terça-feira, 4 de abril de 2023

O regresso de Fernando Alonso


Três corridas no campeonato, e ninguém nega duas coisas: provavelmente, Max Verstappen está provavelmente a caminho de um terceiro título mundial seguido, e Fernando Alonso está a ter a sua melhor temporada numa década. E isso, aos 41 anos e na sua terceira temporada de regresso à Formula 1, 22 após a sua chegada, pela modesta Minardi, é um marco na sua longevidade e na sua competitividade. 

Contudo, quem assistiu ao seu regresso, em 2021, pela Alpine, era mais o contrário. O terceiro posto no GP do Qatar pode ter sido calorosamente comemorado, mas foi mais um oásis no deserto que algo consistente. Agora, em 2023, este inicio a temporada na Aston Martin tem mais essa consistência que muitos desejavam e parecia que não iriam ver mais, porque como é certo, não está mais para novo.   

Em termos estatísticos, creio que em todos os regressos, Alonso apenas é batido por Niki Lauda, que ganhou um campeonato do mundo de pilotos em 1984, e ao longo das quatro temporadas que fez na McLaren, ganhou 11 corridas, conseguiu 15 pódios e oito voltas mais rápidas. Michael Schumacher, que reentrou pela Mercedes em 2010 - e cheguei a ler na altura artigos em que se temia pela carreira de Nico Rosberg! - apenas conseguiu um pódio e uma volta mais rápida, e Nigel Mansell, que aos 42 anos, triunfou no GP da Austrália de 1994, apesar de haver cartazes dos seus conterrâneos afirmando que "é altura de dar as chaves ao David Coulthard", porque acreditava-se naquele tempo que, com aqueles Williams, qualquer um com a Super-Licença arriscava a ser campeão...  


Mas pergunta-se: como é que o piloto das Asturias consegue ser muito melhor que, por exemplo, Michael Schumacher? Ao contrário do piloto alemão, Alonso não deixou de estar ativo no automobilismo. Correu nas 500 Milhas de Indianápolis, adaptando-se ao carro, embora os resultados tenham sido modestos - a sua não-qualificação de 2019 foi apenas um escândalo para aqueles que foram apanhados desprevenidos - e pelo meio, ao serviço da Toyota, triunfou por duas vezes nas 24 Horas de Le Mans, mais o título Mundial de Endurance, embora não tenha tido concorrência na classe Hypercar. E ainda fez uma incursão no Rally Dakar, em 2020, onde a sua rapidez e inconsistência deram nas vistas. Só faltou ter feito NASCAR, Ralis e a Formula E, mas o seu mediatismo foi o suficiente para, até, retirar um pouco a sua aura de arrogância e egoísmo, para passar um pouco de humanidade. Ganhou uma aura de piloto "all-rounder", algo que já não se bê há muito, e mostrou que há automobilismo para além da Formula 1, num mundo crescentemente mediatizado.    

Claro, não posso deixar de pensar que o piloto espanhol poderá ter tido um pouco de sorte. Com a retirada de Sebastian Vettel da equipa, no final do ano passado, e o facto de ele ter aceite quase de imediato o convite de Lawrence Stroll para correr no lugar dele, nada indicava que a Aston Martin tivesse o ganho de performance que acabou por ter nesta temporada. Aliás, há quem tivesse dito de forma abafada que teria feito uma passagem "de cavalo para burro" com a sua saída da Alpine. Afinal, do que vemos, não só vulgarizou facilmente Lance Stroll - apesar de ele ter o seu melhor começo de temporada de sempre, é um "peso pluma" - mas neste momento, a equipa de Silverstone é a segunda no campeonato de Construtores, atrás apenas da - aparentemente inalcançável - Red Bull.


Evidentemente, tudo está no começo. São 24 corridas, mas apenas estes três pódios deram ao piloto espanhol um lugar especial no panteão da marca no automobilismo. É o piloto com mais pódios, igualou a melhor posição de sempre na grelha de partida - um segundo lugar em Jeddah, algo que não acontecia... desde 1959 - e claro, já bateu o recorde de Sebastian Vettel em 2021, quando conseguiu 43 pontos. Os três pódios já lhe deram 45, portanto... sabemos lá quanto alcançará este ano. Como disse em cima, Alonso está a ter a sua melhor temporada em uma década, e ninguém tem ideia o que fará com este carro, e se as suas evoluções o manterão na crista da onda. 

É por isso que ainda falta "aquilo" do qual poderemos afirmar que tentará um terceiro título mundial: um triunfo. Tem consistência e velocidade, é certo. Mas ainda não está num carro vencedor. Quanto muito, andará a par dos Mercedes, candidatos ao segundo lugar. Considerando o que era aquele carro em 2022, já é muito bom.     

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