quarta-feira, 26 de julho de 2023

O que vêm aí para Spa-Francochamps


O Circuito de Spa-Francochamps é, como todos sabem, dos melhores e mais desafiantes da Europa e do mundo. Mas quem também a conhece, sabe que a pista, situada no coração das Ardenas, perto de Malmedy e da fronteira alemã, situa-se numa zona húmida e as possibilidades de chuva são frequentes. 

E este fim de semana não fugirá à regra: segundo o boletim meteorológico, sexta, sábado e domingo está prevista chuva, com trovoada no sábado, e no domingo, as chances de pluviosidade são mais baixas, mas presentes.  

Spa-Francochamps não foi desenhado por Hermann Tilke: aliás, é um dos circuitos mais antigos do mundo, corre-se há quase um século e na primeira versão, tinha 14 quilómetros, desenhados entre estradas nacionais. Apenas em meados dos anos 70 que se construiu uma versão que encurtou em metade da extensão, com uma parte construída de raiz, entre Les Combes e Staevlot, e que inclui as curvas de Pouhon. Ou seja, ficaram sítios como La Source, Eau Rouge e Radillon. 


Ora, neste final de semana, teremos uma Sprint Race no sábado à tarde, o tal dia onde se prevê trovoadas. Com pilotos que não tem qualquer intenção de levantar o pé, mesmo que chova a cântaros, lembro de duas situações recentes: a corrida de 2021 e o acidente deste ano, onde numa corrida da Formula Regional Europeia, o neerlandês Dilano van't Hoff sofreu um acidente mortal na reta Kemmel, pouco depois do Radillon. 

A Formula 1 vive num dilema - e também nós, bem visto. Sabemos que, desde há algumas semanas para cá, alguns pilotos já pediram que a organização redesenhe a Eau Rouge para ser mais apertada, abrandar a velocidade dos carros e assim evitar acidentes graves porque ali, naquele ambiente florestal, as gotículas permanecem no ar depois da passagem dos carros, dificultando ainda mais uma situação já dificil.

Mudar o desenho da pista é complicado, pelo menos para já. Mudar "em cima do joelho" como fizeram em 1994, no rescaldo dos acidentes de Imola e Mónaco, não cai muito bem nos fãs, mas foi a medida possível no curto tempo que tiveram. Mas também, uma prova como a de 2021, ainda fresca na memória dos fãs, não é algo aconselhável. Então, que pensar, que fazer?

É que, parecendo que não, escrevo isto com a memória de outra corrida: Suzuka 2014. A corrida que não deveria ter acontecido à hora que aconteceu, por muito que digam que foram os organizadores que obrigaram a isso. Quem não se lembra, digo numa frase: foi a corrida que tinha um tufão em cima deles e que acabou com o acidente mortal de Jules Bianchi


A FIA, a Formula 1 e a organização andarão com pinças neste fim de semana. Muito provavelmente farão de tudo para que a segurança seja uma prioridade. E se andarem 43 voltas atrás do Safety Car, andarão. Claro, os fãs dirão que será uma farsa. Afinal de contas, há quem ache que essa corrida deveria ter sido anulada. Mas... e se tivermos um Antoine Hubert ou um van't Hoff no fim de semana, mesmo num acidente numa das corridas de suporte, como a Formula 2 ou a Formula 3, seria uma tragédia evitável?

Já entenderam que não há um meio-termo, pois não? É verdade. Se calhar, a única solução possível é aquela que o Jean-Marie Balestre disse, certo dia: "a melhor decisão é a minha decisão". Se querem farsa, é isso que teremos e eles suportam melhor as criticas dos fãs e da imprensa. E se calhar seria a melhor, porque do outro lado, as coisas seriam menos suportáveis. E as alterações na pista ainda seriam mais dolorosas para os fãs, porque achariam que a "pureza" e o "desafio" do automobilismo seriam mutiladas. 

Sobre essa última parte, eu direi apenas: isso já aconteceu, no dia em que cortaram Spa para metade. E nos adaptamos bem com isso. 

Para finalizar: desejo o melhor para todos. Que seja um fim de semana sem problemas de maior. 

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