O primeiro momento foi Montjuich, em Barcelona. Ali, em 1969, era o palco do GP de Espanha, e aquelas asas de um metro de altura eram muito altas e frágeis, especialmente quando estavam sob pressão. E quando, primeiro Graham Hill, e depois o próprio Rindt, bateram forte no mesmo lugar, sabia ao que ia. O britânico saiu incólume, o austríaco com um nariz fraturado, e a imagem dele a sangrar, numa foto tirada por Bernard Cahier correu mundo.
Em convalescença, escreveu uma carta para Chapman, dizendo que não tinha confiança nas suas máquinas.
"Tenho uma foto que explica muito bem o acidente. Não sabia que poderia voar tão alto. Quanto à nossa situação, Colin, eu corro na F1 há cinco anos e só cometi um erro (embati no Chris Amon em Clermont-Ferrand) e tive um acidente em Zandvoort devido a um defeito no selector da caixa. Isto mudou logo que cheguei à Lotus. Lebin, Eiffel, triângulos da suspensão quebrados e agora Barcelona - tudo acidentes causados por falhas mecânicas.
Os seus carros são tão rápidos, que ainda seriamos competitivos com uns quilos extra usados para fortalecer as peças mais frágeis. Também acho que deveria passar mais tempo verificando o que os seus funcionários fazem. Por favor, pense nas minhas sugestões. Eu só posso pilotar um carro no qual tenha total confiança e começo a não sentir".
A carta de Rindt tinha mais uma cópia, que foi divulgada na edição da Autosport britânica da semana seguinte ao GP espanhol. Deu brado e as pessoas ficaram com uma ideia dos carros de Chapman. Ele não foi ao Mónaco - Richard Attwood foi no seu lugar - e ele só regressou na corrida seguinte, em Zandvoort. Só pontuou por quatro vezes, acabando com uma vitória em Watkins Glen, a corrida mais lucrativa do ano, com um prémio de 50 mil dólares ao vencedor.
No final do ano, Jack Brabham perguntou a Rindt se não queria regressar. Chapman interveio e disse: "Não interessa quanto é que ais oferecer, eu darei mais". O velho Jack, com 43 anos, aguentou mais uma temporada, ele que o via como seu sucessor na equipa, como piloto.
Quanto apareceu o 72, em Jarama, Rindt pegou no carro, acelerou até ao fundo da meta... e meteu o carro na gravilha. Furioso, chegou a Chapman e gritou: "nunca mais volto a guiar esta m****!" Mas guiou. E ganhou quatro corridas seguidas. Na Áustria, no mesmo lugar onde se estreara seis anos antes, a pista era nova, estava cheia de espectadores e Rindt tinha a Áustria aos seus pés. Já era campeão, já se sentia campeão. E mesmo quando o motor explodiu, na 16ª passagem pela meta, sabia que ganharia em Monza, se acabasse em primeiro.
E se fosse campeão, iria embora. Isso foi o que dissera à Nina, sua mulher, em Zandvoort, depois do triunfo a da morte do seu amigo Piers Courage. Mas poderia ser que entretanto, tivesse mudado de ideias, há quem jure isso.
Na pista italiana, era costume tirar as asas dos carros. Segundo ele, a razão era simples: velocidade. "Sem as asas faço mais 800 rpm nas retas, e sem ir no vácuo do outro". John Miles, seu companheiro de equipa, não queria ir dessa forma, mas foi obrigado a isso. Emerson Fittipaldi foi, na sexta-feira, e teve um acidente do qual se safou quase milagrosamente. Ele ia no chassis que seria guiado por Rindt. Sem ele, no sábado, o austríaco andou no chassis do brasileiro. E foi nele que teve o seu acidente mortal.
Na quarta-feira seguinte, em Graz, no seu funeral e diante da sua campa, o sueco Jo Bonnier fez o elogio fúnebre:
"Morrer fazendo algo que gostava de fazer é morrer feliz. E Jochen tem a admiração e o respeito de todos nós. É a única maneira de admirar e respeitar um grande piloto e amigo. Independentemente do que acontecer no resto da temporada, para todos nós, Jochen é o campeão mundial."
O resto da história é conhecido: Emerson Fittipaldi ganhou em Watkins Glen e Rindt foi o campeão póstumo. Pela primeira - e esperamos nós - única vez.
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