Depois de ter escrito duas partes sobre o assunto "o meu calendário de sonho", agora coloco aqui a minha terceira e última parte, cobrindo a Ásia e Austrália. Alguns critérios são tradicionais, mas há outros pensados "fora da caixa" e do qual podem apresentar algo para o futuro, por exemplo. Mas como digo, este é um calendário que vem da minha cabeça, cada um de vocês tem vosso, tirariam um para colocar outro, toda a gente faz isso, é perfeitamente normal.
Ora, como parei na corrida 17, isto significa que faltam cinco para o final. Aqui, os critérios são mais apertados, mais politizados, mas também tem potencial para melhor. Vamos lá.
18 - Singapura
A cidade-estado entrou no calendário da Formula em 2008... e com estrondo (obrigado, Crashgate!) e desde então, conseguiu o seu lugar. Claro, sendo à noite ajuda muito, mas é uma corrida popular, num lugar popular, e com um toque único. A parte chata é que o circuito é o que se arranja numa cidade como aquela, e a pista é tão grande que as corridas acabam sempre no limite das duas horas, ultrapassando quando há um ou outro Safety Car na pista.
De uma certa forma, é uma mais-valia, daí achar que ela fica.
19 - Sepang
Um "double header" entre a cidade-estado e o seu vizinho do norte seria ótimo. Não havia adaptações horárias de maior, Sepang até é uma pista que os pilotos gostam, por ser desafiante, e é outro dos tilkódromos que ele fez bem feito. Mas o governo local não gosta muito de ter a Formula 1 no circuito, por ser uma atividade que dava prejuízos, ao contrário da MotoGP, mais popular entre a os locais. Contudo, se eliminarmos o critério monetário, Sepang entraria "de caras", os bilhetes até eram baratos - creio que eram os mais baratos do campeonato - logo, um regresso seria bem vindo, se certos critérios fosse obedecidos.
20 - Suzuka
A pista é um clássico. Fica e pronto.
Mas há um problema: é a altura do calendário.
O inicio do outono naquela parte do mundo é marcado pelos tufões, é exemplos como os de 2008 e 2014, entre outros, tem influência negativa. A mesma coisa se pode falar de Fuji, que ora chove imenso, ora tem um céu claro e límpido naquele inicio de outono japonês. E acho que Suzuka fica por ser mais a sul que Fuji, e a pista ter sido construída num local húmido onde é frequente haver chuva. Ou seja, chove ainda mais ali do que onde se situa agora!
Claro, a alternativa seria correr em abril, como fazia o MotoGP. Ficava fora da temporada dos tufões
Mas de resto, Suzuka é um excelente local para correr.
21 - E que tal dar um mergulho à Indonésia?
Parece um lugar invulgar, mas este arquipélago de 17 mil ilhas e o quarto mais populoso do mundo poderá ser um futuro palco de automobilismo. Tudo por causa do turismo, uma das maiores riquezas do país.
Se Bali é há muito um paraíso turístico, Lombok, uma ilha situada ao lado, é outro lugar que o governo local quer explorar e atrair as massas. Há um novo aeroporto, novas estradas, e constroem-se complexos habitacionais e hotéis para ver se atraem cerca de dois milhões de turistas por ano, quer sejam nacionais, quer internacionais. Entra em cena o circuito de Mandalika. A pista, de 4320 metros e com 19 curvas, está a ser construída desde 2019 e espera estar pronta em 2022 para receber o MotoGP, mas caso ganhe Grau 1 da FIA, provavelmente, poderia ser alargado a outras categorias, nomeadamente as automobilísticas. E uma corrida em novembro, na parte final do campeonato, ora como corrida decisiva, ora como uma prova para relaxar, com o campeonato decidido, até seria um bom cartão de visita.
Não seria a primeira vez ou o primeiro circuito existente na Indonésia - Sentul, em Java, recebeu o MotoGP entre 1996 e 97 e a A1GP em 2007 - e tentou-se fazer a Formula E nas ruas de Jakarta antes da pandemia fazer a sua entrada, mas colocar este arquipélago em cena até pode ser uma alternativa melhor que o Vietname, por exemplo.
Uma outra alternativa interessante seria a Tailândia, com o circuito Chang, em Buriram, no centro do país, mas o facto de estar relativamente afastado de Bangkok e dos resorts, para além do local não ser muito desenvolvido, poderá ter mais contras do que coisas a favor.
