(este artigo foi escrito originalmente nesta sexta-feira no medium.com)
A Formula 1 corre neste final de semana em Jeddah, na Arábia Saudita. Já por si, é uma das corridas mais polémicas do campeonato por ser um país com um mau reportório nos direitos humanos, e onde os direitos das mulheres são maus — até 2019, elas eram proibidas de guiar sozinhas ao volante. Mas nesta sexta-feira, as coisas exasperaram quando um míssil caiu na refinaria da Aramco na cidade, a 10 quilómetros do circuito. Quem está por lá, podia ver, primeiro o fumo, depois o fogo, da refinaria em chamas.
A explosão teve uma origem: um ataque por parte dos rebeldes houthis, do Iémen, que desde há algum tempo tem mísseis que atacam alvos sauditas, seus oponentes numa guerra que está a acontecer desde 2015.
Pensa-se que este ataque poderia ser um aviso ao pessoal da Formula 1 para que estão a correr ali por sua própria conta e risco, e claro, isso seria um pretexto para o cancelamento da corrida. Contudo… isso não aconteceu. A organização afirmou que “o fim de semana corre como planeado”, e eles “permanecem em contacto com as autoridades para assegurar que as medidas de segurança necessárias continuem a ser implementadas”.
Ora… numa altura em que a Formula 1 não teve nenhuma dúvida em tirar o GP da Rússia do calendário e apagar do “paddock” Nikita Mazepin, filho de um dos oligarcas de Putin, eles assobiam para o lado e armam-se em pinguins do “Madagáscar”, que sorriem e acenam ao público enquanto temos uma refinaria a arder e provavelmente, mais 20 cêntimos por litro na gasolina na próxima segunda-feira… e perguntamos: dois pesos e duas medidas?
A resposta é… sim. A razão principal é o dinheiro. Se para a Europa, alguém paga 30 milhões de euros para receber a Formula 1, nas Arábias, são 80 milhões, e para piorar as coisas, quando estão aflitos, os bolsos fundos dos árabes são uma boia de salvação. Quando a Formula 1 ficou paralisada, no inicio de 2020, como aconteceu com o resto do mundo, poderá ter pedido aos sauditas cerca de 300 milhões de dólares para manter a máquina a olear durante o tempo que ficou parado, entre março e julho. E para além da Aramco se tornar num dos patrocinadores principais, a corrida ficará no calendário por mais de uma década, numa corrida onde a temperatura média é de 30 graus… em março.
E claro, este “sportwashing” incomoda, e bastante. Agora, no momento em que escrevo, os representantes da Formula 1 andaram reunidos para saber o ponto da situação, e se a corrida acontecerá ou não. As equipas decidiram por unanimidade continuarem a prova, e os pilotos, também, porque “os alvos eram militares e não civis”.
Stefano Domenicalli, o CEO da Formula 1, afirmou na saída dessa reunião: “Confiamos nas autoridades sauditas. Os ataques tiveram como alvo instalações industriais, não civis ou o Grande Prémio”.
Mas independentemente do resultado, o mal está feito: o dinheiro fala, e eles correriam, mesmo que as bombas caíssem a 500 metros do paddock. E os pilotos? A grande ironia é que o piloto mais politico da Formula 1, Sebastian Vettel, não está presente… porque apanhara CoVid-19 na semana passada, no Bahrein.
Mas com todos estes critérios, sempre poderiam correr em Kiev neste final de semana, não acham?
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