos tentaram um boicote. O líder da GPDA na altura era Didier Pironi, piloto da Ferrari, e alguns companheiros de equipa tentaram segui-los, mas outros foram impedidos de sair pelos seus patrões, como Ken Tyrrell e Colin Chapman.
E quando foi dada a largada... mais confusão, e uma outra tragédia ia acontecendo na frente do mundo inteiro. Foi quando o Arrows de Ricciardo Patrese, quarto na grelha, ficou parado momentos antes de partida, e esta não foi abortada... mesmo quando outro mecânico, David Luckett, entrou na pista para tentar reativar o carro do italiano. Todos tentavam evitar o carro e o mecânico, mas um não conseguiu desviar-se a tempo. Irónicamente, foi Stohr, o companheiro de Patrese na Arrows.
“Eu vi Dave e, quando estava prestes a bater, pensei que com certeza ele iria morrer”, conta Stohr. "Quando bati, tive ainda mais certeza de que ele estava morto, e você pode ver que quando pulei do carro minha reação foi muito ruim porque vejo que Dave estava inconsciente e vejo que saía um pouco de sengue pelo ouvido."
Uma ambulância apareceu para o socorrer, e percorreu toda a pista... enquanto a corrida acontecia! Apenas a intervenção do Ferrari de Pironi, que decidiu parar no meio da pista, para a bloquear, fez com que a prova fosse parada com bandeiras vermelhas.
Jackie Oliver, então patrão da Arrows, disse que a grande razão de toda aquela pressa tinha a ver com o atraso no inicio da prova, importante para o sinal de satélite, que baralhou tudo e causou as confusões e as tragédias.
“O RACB [Royal Automobile Club de Belgique] decidiu simplesmente começar a corrida porque já estava 20 minutos atrasado. Foi isso que causou o acidente, estava claro que foi isso que aconteceu ”, começou por dizer. “Todos falaram sobre isso, e entenderam o porquê da confusão, e marcaram uma reunião com a FISA para avisar que em caso de atraso deveria haver remarcação de todo o procedimento. Isso se transformou na situação presente: sempre que existe uma situação destas, tem uma bandeira vermelha, todos vão para as boxes ou vão para o grelha, e aí você faz nova volta de aquecimento. Isso foi corretamente inserido nos regulamentos e ajustes devido aos eventos de 1981.”, concluiu.
A corrida, para piorar as coisas, acabou quinze voltas antes do fim por causa de uma chuvada e Reutemann foi declarado o vencedor, na frente de Jacques Laffite e Nigel Mansell, que conquistava ali o seu primeiro pódio da sua carreira. Mas o semblante carregado do argentino dizia tudo: não era uma vitória feliz.
Para terminar: os ferimentos de Luckett não foram graves. Recuperaou rapidamente e continuou a trabalhar no automobilismo por mais de trinta anos, na Arrows, Leyton House, March, West Surrey Racing e na Highcroft, entre Formula 1, Formula 3 e Endurance. Já Stohr nunca recuperou psicológicamente dos eventos, e foi dispensado depois do GP de Itália, substituído por Jacques Villeneuve, irmão de Gilles Villeneuve. Stohr não mais voltou à Formula 1.
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