quarta-feira, 13 de outubro de 2021

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Hoje faz 25 anos que Damon Hill conseguiu ser o primeiro filho de campeão a ser campeão do mundo de Formula 1. um título fortemente celebrado por tudo e por todos - Murray Walker disse que tinha de parar de narrar porque tinha "um soluço na garganta" no momento em que ele passou na meta em Suzuka - e tinha razão: era um titulo emocional de alguém que, menos de seis anos antes, pareciam que o viam a roçar a Formula 1 sem poder entrar.

Filho de Graham Hill, a sua vida ficou de cabeça para baixo a 29 de novembro de 1975 quando, aos 15 anos de idade, vê na BBC os destroços do avião do seu pai, despenhado no campo de golfe de Elstree, nos arredores de Londres. E com o seu pai ia a sua equipa de Formula 1, incluindo o seu piloto, Tony Brise. Com as aflições da família - tiveram de pagar do bolso as indeminizações aos passageiros que iam com ele - Damon foi à luta. É certo que o nome ajudou algumas coisas, mas no mundo competitivo da Formula 3000 no final da década de 80, inicio da de 90, não deslumbrou. E mesmo quando aterrou na Williams, como piloto de testes, em 1991, poucos acreditavam que ele desse o salto. E quando por fim guiou o Brabham BT60B, no estertor da mítica equipa, em 1992, muitos pensavam que iria ficar por ali.

Pois todos se enganaram. E naqueles quatro anos, mesmo na melhor equipa do mundo desse tempo, nunca teve vida fácil. É verdade que bastou dez corridas para vencer a sua primeira prova, na Hungria, mas correr ao lado de Alain Prost, Ayrton Senna, Nigel Mansell ou até de Jacques Villeneuve, ele sempre conseguiu não se ir abaixo e resistir a tudo e todos. 

E o mais fantástico foi quando, de repente, em maio de 1994, a equipa viu-se orfã e sem rumo, com a morte de Ayrton Senna, em Imola. Ele tinha visto esse filme antes, quando o seu pai se viu na mesma situação, em abril de 1968, quando em Hockenheim, recolheu os destroços do carro de Jim Clark e levou o seu cadáver para o enterrar na sua Escócia natal. Com Colin Chapman ainda em choque, ele orientou a equipa para o título mundial que o conquistou, com um carro que sabia ser capaz disso e para um título que sabia que pertencia a Clark. E foi em esse espirito de 1968 que levou a equipa até Adelaide, só que não conseguiu porque Michael Schumacher não deixou.

Apesar de ser batido pelo alemão, sem apelo, nem agravo, quando em 1996, este foi para a Ferrari para tentar partir do zero a o transformar no campeão que merecia ser, Hill sabia que era a sua grande chance. E queria aproveitar o facto do canadiano Jacques Villeneuve ter acabado de chegar da América que estava aos seus pés, depois de ter ganho as 500 Milhas de Indianápolis e o campeonato CART. 

Não foi uma temporada fácil, apesar de ter ganho as três primeiras corridas da temporada, e quatro das cinco primeiras corridas. Jacques Villeneuve dava-lhe réplica, e por vezes, Michael Schumacher também mostrava-se, especialmente em Barcelona, quando deu cabo da concorrência à chuva no seu Ferrari. No final, venceu oito corridas em 1996, mas o canadiano não desistiu de atacar o título. Apenas quando se despistou em Suzuka é que todos ficaram com certezas: ele iria ser campeão. 

No final de tudo, em Suzuka, quando a equipa o abraçou, deve ter passado em tudo: o pai, a família, a vida e os obstáculos que esta lhe lançou. E como ele foi bem sucedido em todas elas. Os três anos seguintes, até à sua retirada, no final de 1999, não lhe deram justiça, mas o seu objetivo pessoal foi alcançado.

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