terça-feira, 14 de dezembro de 2021

A imagem do dia


Na foto, o Lotus numero cem mil, um Evora vermelho, construído em 2018. E a seu lado, sentado nos jardins da sua casa, Hazel Chapman, a viúva de Colin Chapman, antes de dar a sua assinatura, simbolo da sua concordância para poder andar na estrada. 

Colin Chapman foi um génio. Obsessivo com a velocidade, a potência e a leveza, pegou em certas características que faziam eles objetos de admiração e inveja, e transformou em carros vencedores. Pegava nos regulamentos, observava os seus vazios e preenchia-os com as suas criações, e com isso venceu sete campeonatos do mundo de construtores, e seis de pilotos, com gente como Jim Clark, Graham Hill, Jochen Rindt, Enerson Fittipaldi, Ronnie Peterson, Mário Andretti e Nigel Mansell a correrem debaixo das suas cores enquanto foi vivo. Depois da sua morte, e até fechar as portas, treze anos depois, outros pilotos como Ayrton Senna, Nelson Piquet, Darek Warwick e Alex Zanardi - para não esquecermos de Pedro Lamy - correram também pelas suas cores.

Chapman puxava os limites e ultrapassava-os, e muitas das vezes, os seus pilotos pagavam o preço mais alto. Certo dia, no final de 1968, Jack Brabham disse a Jochen Rindt: "Se queres ser campeão do mundo, aceita o convite da Lotus. Se queres permanecer vivo, fica na Brabham". O austríaco aceitou o convite de Chapman e tornou-se campeão do mundo. Infelizmente, não viveu para receber o troféu. Depois de Enzo Ferrari, a Lotus foi a segunda equipa que mais matou pilotos. Chris Bristow, Jim Clark, Jochen Rindt, Ronnie Peterson, foram aqueles que pagaram o preço mais alto ao volante dos carros de Hethel.

No meio disto tudo, no seu canto, e de forma discreta, estava Hazel. A mulher que - aparentemente, era esse o apelido carinhoso que Colin dava a ela - deu o nome à marca e assistiu à ascensão e culminar da marca quer nas pistas, quer nas estradas. Mais do que ser alguém que ficou ao lado do marido, era uma astuta mulher de negócios por si mesma. Ele a colocava em todos os conselhos de administração das empresas, foi ela que convenceu os pais a financiarem o primeiro carro dele, o Mark 1.

E passou as tempestades com ele, especialmente aquela que acabou por o derrubar, na madrugada de 16 de dezembro de 1982, quando assinou um acordo para ajudar a DeLorean na sua fábrica na Irlanda do Norte, e a redesenhar o DMC-12, a partir do Lotus Esprit. 

Quando morreu, Hazel e o seu filho Clive continuaram com a empresa. Continuou interessada no grupo, nos carros de estrada e os de corrida, quis conhecer - e fez amizade - com alguns dos pilotos que o seu marido os contratou. E mais tarde, decidiram, de um certo modo, largar as duas partes do Grupo Lotus e apostar na preservação do seu legado. A divisão de automóveis de estrada, em perigo por causa do colapso das vendas nos Estados Unidos, e das complicações com a DeLorean quando Chapman morreu, acabou em várias mãos, entre os quais a GM e a Proton, até estar neste momento na chinesa Geely, dona de 51 por cento e a construir o primeiro supercarro elétrico da marca. E a Team Lotus, que persistiu até 1994, vendida no final da década de 80 a Peter Collins e Peter Wright, com a família a cuidar dos carros de museu, a Classic Team Lotus, nas mãos de Clive Chapman.

Hazel Chapman, a viúva de Colin, morreu hoje aos 94 anos, quase 39 após a morte do marido. Até ao fim, sempre quis saber como andavam as coisas na marca que deu o seu nome e ajudou a criar.

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