domingo, 29 de maio de 2022

A imagem do dia




Eu não sou fã de ter duas corridas importantes no mesmo dia, porque é isso que faz com que as pessoas tenham de escolher. Ainda por cima quando essas corridas importantes são as 500 Milhas de Indianápolis e o GP do Mónaco. Mas como espectador, como alguém que vê as corridas à frente de um ecrã de televisão, ou no num outro meio - telemóvel ou portátil - este é provavelmente o mais excitante domingo do ano: ver duas das melhores três provas do automobilismo do ano, pois o terceiro está a duas semanas de acontecer - são as 24 Horas de Le Mans.

E a corrida americana não desiludiu.

Em claro contraste com a chuva no Principado, um sol de primavera acolheu as mais de 350 mil pessoas que foram ver as 500 Milhas. Com Roger Penske a dizer a mais ansiada frase do automobilismo americano, os pilotos foram para a pista dispostos a escreverem a sua parte na lenda, a beberem o seu copo de leite, a usar o seu anel e terem o seu busto na Borg-Warner, o maior troféu - em tamanho" - do automobilismo.

Foram 200 voltas onde se viu estratégia, astúcia e movimentações decisivas, onde um erro significava uma batida no muro - houve cinco, uma das vítimas foi Romain Grosjean - e no final, tudo se decidiu com um ataque e uma defesa. Mas as coisas começaram a menos de dez voltas do fim. 

Nessa altura, o sueco Marcus Ericsson tinha feito a sua movimentação para o McLaren de Patricio (Pato) O'Ward e ficado com a liderança, e a distância parecia o descansar perante os ataques dos outros. Ele iria ser o vencedor, o segundo sueco depois de Kenny Brack, e ainda por cima, o seu capacete para esta prova homenageava o seu intrépido compatriota Ronnie Peterson, que vencera no Mónaco 48 anos antes.

Mas então, Jimmie Johnson, um dos maiores pilotos da NASCAR de sempre, com sete títulos e que decidiu correr na IndyCar em 2021, bate no muro na curva 4, e os comissários decidem mostrar a bandeira vermelha. Tudo parado, e a vantagem de Ericsson a esfumar-se. E eu até pensava que ele não iria conseguir aguentar a investida que O'Ward iria fazer nas voltas finais, com mais gente ambiciosa atrás dos dois, como Tony Kanaan.

A quatro voltas do fim, eles regressaram à pista e a respiração... ficou sustida. Ericsson tentava cortar o ar, para impedir o ataque do mexicano da McLaren, mas no inicio da última volta, ele atacou. Ambos ficaram lado a lado... e o sueco aguentou. A liderança era dele, e essa defesa foi tal que abriu uma vantagem que acabou por ser decisiva. Aos 32 anos, e depois de cinco temporadas na Formula 1 pela Caterham e Sauber, na sua quarta temporada na IndyCar, e terceira pela Chip Ganassi, ele triunfou.

E não era o favorito entre eles. Muitos torciam por Scott Dixon, mas um erro na entrada das boxes, ao entrar em excesso de velocidade, o fez penalizar em uma volta, acabando ali as suas chances de conquistar uma nova vitória, e outros esperavam por mais gente, como por exemplo, Hélio Castro Neves, que tinha a chance de ser o primeiro a conseguir cinco vitórias no Brickyard.

No final, o espetáculo não desiludiu. Valeu a pena ter assistido a tudo isto neste domingo. E parabéns ao Marcus Ericsson pelo seu feito.

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