segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

A imagem do dia


Logo no dia de Ano Novo de 1968, quem observasse as boxes do GP da África do Sul, em Kyalami, repararia num Brabham pintado de cores muito estranhas. O carro, pilotado pelo rodesiano John Love, estava pintado de laranja e castanho, uma cor nada habitual e mais parecido com uma das marcas de tabaco mais conhecidas na região, a Gunston. 

E não era um equívoco: era mesmo um patrocinador, que não uma marca de pneus, de automóvel ou gasolineira. É que desde aquele dia, os carros deixavam de ser pintados com as cores nacionais, podendo pintar no que quiserem, abrindo caminho a carros patrocinados. Até ali, os carros tinham as cores nacionais: vermelho para os italianos, azuis para os franceses, brancos - ou cinzas - para os alemães, laranja para os neerlandeses, verde para os britânicos. Alguns colocavam faixas nos carros - a Lotus tinha uma faixa amarela, a Brabham uma dourada - e pouco mais. 

Mas a queda desse regulamento mudou tudo, e o primeiro a utilizar foi uma marca de tabaco. E de um lugar pouco comum.

Nos anos 60, existiam campeonatos locais de Formula 1, e a mais conhecida era o sul-africano, a par da Tasman Series, onde os pilotos aproveitavam o verão no hemisfério sul, para correr em pistas australianas e neozelandesas. Mas se gente como Jim Clark, Jack Brabham, Bruce McLaren ou Chris Amon iam correr para lugares como Longford, Ardmore, Calder Park ou Pukehoke, nas paragens sul-africanas apareciam os locais como Basil van Rooyen, Dave Charlton ou Jackie Pretorious, acompanhados pelos rodesianos John Love e Sam Tingle. Poucos além dos locais corriam por lá, mesmo por uma ou duas corridas. Mas o panorama era ativo, e bem patrocinado. A Team Guston era a melhor.

Naquela corrida de 1968, Love e Tingle alinharam na corrida com chassis diferentes: o primeiro com um Brabham BT20, de 1966 e usado quer por Brabham, quer por Dennis Hulme, o segundo com um LDS, um chassis local. Partindo de 17º na grelha, Love acabou cinco voltas atrás do vencedor, no nono posto. Tingle, 22º e último, acabou na volta 35 com sobreaquecimento no seu motor Repco.

Esta primeira vez é tão discreta, tão localizada e tão pouco conhecida que muitos estão convencidos que o primeiro carro com patrocínios são os Lotus, com a Gold Leaf. Mas o acordo foi só assinado algumas semanas depois, com os carros a serem pintados na Austrália, quando competiam na Tasman Series. E um acordo bem generoso, para os padrões na altura. Mas isso fica para outra ocasião. 

Contudo, independentemente de quem foi o primeiro, naquela ocasião, a Formula 1 tinha mudado para sempre.  

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