22 - Melbourne
É interessante saber que este ano, devido à pandemia, o GP da Austrália foi transferido de março para novembro, algo do qual era o que acontecia no final dos anos 80, quando ela ia para Adelaide: como calhava no meio da primavera, e como também calhava na parte final do campeonato, os pilotos e as equipas iam para lá num ambiente de pura descontração, o que contribuiu para a imensa popularidade da corrida local.
Melbourne parece ser o lugar ideal para receber a Formula 1, mas antes disso, antes de 1996, era Adelaide o palco do Grande Prémio. Ambas as provas eram urbanas, o que contribuía para ter mais gente nas bancadas, e tornaram dois dos lugares mais populares para receber corridas - o terceiro foi Gold Coast, nos arredores de Brisbane, onde recebiam a CART, no inicio dos anos 90 - logo, todos gostavam desses locais, e nunca precisaram de fazer um circuito de raiz na terra dos cangurus.
De uma certa forma, a Formula 1 tem na Austrália um lugar ideal, não interessa se é para abrir, se é para encerrar a temporada.
Não coloco a China no calendário por diversas razões: politicas, ambientais, de circuito e populares. Ter uma pista em Shanghai, a segunda maior cidade chinesa, é ótimo em termos logísticos e de localização. Mas a pista é uma chatice, não enche de espectadores nem no dia da corrida - há bancadas para 200 mil espectadores, mas a corrida mais popular meteu cem mil, e os bilhetes foram vendidos foi com altos descontos - e a situação politica na China está a degradar-se, por muito atrativo que o mercado chinês seja.
Não sei como seria Vietname, mas o facto de se saber que todo o projeto de Hanói não ter sido mais do que a vaidade de um governador local, que decidiu desviar fundos do orçamento local para o fazer, e o governo central decidiu fazer dele em caso exemplar de "o que acontece quando fazem coisas com o dinheiro dos outros", creio que diz muita coisa...
A Coreia do Sul poderia ser uma alternativa, mas quando a Formula 1 foi pela primeira vez a Yeongam, tinha tudo para não dar certo. A pista fica no meio de nenhures, ao pé do mar - situa-se numa vila piscatória - e não há habitação suficiente para receber a todos. As histórias de gente a ficar em motéis, com camas giratórias e vibratórias ecoaram mundo fora... e numa pista com bancadas para cem mil pessoas, só acolheram 55 mil. E pior: o projeto imobiliário que se previa ser construído ao longo daquela década, ainda está no papel...
India sofre do mesmo critério da Coreia e da China, por diversas razões. O circuito faz parte de um projeto imobiliário que pouco se construiu, não tem ainda boas infraestruturas de transporte, apesar de estar nos arredores de Nova Delhi, e a poluição atmosférica prejudica bastante. E para piorar as coisas, a burocracia do governo indiano foi uma grande razão porque a Formula 1 se foi embora depois de 2013, porque eles exigiram o equivalente a 1/21 avos de impostos, porque estavam na categoria de "espectáculo musical" do que um evento desportivo. E para piorar, as alfandegas indianas, super-exigentes (um eufemismo para pagar debaixo da mesa) exacerbaram a paciência de Bernie Ecclestone, há quase uma década.
O Médio Oriente é mesmo por critério politico, uma maneira de dizer que "aqui, o dinheiro não entra". É claro que agora é o contrário. Primeiro o Bahrein - que apesar de tudo, deu boas corridas - depois Abu Dhabi, agora, a partir de 2021, teremos a Arábia Saudita, e todos eles têm uma coisa em comum: imenso dinheiro, querendo ser conhecidos para além do petróleo e da imensa riqueza que ostentam, e também para "lavar a roupa suja" da sua situação de direitos humanos. Nesse campo, ninguém escapa.
Mas como a Liberty Media está dependente do dinheiro saudita - fala-se que pediu um empréstimo de 300 milhões de dólares para segurar a Formula 1 durante o tempo em que ficou parado por causa da pandemia, no inicio de 2020 - nesse campo, não há muitas chances de ser mais ética nesse campo. Da minha parte, o Médio Oriente não entra por todos esses critérios, da mesma forma que a China também não entrava. Mas volto a dizer: é apenas o meu calendário de sonho. E cada cabeça, sua sentença.
Em jeito de conclusão, este é o meu calendário. Gostam? Acham justo? Teriam algo mais a acrescentar? Espero que tenham gostado deste meu exercício, que apenas aconteceu porque um dia resolvi olhar para uns velhos papéis. Se calhar não seria uma má ideia para ver os vossos papéis mais antigos...
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