quinta-feira, 16 de junho de 2022

A imagem do dia


O homem da fotografia chama-se Roland Gumpert. Aos 77 anos, o engenheiro alemão tem uma longa carreira no automobilismo, nomeadamente na Audi. E ele foi a pessoa que desenvolveu o sistema Quattro a partir do Volkswagen Iltis, o todo-o-terreno que foi construído para o exército alemão, mas que eles acabaram por não ficar com ele. Vendo o seu potencial, colocou num Audi 100 e testou-o por vários meses, conjuntamente com um grupo de engenheiros que o faziam... nos seus tempos livres. É que a Audi não confiava no sucesso desse sistema e apenas depois de uma demonstração é que deram a luz verde, algures em 1978. 

O Quattro foi para a estrada em 1980, no Rali do Algarve, no sul de Portugal, como "carro zero" e portou-se bem. A sua estreia oficial foi no Rali de Monte Carlo de 1981, com o finlandês Hannu Mikkola ao volante, mas foi apenas na prova seguinte, na Suécia, que conseguiu a sua primeira vitória. E entre os seus pilotos, tinham a francesa Michele Mouton, provavelmente a melhor mulher-piloto do século XX, independentemente da modalidade. Em Sanremo, conseguiu algo inédito até então: triunfar numa importante prova de ralis. E iria repetir por mais três vezes em 1982, em Portugal, na Acrópole e no duro rali do Brasil, acabando vice-campeã, batida pelo Opel Ascona 400 de Walter Rohrl.

Em 1983, os Quattro, com Mikkola, Mouton, e os suecos Stig Blomqvist e Bjorn Waldegaard, eram a equipa a abater, e os carros já tinham as especificações dos quais se tornariam nos Grupo B, com potências na ordem dos 300 cavalos. E as quatro rodas motrizes eram mostradas como o futuro. A Lancia tinha o 037, e sabendo das suas limitações, tinha de ser mais esperta, apesar de ter pilotos como Rohrl - vindo da Opel - Markku Alen, e em alguns ralis, o local Attilio Bettega.

Sobre esse duelo, falarei com mais calma quando for a altura da estreia do filme, mas quem lê a história do WRC, pode-se dizer que a inteligência e a manhã triunfou sobre a forma das coisas que estavam a vir, ou o futuro, na forma do Quattro. A Audi, que tinha triunfado em 1982, voltou a ser campeã em 1984, antes das aparições da Peugeot, com o 205 Turbo, e a Lancia, com o Delta S4, o "monstro" que praticamente "cavou" a sepultura dos Grupo B, em 1986.

No meio dos triunfos e das derrotas, Gumpert era o homem por trás da tecnologia que mudara os ralis para sempre. Quando a marca saiu do WRC, em 1987, Gumpert subiu na hierarquia da marca até ao final do século, quando decidiu montar a sua marca. Juntamente com Roland Mayer, fundaram a Gumpert Sportwagenmanufaktur (Manufaturas Desportivas Gumpert, traduzido livremente do alemão) e decidiram fazer o supercarro Apollo. Este começou a ser produzido em 2005, e continuou até 2013, altura em que a marca sofria dificuldades financeiras e declarou insolvência. Foi comprada e rebatizada como Apollo Automobil.

Mas Gumpert não ficou parado: em 2017 fundou a Gumpert Automobile, em Inglostadt, onde fez uma parceria com a construtora chinesa Aiways e construiu um desportivo elétrico, o Nathalie, com um design semelhante ao Nissan GT-R, do qual serão feitos 500 exemplares. 

E porque falo dele? Porque o seu papel na Audi irá dar um filme, sobre o duelo com a Lancia no campeonato de 1983, e será interpretado pelo ator Daniel Bruhl, que como sabem, há quase dez anos, foi Niki Lauda em "Rush". Vamos a ver até que ponto esse filme será bom. 

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