segunda-feira, 21 de junho de 2021

A imagem do dia


A grande ironia naquela temporada de 1981 é que o motor Ferrari Turbo, que deveria ser mais veloz que os convencionais flat-12 ou V12 de tempos idos, tinha triunfado em dois dos circuitos mais lentos do calendário daquele ano. E outra grande ironia é que Gilles Villeneuve conseguiu essa vitória usando algo parecido com a anti corrida: bloqueando a concorrência nas suas tentativas de o ultrapassar e correr para a vitória. Afinal de contas, reteve gente como Jacques Laffite, John Watson, Elio de Angelis e Carlos Reutemann.

Verdade, a Ferrari estava em estado de graça com a sua vitória no Mónaco, demonstrando que a aposta no Turbo compensou. A vitória no Mónaco, nas mãos de Gilles Villeneuve, fizeram aumentar um pouco a confiança, e quando chegaram a Jarama, palco do GP espanhol, esperavam que a boa estrela continuasse por ali. 

Junho era mês de calor na meseta espanhola, num país que meses antes, em fevereiro, tinha visto um homem de bigode a brincar aos ditadores e a entrar no parlamento aos tiros, e ver a Formula 1 por ali era um bom entretenimento, porque a praia mais próxima fica a 400 km dali. Gilles não conseguiu mais do que um sétimo lugar na grelha, atrás dos Williams, do Renault de Alain Prost, o McLaren de John Watson e o Alfa Romeo de Bruno Giacomelli. E na partida, o canadiano conseguiu usar o Turbo para chegar a terceiro, atrás dos Williams, e a seguir, passou o carro de Cralos Reutemann para ser segundo.

E depois... a sorte esteve sempre a seu lado. Primeiro, quando Alan Jones se despistou na volta 14, perdendo a liderança para o canadiano. A partir dali, o caçador passa a ser caçado, e a Reutemann, junta-se Laffite, Watson e De Angelis. É uma corrida contra o tempo, com o canadiano a usar aquilo que a concorrência não tem: o turbo. E seria mais para acelerar e não dar chances à concorrência para o passar. 

De todos os momentos daquela perseguição foi o que aconteceu na última volta, quando Jacques Laffite era o segundo classificado, na frente de John Watson e Carlos Reutemann. Foi ali que o carro azul, o Talbot-Ligier, tentou a sua sorte para desalojar Villeneuve do seu posto, porque ele julgava que tinha o melhor carro. Até tinha, mas o canadiano, naquela tarde, aproveitou a estreiteza da pista para jogar a seu favor. E foi o que aconteceu: quando Elio de Angelis cruzou a meta no quinto posto, ele tinha estado a meros 1,2 segundos da vitória. E foi a segunda distância mais curta de sempre entre cinco carros, apenas superado pelo que aconteceu quase dez anos antes, em Monza. 

Laffite e Watson ficaram zangados com a atitude de Gilles, mas os seus fãs defendiam, afirmando que tinha sido um dos seus melhores desempenhos da sua carreira. Mas independemente do que falariam sobre o que Gilles fez, demonstrou algo que saltou à vista de todos: o circuito de Jarama não poderia mais ser capaz de acolher a Formula 1. A pista era demasiadamente estreita, era demasiadamente sinuosa, e correr em junho era um convite para assar-se ao sol por meia dúzia de horas. 

E foi o que aconteceu. Foi a última vez que a Formula 1 esteve em Jarama, e nunca mais voltou. Quando a competição regressou a Espanha, quase cinco anos depois, acabou por ser numa pista feita de raiz, mais de 300 quilómetros a sul, em Jerez, na Andaluzia. E aquela tarde de junho, há 40 anos, foi a derradeira recordação da Formula 1 naquelas bandas.

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