sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

A(s) image(ns) do dia




A aventura da Peugeot na Formula 1 foi, no mínimo, atribulada. Não triunfou - nenhuma vitória entre 1994 e 2000 - e no final, apesar das passagens por McLaren, Jordan e Prost, acabou por sair pela porta pequena, apesar de alguns fogachos de competividade. Isto... quando o motor deixava. 

De inicio, a ideia era de entrar com chassis e motor, como tinham feito em relação com a aventura da Endurance. Mas os responsáveis da marca do leão fizeram cálculos e acharam um exagero, decidindo que iriam entrar apenas com os motores de 3.5 litros que tinham desenvolvido para triunfar nas 24 Horas de Le Mans. Jean Todt, o diretor desportivo da marca há mais de uma década, e que dera à marca triunfos nos ralis, Dakar e Le Mans, decidiu ir para a Ferrari em julho de 1993 e recomendou para o seu lugar o engenheiro e ex-piloto, Jean-Pierre Jabouille.

O motor era um V10 de 3,5 litros, semelhante ao da Renault - aliás, esperava-se que com duas marcas francesas no campeonato, poderia existir uma rivalidade que desse uma espécie de "corrida à potência" que beneficiasse a marca de Woking. Contudo, apesar dos 750 cavalos que eles conseguiam obter, o motor era pouco fiável. Aliás, os pilotos tinham uma alcunha para ela: "granada de mão", pelas suas constantes quebras nos testes.

Para piorar as coisas, a Peugeot queria impor um francês no alinhamento dos pilotos. Se Mika Hakkinen era intocável, já no segundo lugar, Ron Dennis foi buscar o veterano Martin Brundle da Ligier. Mas a marca francesa queria Philippe Alliot, algo do qual Dennis recusava terminantemente. Acabaram com um compromisso: seria terceiro piloto, encarregado dos testes. Quando Mika foi suspenso por uma corrida por ter causado a carambola no começo do GP alemão, ele teve a oportunidade de correr na Hungria. Ali, o francês não foi longe: 14º na grelha, corrida terminada na volta 21 devido a uma fuga de água.

Mas para piorar as coisas, nessa mesma corrida, Brundle foi quarto... apesar de um problema elétrico na última volta. Podia ter sido pior: duas corridas antes, em Silverstone, o motor dele explodiu nos primeiros metros! 

No final, oito pódios e 42 pontos, com a equipa a ficar com o quarto lugar no campeonato de Construtores. Mas Ron Dennis decidiu que em 1995 iria ter motores Mercedes e a Peugeot rumou à Jordan, esperando ter melhor sorte. Contudo, apesar de um pódio duplo no Canadá, com Rubens Barrichello na frente de Eddie Irvine, os 21 pontos alcançados no campeonato de Construtores foram inferiores aos 28 que tinham conseguido na temporada anterior, com os Hart.

E os problemas de fiabilidade continuavam: na Hungria, a Jordan parecia que iria comemorar um terceiro lugar certo quando o motor decidiu falhar no momento errado: em plena reta da meta. Acabou em sétimo, fora dos pontos.  

A Jordan continuou com esses motores em 1996, mas sem Jabouille no comando. No verão, a Peugeot dispensou os seus serviços. Eles ficaram até ao final de 1997, com pilotos como Brundle, Ralf Schumacher e Giancarlo Fisichella. Conseguiram pódios e parecia ser uma equipa fiável no meio do pelotão, até entrar em cena Alain Prost, que no final de 1996, tinha conseguido ficar com a Ligier e rebatizá-la com o seu nome. E tinha um sonho: o de uma "Ecurie de France". E os motores Peugeot faziam parte desse plano. 

Em 1998, havia o apoio total da marca nos motores, mas no resto... foi um desastre. O AP01 apenas marcou um ponto, e o grande problema tinha sido a caia de velocidades, que era grande e quebradiça. No ano seguinte, tudo teve de ser modificado. A Peugeot tinha contratado Bernard Dudot, o homem por trás dos motores Renault V10, Prost pediu a ajuda de John Barnard para desenhar o carro, e o carro, agora com 785 cavalos de potência, melhorou a sua performance... mas não muito. Nove pontos, seis dos quais tirados do GP da Europa, em Nurburging, deram à marca o sétimo posto no campeonato de Construtores.

Em 2000, as relações entre Prost e Peugeot atingiram o ponto baixo. Com Jean Alesi e Nick Heidfeld como pilotos, o carro tornou-se pouco fiável, não conseguindo qualquer ponto. E as acusações voavam de todos os lados. Prost queixou-se de ter um motor fraco, e a marca do leão divulgou publicamente a sua potência de então: 792 cavalos. Tão bom quando os do meio do pelotão. O problema era outro: o chassis era pouco fiável, tinha pouco downforce e mesmo trocando de projetista a meio do ano - tinha sido Alan Jenkins - o AP03 apenas fez cavar a sepultura da equipa, pois todos os patrocinadores foram-se embora. E a marca do leão decidiu ir também embora, porque na altura, tinha apostando novamente nos ralis, com o 206 WRC... e ganhava campeonatos. 

No final, em sete temporadas e três equipas, foram 14 pódios e uma volta mais rápida. Mas nenhuma vitória. Muito dinheiro deitado fora, sem resultados.  

Mas o V10 da Peugeot ainda andou por aí por mais duas temporadas, como Asiatech, um fundo privado japonês, chefiado por Enrique Scalabroni, primeiro na Arrows, e depois, na Minardi. Chegaram a pensar montar a sua própria equipa de Formula 1, mas no final de 2002, o fundo japonês faliu e o dinheiro deixou de aparecer.  

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comentem à vontade, mas gostava que se identificassem, porque apago os anónimos, por bem intencionados que estejam...