quarta-feira, 2 de junho de 2021

A imagem do dia (II)


Poucos são os momentos da história onde se pode ver pilotos a desafiarem os elementos para, numa prova onde os carros são artificialmente igualados, se depender tanto do talento do piloto para se mostrar perante os seus pares e o mundo. Um bom exemplo pode-se ver no GP do Mónaco de 1984, quando Ayrton Senna, no seu Toleman, e Stefan Bellof, no seu Tyrrell, mostraram o que podiam em carros que, noutras circunstâncias, não teriam dado tanto nas vistas.

Mas as circunstancias da primeira vitória de Michael Schumacher na Ferrari, no GP de Espanha de 1996, roçam o épico e só mostram o estofo dos campeões. De controlar o carro em circunstâncias extremas, superar bólidos superiores a ele e não só vencer, como o de dar muito avanço à concorrência. Curiosamente, duas semanas antes, no Mónaco, também debaixo de chuva, tinha batido na primeira volta... irónico, hein?

É verdade que o Ferrari daquele ano não era nenhuma desgraça - ele lutou pela vitória com Jacques Villeneuve na quarta prova do ano, o GP da Europa, em Nurburgring - mas ele era certamente menos favorito que os Williams do seu rival canadiano e de Damon Hill. Contudo, com a chuva a igualar todos, o alemão aproveitou bem as circunstâncias para mostrar que, como piloto, era superior a todos eles.

Claro, a sua vida ficou facilitada quando no final da primeira volta, seis dos vinte carros presentes foram eliminados em vários despistes e colisões, e no final da volta 20, apenas nove carros continuavam a correr no circuito. Isso normalmente não é motivo para as câmaras seguirem um determinado carro - isso acontece, independemente dos bólidos que circulam na pista - mas o facto de Schumacher estar "a dar um baile" à concorrência, num carro que era à partida, inferior a outros, fez arregalar os olhos de todos que observavam aquela corrida. 

Mas a grande moral nisto tudo é que ele, se tivesse uma chance de mostrar o que era capaz, fazia-o. E naquele dia de há 25 anos, mostrou que era um dos melhores, não do pelotão, mas de sempre. 

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