terça-feira, 29 de novembro de 2022

A imagem do dia


"Esta era uma pose familiar. Graham Hill no seu escritório. Caos absoluto na sua mesa, mas sempre ao telefone, caso não estivesse a viajar. Certamente um dos indivíduos mais carismáticos do nosso desporto, [aquilo] que perdemos juntamente com o núcleo de sua própria equipa de Formula 1 no seu acidente de avião. Ele era o piloto. Aquele evento mudou minha vida para sempre. Aliás, meu quarto ficava logo acima [do seu escritório]. Muitas vezes eu podia ouvi-lo a rir como um ralo pelo chão. Ainda posso ouvi-lo se prestar bastante atenção. Isso foi em 1975. Nunca esqueceremos aquela noite."

"Esta foto foi tirada por Victor Blackman. Esta foto me foi dada pela sua filha há algumas noites no jantar anual dos membros de Brooklands."

Isto foi o que Damon Hill escreveu hoje na sua página de Facebook sobre esta fotografia. Mostra um Graham Hill descontraído ao telefone, falando com algum contacto, provavelmente relacionado com a sua equipa. 

No final de 1972, Graham Hill não renovou o seu contrato com a Brabham. Pensava-se que ele, então com 43 anos, pendurasse o capacete. Mas ele ainda tinha vontade de correr, e com a sua cabeça e os seus contactos, decidiu montar a sua equipa. Com o patrocínio da Embassy, uma marca de cigarros, arranjou um chassis Shadow, e os seus resultados foram modestos até pedir à Lola que construisse um chassis para ele. Isso foi em 1974. 

Em 1975, tomou algumas decisões criticas. A primeira, depois de ver que já tinha chegado o seu tempo para pendurar o capacete, foi o de arranjar um talento que pudesse dar uma chance de correr. Esse talento foi Tony Brise, que aos 23 anos, acreditava que tinha potencial para ser campeão do mundo. O segundo foi de alargar a sua equipa para dois carros, o que lhe deu os primeiros resultados relevantes, primeiro com Rolf Stommelen, que liderou o GP de Espanha por nove voltas, antes de sofrer um terrivel acidente, quando a sua asa traseira se descolou. Depois, o seu substituto, o australiano Alan Jones, conseguiu dar à equipa o seu melhor resultado quando acabou o GP da Alemanha desse ano na quinta posição.

O carismático Hill estava a construir aos poucos uma equipa pequena, mas sólida. Só presisava de acertar no chassis para fazer uma boa temporada, e se calhar, poderia ter algo raro: ser um piloto campeão, para depois ter um chassis campeão. Nesses tempos, só Jack Brabham, Bruce McLaren e Dan Gurney tinham feito isso, embora no pelotão todos viam os projetos de John Surtees e dos irmãos Fittipaldi, com Wilsinho a efetuar o seu golpe de mestre quando Emerson Fittipaldi saiu da McLaren para correr debaixo de cores brasileiras.

No final de 1975, todos já se preparavam para a temporada seguinte, que iria arrancar em Interlagos, São Paulo - era para ser em Buenos Aires, mas a prova foi cancelada devido à instabilidade política daqueles tempos na Argentina. A Embassy Hill, como muitas outras, aproveitava o circuito de Paul Ricard para os seus testes de inverno, e depois de um bom dia com o GH2, o carro que iriam usar em 1976, regressariam a Londres para um jantar com potenciais patrocinadores. Ele, Brise, o projetista do carro e dois mecânicos. Nunca chegaram vivos a casa. 

E claro, ficaram tantas perguntas por responder, e tantas aspirações cortadas abruptamente a meio. Ficam as memórias de um tempo inesquecível. 

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