Então, porque falo disto? Por causa de um evento mediático e também, pela defesa da honra de um carro. E passar a limpo alguns mitos.
Por estes dias, soubemos do final do casamento entre a colombiana Shakira e o catalão Piqué. Quem lê as colunas sociais, aparentemente, o rapaz colocou os palitos na senhora e trocou por uma garota de 22 anos, bem mais discreta do que ela. As partilhas foram feitas, as comissões foram pagas aos advogados, as custódias foram elaboradas, mas a cantora queria ter a última palavra. E decidiu escrever uma musiquinha, onde a certa altura canta que "trocou um Ferrari por um Twingo". Lavagem de roupa suja pura e dura, sejamos honestos.
OK... alto e para o baile! A partir daqui, passo à defesa da honra do minorca.
Eu adoro o Twingo. Tive dois, herdados da minha mãe. O primeiro era verde, e depois, passeei num bordeaux, com direção assistida e vidros elétricos. Não direi que aprendi a conduzir nesses carros - o primeiro data de abril de 1994 - mas andou lá perto. É um carro que, embora pouco potente (meros 55 cavalos na primeira geração), é ágil, estaciona facilmente - isto, antes de aparecer o Smart - e consegue ser futurista. Não só por ser um monovolume, mas também porque o seu ar espartano adiantou em 30 anos ares como o dos Tesla, por exemplo. Aliás, os Twingo são agora elétricos, como o próprio Piqué já mostrou por estes dias.
Ou seja, a uma indireta, responde com outra indireta.
E claro, no meio disto tudo, a Renault esfrega as mãos de contente com esta publicidade inesperada. A marca tem 30 anos, é verdade, mas já está a prazo. A marca substituirá pelo Renault 5 em 2024, e sendo elétrico, juntará o zoe com o Twingo. Ainda por cima, desde que substituíram a primeira geração em 2004, nunca mais tiveram o sucesso e as vendas que tiveram no final do século passado. Se calhar, a motorização elétrica era o ideal para o tipo de carro que é, mas chegou 20 anos tarde demais. O que é pena.
Mesmo assim, faço a defesa do Twingo. Faz parte de uma espécie em vias de extinção: a dos carrinhos carismáticos, como o Carocha (Fusca para vocês, brazucas), o Mini, o Renault 4, o Citroen 2 Cavalos ou o Smart FourTwo. E falamos de carros que têm clubes, por exemplo. Todas estas marcas que falei tendem a ter clubes próprios, que atraem centenas de orgulhosos donos, que contam as suas histórias. Andei tempo suficiente para saber que meter a quinta marcha era um inferno, ao ponto da minha mãe se recusar a engatar - eu fazia por teimosia, e compensava! - e tinha um espaço enorme, à custa da bagageira minúscula.
E é por causa do espaço que tenho o meu maior desgosto no quesito quatro rodas e um volante: nunca fiz amor dentro desse boguinhas. Tibe o meu primeiro carro com 19 anos, e andei com ele até aos meus 23, quando troquei por um carro maior e melhor equipado, o Seat Toledo que era do meu pai. Eu até aos meus 28 anos, trocava de carro a cada dois ou três anos, parando num Ibiza de cor prata, que usei até um dia me fartar dele, entre uma viagem longa e cheia de problemas, uma inspeção chumbada uma reparação custosa e consequente venda, concluída num dia de chuva intensa, onde reparei que se calhar, havia bida para além do automóvel individual.
Mas então, porquê o Twingo e não o Cavalino Rampante? Tive a sorte de conduzir carros de Maranello, graças a um vizinho. São potentes, barulhentos e ágeis. Mas são muito baixinhos e só podem andar em determinados lugares, em determinadas situações. Só na autoestrada, se quiserem.
Fora dela? Olha, para começar... estacionar é um pesadelo. Para nem falar da conta, quando se estraga algo. É mesmo para milionários, mesmo quando são acessíveis. É outro pesadelo, não é um sonho. Pensas que é um sonho, andar num supercarro, mas... não é. Benderam-nos pesadelos embrulhados em sonhos. E não falo só dos Ferrari. Substituam por Lamborghini, Bugatti, Bentley, Porsche... todo e qualquer supercarro. Talvez agora, com a moda dos jipes, as coisas amainem um pouco, mas se alguém algum vez vos disser que mandou uma dentro de um desses supercarros, estará a mentir com todos os dentes deles.
E um boguinhas como o Twingo, para mim, mais de 20 anos depois de o conduzir pela última ocasião, sempre que vejo um, viro a cabeça para os admirar, querer saber onde mora essa pessoa e perguntar por quanto quer o seu veículo. Com ideia de salvar os que andam por aí da trituradora, porque os merecem.
E quem sabe, um dia, se conseguir, ajusto algumas injustiças minhas. E trocaria todos os dias qualquer supercarro por um boguinhas carismático que me deixasse à vontade no interior. Para conduzir, descansar... e relaxar. :)
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