quarta-feira, 23 de novembro de 2022

A imagem do dia


Sobre os eventos de Montreal, ainda não consigo ver com distância e frieza suficiente sobre a decisão dos comissários de penalizar Sebastian Vettel por aquele erro e ter defendido a sua posição sem tocar no carro de Lewis Hamilton. Mas sei que do outro lado, os fãs do britânico dirão que a punição era justa e o que ele fez foi uma demonstração de mau perder. 

Até pode ser, mas que era uma injustiça, era. Houve exemplos no passado, bem piores, que foram deixados em claro. E até defendia uma posição mais radical do que esta mera troca de placas. Era chegar ao microfone, anunciar a sua retirada da Formula 1 com efeito imediato e não voltar atrás. 

Mas depois, colocando-me na pele dos hamiltonistas, eu seria considerado como mau perdedor. 

Contudo, tenho a certeza que deve ter quebrado alguma coisa dentro da mente de Sebastian Vettel. Se algum dia tiver a oportunidade de o entrevistar, perguntarei isso. 

Reparem... lembram-se daquilo que escrevi ontem sobre Chris Amon e a sua corrida de Charade, em 1972? Eu acho que Vettel sabia que, na Ferrari, não iria conseguir mais nada. E que a sua chance tinha terminado, e ficaria na pilha daqueles que tentaram e não foram bem-sucedidos. Como disse antes, a Scuderia devora todos aqueles que trabalham nele.

Claro, Vettel escolheu ir para a Ferrari. A responsabilidade é dele, e claro, não deverá ter arrependimentos. Mas se alguém falar do que aconteceu naquele dia, em Montreal, aposto que deverá ter uma ponta de amargura, por tudo o que se passou. Pelos comissários e pela FIA. Não pelo Hamilton, que apenas era mais um concorrente, um rival.

Aliás, a relação entre ambos até é bem interessante. Sempre houve respeito entre ambos. Entraram no mesmo ano, um mais tarde que o outro, é evidente, mas tiveram o seu tempo. Quando Vettel dominou, Hamilton quase nunca teve chances de o apanhar, nos seus tempos de McLaren, e no primeiro ano da Mercedes, depois da retirada de Michael Schumacher. Depois, quando a Mercedes dominou, os únicos que pressionaram o britânico foram Nico Rosberg e Sebastian Vettel, numa primeira fase, antes de Max Verstappen. E quando o alemão, nascido no Mónaco e filho de Keke Rosberg, o conseguiu bater, decidiu pendurar o capacete de imediato. Quanto ao segundo, aguentou mais tempo, mas desgastou-se. 

E creio que aquele gesto, de forma irónica e inconsciente, também foi uma forma de afirmar que desistia da luta, e disse que Hamilton era o melhor. A partir dali, Vettel sepultou o piloto ultracompetitivo e decidiu ser mais humano, sentou, andou a ganhar dinheiro e decidiu apreciar a viagem e o privilégio de ser piloto de Formula 1. Nisso, deve ter visto Kimi Raikkonen e seguiu a sua atitude.   

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